China vê lucro na sustentabilidade, enquanto EUA recuam, afirma presidente da COP30

Lago está em Nova York, cidade-sede de uma série de eventos sobre clima que começaram nesta semana e se estende pela próxima. Nova York também receberá líderes de todo o mundo na Assembleia Geral das Nações Unidas, que terá sua abertura na terça-feira (23), com o pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O governo americano muito claramente está desenvolvendo uma agenda que não é favorável ao combate da mudança do clima”, disse o embaixador a jornalistas nesta sexta-feira (19) na Universidade de Columbia, onde foi um dos participantes do encontro “Brazil Climate Summit”.

Ele não tem dúvidas das consequências da posição americana de deixar o Acordo de Paris e de outras medidas que marcaram um recuo do país em relação ao clima.

“A gente viu grupos financeiros que estão diminuindo o comprometimento com projetos para energia limpa e combate às mudanças climáticas”, disse ele.

Em outra frente, europeus aumentaram seus orçamentos de Defesa diante da posição americana de reduzir seu apoio nessa área – deixando menos recursos do velho continente para clima e outras agendas.

“É um momento realmente em que estão sendo apresentadas certas dificuldades”, disse. “Há uma reação daqueles que estão vendo essa agenda avançar de maneira muito intensa”.

Na Casa Branca desde janeiro, Trump tem adotado medidas que revertem políticas em diversos campos – das controversas novas tarifas contra importados a temas de saúde pública.

“O presidente Trump está fazendo coisas surpreendentes em muitas áreas. Então, as reações estão começando a chegar aos poucos. Você tem o tema da vacina, o tema da guerra, o tema do clima. Você tem tantos temas que estão sendo muito questionados por esse governo e eu acho que está todo mundo ainda meio num efeito de início de governo. Pouco a pouco, vai começar a ter certas reações e certas consequências.”

Para Corrêa do Lago, o momento marca também as diferenças entre as duas maiores economias do mundo.

“A questão do clima é, e é por isso que os Estados Unidos estão reagindo, profundamente econômica. E a reação dos Estados Unidos é por causa do impacto que essa agenda tem sobre os fósseis, que eles favorecem, e sobre outras dimensões da economia.”

O embaixador lembra que a despeito da decisão dos EUA de deixar o Acordo de Paris, nenhuma outra nação seguiu este caminho. E o principal adversário estratégico dos EUA, a China, ocupa exatamente o polo oposto.

“Estamos diante de uma situação interessante, porque a China abraçou essa agenda e está com as tecnologias mais avançadas e com os resultados mais impressionantes”, disse ele.

“Então, você está tendo realmente as duas maiores economias do mundo, uma pisando o acelerador da sustentabilidade, ou seja, do combate à mudança do clima, porque eles viram que economicamente é muito bom, e o outro que está pisando o acelerador para uma economia de fósseis, que é uma economia tradicional”, definiu o embaixador.

Ao falar da presença de representantes de países na COP da Amazônia, o embaixador disse que a expectativa é que todas as delegações estejam presentes, embora com um número menor de representantes. Apesar de algumas medidas do governo federal, para garantir um mínimo de hospedagens a todos, os preços das diárias seguem sendo um obstáculo.

“A coisa é que os preços realmente são inexplicáveis”, definiu ele. “Nas outras COPs, a média é que duplica ou triplica o preço dos quartos. Em Belém está 10 a 15 vezes [mais caro].