Embora o mercado já esperasse uma deterioração do mercado de trabalho americano, os números fracos e abaixo do consenso do “payroll” levaram os ativos americanos a caírem de forma generalizada nesta sexta-feira (05). As bolsas de Nova York chegaram a operar em alta, diante da expectativa de consolidação de um corte pelo Federal Reserve (Fed), mas o breve otimismo se dissipou e as preocupações com a desaceleração da atividade tomaram conta. Os juros dos Treasuries e o dólar exibiram forte queda durante toda a sessão.
O índice Dow Jones fechou em queda de 0,48%, aos 45.400,86 pontos; e o S&P 500 cedeu 0,32%, aos 6.481,50 pontos. O Nasdaq perdeu 0,03%, aos 21.700,39 pontos.
O rendimento da T-note de 2 anos caía para 3,528%, de 3,598% no fechamento anterior, próximo às 17h30 (horário de Brasília). A taxa da T-note de 10 anos cedia para 4,092%, de 4,162%, enquanto os juros da T-bond de 30 anos iam para 4,77%, de 4,857%. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente à seis moedas fortes, tinha queda de 0,53%, aos 97,77 pontos.
Os Estados Unidos criaram 22 mil empregos em agosto, abaixo das 75 mil vagas previstas por alguns analistas. A taxa de desemprego subiu para 4,3% em agosto, de 4,2% em julho, em linha com o consenso. Os números confirmaram a deterioração do mercado de trabalho vista no “payroll” de julho.
Mais do que sacramentar a narrativa de que um corte em setembro seria necessário para tracionar a economia, os dados de agosto levaram o mercado a rever a magnitude do ciclo de afrouxamento monetário. De acordo com dados do “FedWatch Tool” do CME Group, 64,1% apostas agora esperam três cortes até dezembro, de 0,25 pontos-percentuais (p.p.), ante 45,8% dos palpites antes da divulgação. Alguns operadores, inclusive, começaram a ventilar a possibilidade de uma redução de 0,50 p.p.
Essa visão é compartilhada pelo presidente do Queen’s College, Mohamed El-Erian. “Os dados garantem essencialmente um corte de 0,25 p.p. em 12 dias”, disse o ex-CEO da Pimco. “O relatório fraco também reforça a visão de que o Fed deveria ter cortado as taxas mais cedo, principalmente em julho. Pode até mesmo gerar algumas discussões sobre a possibilidade de um corte mais agressivo de 0,50 p.p. na próxima reunião”, acrescentou.
Os economistas do Morgan Stanley, liderados por Michael T Gapen, acreditam que os dados se alinham a um corte de 25 p.p. em setembro, mas inclinam as chances na direção de 75 p.p. em cortes até o final do ano.
“Em Jackson Hole, o presidente Jerome Powell estava preocupado com o aumento dos ‘riscos para o emprego’. O relatório de hoje provavelmente agrava um pouco essas preocupações”, disseram.
A certeza do mercado sobre um corte em setembro, no entanto, ainda não foi sentida por todos os membros do Fed. O presidente da distrital de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou hoje que ainda não está decidido sobre como deve votar em setembro. Embora tenha reconhecido a fraqueza dos números do “payroll”, ele ponderou que ainda é necessário ter atenção ao mandato da inflação.