A reação do governo brasileiro às pressões políticas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem exercendo em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro deu a tônica do pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as comemorações do 7 de Setembro. A fala foi ao ar na noite deste sábado (06). Ele falou sobre democracia, independência entre Poderes, meio ambiente, redes sociais e Pix, todos temas levantados pela administração Trump nas frentes de embate com o Brasil.
“Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém”, afirmou Lula, depois de lembrar que o 7 de Setembro marca o fim do período colonial do Brasil. “Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro.” Acrescentou que o Brasill mantém relações amigáveis com todos os países, “mas não aceita ordens de quem quer que seja.”
O povo brasileiro é o único dono do Brasil, afirmou o presidente. “Por isso, defendemos nossas riquezas, nosso meio ambiente, nossas instituições”, disse. “Defendemos nossa democracia e resistiremos a qualquer um que tente golpeá-la.”
O presidente comentou ser “inadmissível” que políticos brasileiros estejam estimulando ataques ao Brasil. “Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais.” São “traidores”, acrescentou, e “a história não os perdoará.”
Trump elevou as tarifas de importação sobre produtos brasileiros para 50%, alegando que o governo faz uma perseguição política contra Bolsonaro. O ex-presidente é julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O filho do ex-presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem atuado junto ao governo norte-americano para obter sanções contra o Brasil.
Um país soberano, descreveu o presidente, é o que está fora do Mapa da Fome, zera os impostos de quem ganha até R$ 5 mil e taxa os “super-ricos”, cresce acima da média mundial e tem a menor taxa de desemprego de todos os tempos.
São dados usados pelo governo em sua agenda positiva. A isenção para quem ganha até R$ 5 mil ainda não está em vigor. Depende de análise do Congresso Nacional.
Como antecipado pelo Valor, Lula destacou também as megaoperações contra o crime organizado no setor de combustíveis e no setor financeiro deflagradas na semana passada. Um país soberano, disse, é o que tem “coragem de fazer a maior operação contra o crime organizado da história, sem se importar com o tamanho da conta bancária dos criminosos.” Destacou ainda a abertura de 400 novos mercados para produtos brasileiros no exterior.
Em seguida, o presidente abordou temas pelos quais o Brasil é investigado pelo Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) por supostas práticas desleais de comércio.
“Cuidamos como ninguém do nosso meio ambiente”, disse. “Reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia, que em novembro vai sediar a COP-30, a maior conferência mundial.” Um item da investigação é a proteção ao meio ambiente.
“Defendemos o Pix de qualquer tentativa de privatização”, afirmou, referindo-se a outro item listado pelo USTR. “É público,é gratuito e vai continuar assim.”
Afirmou ainda que as redes sociais oferecem informação, conhecimento, trabalho e diversão para milhões de brasileiros, mas não estão acima da lei. Mas “não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discursos de ódio”, afirmou. “Não podem dar espaço à prática de crimes como o golpe financeiro, exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivo ao racismo e à violência contra as mulheres.”
Ressaltou ainda que o Brasil defende sua Constituição e a independência de Poderes nela estabelecida. “Isso significa que o presidente do Brasil não pode interferir nas decisões da Justiça brasileira, ao contrário do que querem impor ao nosso país.”