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domingo, setembro 7, 2025

Crítica | Wandinha – 2ª Temporada – Plano Crítico

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Eu achei que eu era tudo que ela queria numa melhor amiga. Sarcástica, sardônica, com a mesma estética sombria e neogótica. – Agnes (a maior fã da Wandinha dentro da série)

Wandinha, Segunda Temporada, vai contar a história da volta às aulas na escola Nervermore para pessoas chamadas de Rejeitados, depois dos eventos investigativos e amorosos de Wandinha Addams. E agora, mais do que nunca, ela vai ter lidar com a fama (metalinguagem) e com a família dentro da escola, enquanto tenta escrever seu livro e fazer suas investigações.

Se passaram três anos desde a primeira temporada, e a pergunta de alguns espectadores é: eu ainda me importo com essa história da filha famosa da família Addams? A segunda temporada busca responder diretamente a essa questão, entendendo que o público talvez não se interessasse pela protagonista da mesma forma, ainda mais depois da sua fama fora das telas, especialmente com adolescentes.

A resposta direta a isso aparece nas três dinâmicas novas que Wandinha precisa lidar, e a Netflix tenta adivinhar que seria vantajoso abordar com a marca Tim Burton: a relação matrilinear da Família Addams, o conflito entre os Desajustados e os Normais e a origem da Mãozinha. Esses três temas lidariam com a reação do público da primeira temporada, porque tornariam Mortícia mais protagonista (para quem queria ver mais Família Addams), o tema do Tim Burton mais literal (em seus filmes sempre há o contraste entre o estranho colocado no mundo normal) e tornariam a publicidade da mão mais importante (o estalo e o ícone da mão se mexendo são identidade visual da série e da família Addams).

Nisso, Wandinha perde força como protagonista, reativa ao normal, com menos contraste, já que ela está popular. Isso serve, na verdade, para toda a série, em que as dinâmicas estranhas parecem naturalizadas. É a máxima ironia da carreira de Tim Burton, que sempre luta pela minoria desajustada da sociedade, mas acaba se tornando um publicitário que lucra em cima do circo da estranheza. Isso é bem representado na figura do diretor Dort (pelo excelente Steve Buscemi), que se utiliza das sereias para fazer da Escola uma grande empresa dos excluídos contra os normais.

Mas o que torna isso mais triste é a graça se perder justamente quando Mortícia, Gomez e Feioso são mais participativos na série. O plano original da família ser a inversão satírica e mórbida da família do modo de vida americano ideal se fragmenta na seriedade da série ao se propor, ainda, um grande whodunit que abarque todos os temas. E talvez esse seja o grande problema dessa segunda temporada.

A cada evento situacionista, que torna a série episódica, especialmente na primeira leva dos quatro primeiros episódios entregues pela Netflix, soa como uma grande enrolação planejada. O que foi aquele momento “torneio tribruxo” ou “acampamento puro sangue” no episódio três, no Acampamento Jericho? Quebrando o clima, na tentativa de humor, e atrapalhando o suspense, mediante a seriedade que a série tenta trazer; o clima da primeira temporada retornando parece mais atrapalhar do que continuar a caracterizar Wandinha. Por isso ela perde espaço, sobrando mais momentos para a Família Addams.

E aí está o que ainda mantém os bons momentos. Mortícia alimenta bem a trama de confrontar Wandinha, reagindo à inconsequência adolescente, embora seja difícil equilibrar isso com o humor típico da família. Isso se preserva mais em Gomez e em Feioso, em que ambos ganham importância na história com um zumbi chamado Slurp. E a Mãozinha ganha ainda mais em suas micro-histórias paralelas que vão somando uma narrativa mais emocionante que qualquer dinâmica entre Enid e Wandinha.

Apesar disso, Enid cresce como personagem, não apenas pela sua narrativa com sua alcateia de lobos e seu namoro com outro lobisomem, mas porque ela representa ainda mais os erros de Wandinha como personagem. O momento Se Eu Fosse Você, com Wandinha trocando de corpo com Enid no episódio seis, sacramenta de vez a amizade delas, como resolve vários buracos narrativos. Felizmente, a série consegue suturar feridas abertas durante a temporada sobre sua protagonista na relação com os personagens.

Se o clima de investigação se torna elo frágil para as subtramas, elas também não embarcam num novelo de melodrama para revelações, ou na narração literária de Wandinha como apelo. Na verdade, as conclusões dos mistérios e das reflexões de Wandinha por vezes servem à sua simplicidade de puramente fazer a história andar, ou criar ambiguidades legais para as decisões equivocadas da personagem. Pois, no final, ela está sendo a perseguida, muito mais que a investigadora.

A grande reviravolta em migalhas da segunda temporada é tornar Wandinha uma espectadora do que ela criou na primeira temporada. Ela não tem mais seu momento de dança no baile, e nem salva ninguém de fato dos grandes perigos. Em certo momento, os diretores dos episódios, e especialmente Burton, só querem ver a reação de Jenna Ortega, muito mais que vê-la em ação. Ela perde duelo de esgrima, é enfeitiçada por uma sereia e quase morta pelo seu ex-namorado (mais uma vez). A protagonista vira passiva, afinal.

Nisso, a segunda temporada é menos orgulhosa que Wandinha quanto aos seus sentimentos, abraçando literalmente a evolução de um zumbi após tanto comer cérebro como um terror, e entrega na metade da temporada o mistério dos corvos que introduzem o mistério de assassinato nesse segundo ano. Muitos personagens morrem sem dó, e a fotografia coloca sempre os personagens no centro da tela para que qualquer diálogo seja importante, sem muitas segundas intenções profundas. Isso, por um lado, fragiliza muito a série, ainda quando quer dramatizar mortes e soluções de mistérios.

No entanto, vale ressaltar que os dramas entre Mortícia e Wandinha, de Enid com ela, ou da Mãozinha, acabam ganhando por conseguirem quebrar a expectativa em suas resoluções. A essência da Família Addams é ser irônica, e a série, durante toda a sua escolha visual, de certo modo foge dessa ironia, sem muito espaço, também, para ela se desenvolver fora de foco. Tim Burton consegue crescer essa ironia e a graça nos dois últimos episódios, provando que o roteiro acumulou bem alguns desenvolvimentos.

Por fim, ainda assim é infeliz como a segunda temporada busca dar importância aos Addams, com flashbacks e antigas histórias da escola Nevermore, rivalizando com uma família ainda mais estranha, mas elabora os contrastes para que a vilania tenha o mesmo efeito que Tyler teve no primeiro ano. Se a proposta era criar um grande embate entre a família de Tyler contra a Família Addams, a falha é evidente.

O que salva, verdadeiramente, e que de fato reveste de novidade a cultura pop é conhecer a origem da Mãozinha. Entre Desajustados e Normais, o que mais poderia ser Tim Burton nessa série toda “Netflixada” é a Mãozinha ser mais e mais protagonista. Não há mais barato e cinema B que isso. Não há mais Família Addams que isso. E por que não? A segunda temporada responde ao público: a Mãozinha pode te importar mais que a protagonista.

Afinal, se a fã adolescente, representada na Agnes, tem suas dificuldades de ser amiga da ídola Wandinha por não conseguir ser ela mesma, a Mãozinha é sua parceira até o fim para dizer que a “parte é mais importante que o todo”. É a frase que serve para a segunda temporada em seus momentos bons.

Wandinha (Wednesday) – 2ª Temporada (1ª parte: EUA – 06 de agosto / 2ª parte: EUA – 03 de novembro de 2025)
Criação: Alfred Gough, Miles Millar
Direção: Tim Burton, Paco Cabezas, Angela Robinson
Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar, Matt Lambert, Valentina Garza, James Madejski
Elenco: Jenna Ortega, Gwendoline Christie, Riki Lindhome, Jamie McShane, Hunter Doohan, Percy Hynes White, Emma Myers, Joy Sunday, Georgie Farmer, Naomi J. Ogawa, Christina Ricci, Johnna Dias-Watson, Oliver Watson, Victor Dorobantu, Moosa Mostafa, Luyanda Unati Lewis-Nyawo, Daniel Himschoot, Iman Marson, Calum Ross, Isaac Ordonez, Luis Guzmán, Catherine Zeta-Jones, Billie Piper, Evie Templeton, Steve Buscemi, Owen Painter
Duração:  Em média 50 minutos por episódio (aproximadamente 400 minutos)



[Fonte Original]

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