A Agência Espacial Europeia (ESA) pretende lançar em 2028 o rover Rosalind Franklin para encontrar evidências de vida passada em Marte — especificamente em Oxia Planum, uma planície rica em minerais de argila que se formaram na água bilhões de anos atrás. Até lá, pesquisadores têm avaliado locais de exploração onde as chances de encontrar moléculas orgânicas será maior. E dois novos estudos indicam que o rover não precisará viajar muito para identificá-las.
Um deles descreve como a identificação de 258 quedas de rochas na região do local de pouso oferece a oportunidade para o rover explorar material anteriormente inacessível. O outro revela como argilas ricas em matéria orgânica em Oxia Planum podem ter se originado em outros lugares de Marte e sido depositadas por uma série de inundações há mais de 3,5 bilhões de anos.
As pesquisas foram apresentadas nesta semana durante uma reunião conjunta do Congresso de Ciências Europlanet e da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, realizada em Helsinque, Finlândia.
Em busca do inacessível
Imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter da NASA identificaram deslizamentos de rochas em Oxia Planum em encostas íngremes de crateras, montes e penhascos. Muitas das pedras trazidas ao solo de uma profundidade de 500 metros têm menos de 2,5 metros, com até 8 metros de largura.
“Temos motivos para acreditar que novos deslizamentos de rochas podem ser muito comuns”, disse a Dra. Aleksandra Sokołowska da Brown University nos EUA, que realizou a pesquisa em parceria com o Imperial College London. “A descoberta de quedas de rochas em Oxia Planum abre a possibilidade empolgante para o rover aumentar a diversidade de suas amostras com material que de outra forma seria inacessível”.
Em teoria, as rochas estão parcialmente protegidas da radiação que inunda Marte vinda do espaço, o que aumenta as chances de moléculas orgânicas sobreviverem intactas nelas. A terra deslocada também pode fornecer uma nova fonte de amostras para o rover.

(Imagem: Aleksandra Sokołowska/NASA/HiRISE)
Segundo a pesquisa, a ocorrência de desmoronamentos parece estar ligada às condições das crateras de impacto, com fraturamento do solo e distribuição de material solto nas encostas. “Outros fatores que contribuíram para os deslizamentos podem incluir tensões térmicas ou erosão fluvial precoce, mas uma origem tectônica parece improvável”, explicou Sokołowska.
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Os segredos da argila marciana
O rover também vai buscar argilas em paredes das crateras de Oxia Planum que podem preservar moléculas orgânicas, muitas das quais são precursoras dos blocos de construção da vida, segundo a pesquisa apresentada por Ananya Srivastava, da Universidade de Western Ontario, no Canadá.
Crateras em altitudes mais baixas tendem a apresentar camadas laranja e azul mais espessas do que aquelas em altitudes mais elevadas, e, em geral, a espessura média dessas camadas aumenta na encosta das antigas terras altas a noroeste de Oxia Planum, sugerindo que as argilas podem ter se originado em outro lugar. A hipótese mais provável é que tenham sido levadas por rios que corriam das terras altas.
Além disso, as múltiplas camadas indicam que pode ter havido explosões cíclicas ou transitórias de água que se espalharam para Oxia Planum há cerca de 3,5 bilhões de anos, antes de Marte perder completamente sua água líquida. As repetidas camadas contendo argila podem, portanto, ser uma assinatura do antigo clima e das condições geológicas de Marte, oferecendo pistas sobre como o planeta evoluiu no início de sua história.

(Imagem: Ananya Srivastava/NASA/HiRISE)
“As argilas poderiam registrar uma gama muito maior de condições climáticas marcianas antigas do que se acreditava anteriormente, caso viessem de diferentes regiões de origem”, disse Srivastava. “Essa diversidade de ambientes aumenta a probabilidade de que moléculas orgânicas tenham sido preservadas em condições favoráveis, aumentando as chances de fazer a descoberta mais emocionante – pistas para a vida fora da Terra.”