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sexta-feira, setembro 5, 2025

Bionegócios ficam mais perto da floresta

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A Amazônia assiste a um crescente movimento de novos biohubs, parques tecnológicos, incubadoras de startups e bioindústrias comunitárias que impulsionam a bioeconomia longe das capitais. No cenário já sob impactos das mudanças climáticas, a interiorização dos ambientes de inovação faz surgir uma geração de talentos mais próximos da floresta, no desafio de remodelar o padrão de desenvolvimento. A expansão do chamado “ecossistema” de bionegócios, marcada pelo descolamento dos grandes centros da região, é refletida nas demandas – cada vez mais numerosas – mapeadas pelos principais programas de mentorias, apoio técnico e acesso a capital que visam levar boas ideias ao mercado.

“Isso resulta de uma linhagem de empreendedores mais capilarizada, que também inclui uma forte presença de mulheres na liderança – e essa diversidade de perfis e culturas é crucial, pois amplia perspectivas e proporciona soluções mais adaptáveis às complexas realidades locais”, aponta Janice Maciel, coordenadora executiva da plataforma Jornada Amazônia, da Fundação Certi. Em três anos, a iniciativa capacitou 3 mil talentos, com criação de 140 novos negócios na bioeconomia amazônica.

Em 2024, a demanda do interior da Amazônia na plataforma aumentou 30%, originada em 113 municípios. Na modalidade de programa que fornece capacitação, suporte e recursos financeiros não reembolsáveis, quase metade (46%) da procura veio de fora das capitais, em 2025. Em três anos, mais de mil demandas no Jornada Amazônia chegaram do interior, com curva ascendente na corrida por inclusão socioeconômica sem depender de atividades que desmatam.

“O desafio reside em assegurar apoio contínuo e de longo prazo, e recursos adequados para que esses talentos superem as diversas fases de maturidade de seus negócios, garantindo o impacto positivo”, ressalva Maciel.

Excluídas as capitais, Santarém (PA) lidera o ranking dos municípios amazônicos que demandam apoio a startups – todos com índices sociais e de vulnerabilidade climática abaixo da média nacional. Lá foram mapeadas 137 iniciativas em busca de aprimorar inovações, como a startup Ekilibre, que nasceu em Alter do Chão, a 36 km da sede do município, e hoje prospera no mundo dos cosméticos orgânicos e veganos – como o protetor solar com princípios ativos da Amazônia. “Empreendedores da região não precisam buscar uma causa; já fazemos parte dela”, ressalta Bruno Canavarro, CEO da empresa, na expectativa de aumentar em 40% o faturamento com a construção de uma segunda fábrica.

Em dois anos, Inova Amazônia impulsionou mais de mil startups

A nova unidade será instalada em Manaus, com investimento de indústrias da Zona Franca – exemplo no qual o sucesso no interior leva ao movimento no sentido inverso, para atingir voos mais altos nas capitais. Em nota, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) afirma que tem apostado em soluções baseadas em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para superar dificuldades históricas relacionadas à Amazônia, sobretudo quanto à insuficiência de infraestrutura logística e produtiva que muitas vezes impede agregar valor de forma substancial aos bioativos da região. A estratégia compõe o Plano de Integração Regional e Interiorização do Desenvolvimento, com resultados na desconcentração dos investimentos para outros municípios. Os recursos de PD&I obrigatórios pela Lei de Informática atingiram R$ 1,5 bilhão em 2024 e, hoje, 73 dos 169 institutos tecnológicos credenciados pela Suframa estão fora da capital, com o desafio de olhar também para a bioeconomia.

“É preciso aproximação com atores locais para soluções focadas nas dores reais do campo”, aponta Carlos Koury, diretor de inovação em bioeconomia do Idesam. Em Lábrea (AM), município sob pressão do desmatamento, a ONG capacitou uma cooperativa local de indígenas e ribeirinhos, a Aspacs, para processar resíduos da castanha-do-brasil fornecidos à produção de bioplástico em Manaus. Em conexão com demandas do interior, a capital amazonense acolhe novos hubs e parques tecnológicos, a exemplo do Bioamazônia Tech Park, prevendo estruturas de beneficiamento de insumos da floresta compartilhadas por startups.

“A Amazônia descobriu na inovação transformada em negócios um novo caminho para o desenvolvimento econômico e social, mas é necessário ir além do fornecimento de insumos básicos”, afirma Thiago Gatto, analista de mercados do Sebrae, que na iniciativa Inova Amazônia impulsionou mais de mil startups de bioeconomia, em dois anos. Cerca de 2 mil se inscreveram no programa, com participação crescente das localizadas no interior.

“Há uma demanda reprimida a ser atendida, em cenário de oportunidades e maior motivação para empreender”, analisa Gatto. Um dos fatores está em mudanças na academia, que “deixa de olhar apenas a geração de papers científicos e passa a desenvolver produtos inovadores para transferir ao mercado”. Em Belterra (PA), às margens do Tapajós, a recente criação do Oka Hub pelo Sebrae é termômetro dessa efervescência, com dez empreendedores incubados para acelerar negócios, em especial novos fármacos e alimentos, a partir de insumos amazônicos.

Já em Macapá (AP), as atenções se voltam ao projeto do Foz do Rio Amazonas Tech Park, o primeiro parque tecnológico do Estado, que nasce da revitalização do antigo Hotel Macapá – prédio histórico desativado por mais de dez anos que agora se transforma em polo de ciência e empreendedorismo. Localizado na orla da capital, o empreendimento mobiliza aportes de R$ 27 milhões, desviando os holofotes do eixo Belém-Manaus. Do total, R$ 8,2 milhões foram captados junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), destinados à infraestrutura e serviços do parque, a ser ocupado por dezenas de startups, empresas e instituições tecnológicas.

Da biotecnologia aos sistemas alimentares, economia digital e turismo ecológico, os setores prioritários se alinham às vocações do Estado, com alta cobertura de florestas nativas bem conservadas. Na visão de Edivan Andrade, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação do Amapá, a iniciativa “será um instrumento consistente de suporte ao setor produtivo para promover o desenvolvimento regional com base na inovação”.

“O convívio com a escassez, devido ao isolamento geográfico, favorece maior resiliência na hora de fazer negócio”, enfatiza Frank Portela, CEO da AmazonCure, startup que recebeu investimento de R$ 3 milhões para se instalar no novo parque, com meta de triplicar a atual receita após o início da produção de fitoterápicos de ponta – um deles à base de jambu, voltado à saúde sexual.

[Fonte Original]

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