O Banco Central (BC) aumentou sua projeção para o rombo nas contas externas brasileiras em 2025 para US$ 70 bilhões, de US$ 58 bilhões, de acordo com o Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre divulgado nesta quinta-feira.
O BC também apresentou sua primeira estimativa para 2026, que é de um déficit de US$ 58 bilhões. “A pressão nas contas externas deve começar a mostrar algum alívio em 2026, com expectativa de que as importações se mantenham em patamar similar ao projetado para 2025”, afirma.
A autoridade monetária ponderou que “os riscos para o cenário se mantêm elevados, principalmente em virtude das incertezas associadas às disputas no comércio internacional”.
O BC afirma esperar “um cenário mais pressionado” e “adverso” para as contas externas em 2025 do que o projetado anteriormente, observando que um déficit de US$ 70 bilhões seria o maior desde 2014.
O BC espera, no entanto, que o fluxo líquido de entrada de investimento direto no país (IDP) iguale esse valor. “A boa perspectiva para as exportações, em especial para setores que ficaram de fora das recentes medidas tarifárias americanas deve favorecer os aportes de capital estrangeiro em empresas no país. As entradas líquidas de IDP representariam 3,1% do PIB, patamar próximo ao observado desde 2021 e ligeiramente inferior ao da década anterior à pandemia (3,7%)”, afirma o BC.
Em 2026, o IDP deve manter-se estável em US$ 70 bilhões, o que representaria um patamar de 2,8% do PIB, um pouco inferior ao de 2025. O IDP do próximo ano deve ser “afetado negativamente pelas incertezas em relação às medidas comerciais tomadas pelos EUA contra o Brasil”, diz o BC.
O aumento do déficit projetado para 2025 está associado a expectativas de rombos maiores nas contas de serviços e rendas, além de saldo comercial menor (US$ 54 bilhões, de US$ 60 bilhões).
O valor projetado para as exportações foi marginalmente revisto para baixo (para US$ 338 bilhões, de US$ 340 bilhões), mantendo-se a expectativa de aumento moderado no volume exportado, diz o BC. “A safra recorde de grãos tem sido parcialmente compensada pela queda nos preços internacionais das commodities. Exceções importantes são o café e a carne bovina, cujos preços internacionais devem permanecer elevados. Os ganhos no volume exportado desses produtos, no entanto, devem ser limitados, em razão do impacto direto da política tarifária americana vigente desde agosto de 2025”, afirma.
Por outro lado, a projeção para as importações foi revista para cima (para US$ 285 bilhões, de US$ 280 bilhões), incorporando surpresa positiva no volume importado, que, segundo o BC, se mostrou “um pouco mais resistente à desaceleração da atividade doméstica do que o previamente esperado”. Além disso, diz, contribuiu para essa revisão a expectativa de importação de uma nova plataforma de petróleo ainda em 2025.
A projeção para o déficit na conta de serviços em 2025 foi revista para um rombo maior (US$ 53 bilhões, de US$ 50 bilhões), refletindo principalmente o aumento nas despesas com transportes, associado ao aumento das importações, além de gastos mais elevados com aluguel de equipamentos, aponta o BC.
Na conta de renda primária, também se espera déficit maior (de US$ 73 bilhões, ante US$ 70 bilhões). “Parte importante da mudança se deve à revisão estatística que reduziu as receitas de lucros em 2025, aumentando as despesas líquidas de lucros e dividendos”, diz o BC.
Já a projeção de despesas com juros se manteve em US$ 30 bilhões. A perspectiva de corte da taxa de juros americana pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), reduzindo os juros de captações de empresas brasileiras no exterior, deve afetar pouco essas despesas ainda em 2025, segundo o BC.
A projeção para os investimentos em carteira foi mantida em US$ 5 bilhões. “Se, por um lado, o aumento da incerteza no cenário global pesa negativamente no fluxo de capitais para o país, o afrouxamento da política monetária nos EUA deve acentuar o diferencial de juros, aumentando a atratividade de títulos brasileiros”, afirma o BC.
As projeções para as contas externas em 2026 incluem redução do déficit em transações correntes para US$ 58 bilhões (2,4% do PIB).
O BC espera um aumento do saldo comercial (US$ 61 bilhões) em relação a 2025 – com expansão das exportações (US$ 345 bilhões) e estabilidade nas importações –, acrescido de pequenos recuos dos déficits nas contas de serviços (US$ 51 bilhões) e renda primária (US$ 72 bilhões), resultantes do menor dinamismo da atividade econômica doméstica.
O crescimento esperado para o valor exportado deve resultar de maior quantidade, concentrado na indústria extrativa, especialmente petróleo, diz o BC. “Por sua vez, espera-se que os preços de exportação fiquem relativamente estáveis em relação a 2025”, afirma.
Já nas importações, diz, a tendência estrutural de aumento – especialmente nas
compras de bens intermediários – deve ser contrabalançada pela continuação do arrefecimento da demanda doméstica e pela redução no valor importado de plataformas de petróleo.
Na conta de renda primária, a pequena redução do déficit deve refletir menores despesas líquidas com lucros e dividendos, em contexto de desaceleração da atividade doméstica, aponta o BC. “Para os juros, a estabilidade deve advir de um custo médio mais baixo do estoque de títulos emitidos, resultante do afrouxamento da política monetária nos EUA, contrabalançado pelo aumento desse estoque em relação a 2025”, afirma.
Para os investimentos em carteira, a entrada líquida deve ser mais uma vez moderadamente positiva e concentrada em títulos, favorecida pelo diferencial de juros, aponta o BC.