21.5 C
Brasília
quarta-feira, setembro 17, 2025

Emprego recorde mostra desafio fiscal do país

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Se o Banco Central tiver que esperar o esfriamento do mercado de trabalho para começar a reduzir os juros, provavelmente terá ainda de aguardar um bom tempo. Os números do mercado de trabalho referentes à Pnad-Contínua trimestral, no período encerrado em julho, são superlativos e com vários indicadores no pico da série histórica. É possível que essa também seja a melhor performance no ano, diante da perspectiva de desaceleração gradual das atividades econômicas, causada por enorme taxa real de juros.

O desemprego no trimestre encerrado em julho foi o menor de todos desde que o IBGE começou a calculá-lo da forma atual, em 2012: 5,6%, ante 6,6% de fevereiro a abril. O contingente desocupado atingiu 6,11 milhões de pessoas, com forte queda, de 14,2%, em relação ao trimestre anterior e aumento de 1,2 milhão de postos no ano. Da mesma forma, a população ocupada é recorde — 102,4 milhões de pessoas —, com um salto de 2,4 milhões em um ano. O nível de ocupação (pessoas trabalhando em relação àquelas com idade para trabalhar) atingiu seu maior nível: 58,8%.

O crescimento do mercado de trabalho reduziu o número de desalentados (quem perdeu a esperança de encontrar emprego) e de subocupados (os que gostariam de trabalhar mais horas do que estão trabalhando). Além disso, bateu recorde o número de empregados no setor privado, assim como o de trabalhadores com carteira assinada (39,1 milhões, mais 1,3 milhão de postos). Grande parte da expansão do trabalho com carteira se deve à notável ampliação do emprego público (todos os níveis), que cresceu 3,4% no trimestre (mais 422 mil pessoas), para atingir um total de 12,9 milhões de funcionários.

Em ordem de grandeza, a administração pública, saúde, educação e serviços sociais acrescentaram 522 mil pessoas à força de trabalho, seguidos por informação, comunicações, atividades financeiras, imobiliárias e outras, com 260 mil novos empregados, e agricultura, pecuária, pesca e produtos florestais, com 206 mil postos. Em relação ao mesmo trimestre móvel de 2024, há predominância da indústria na criação de empregos, mas, no agregado, os serviços sobressaem: comércio, transporte e armazenagem, informação e comunicação.

O desempenho do mercado até agora indica por que sua desaceleração não será abrupta e tampouco rápida. Agricultura e pecuária fogem do ciclo normal da economia, têm forte viés exportador e seguem um ritmo próprio, menos dependente de tramas conjunturais. E, embora a indústria não tenha quase crescido no primeiro semestre e deva continuar com baixo desempenho no segundo, o mesmo não está acontecendo com os serviços, como o PIB do segundo trimestre demonstrou. Em qualquer comparação temporal no PIB, há sempre três segmentos de serviços entre os cinco que mais puxaram a atividade. Além de o setor ser o maior empregador do país, é o que tem mostrado maior resistência ao declínio da inflação. No IPCA de agosto, que trouxe a boa notícia da deflação, o dissabor foi dado pelo aumento dos preços dos serviços subjacentes, de 6,14% em 12 meses.

Há sinais de estabilização no emprego em vários setores, um prenúncio de possível retração posterior. É o caso da comparação anual de agropecuária, construção, serviços domésticos, outros serviços e alojamento e alimentação.

A economia tem mantido um bom fôlego graças a estímulos fiscais, aumentos reais do salário mínimo e grande impulso dado à renda pelo aumento da população ocupada. Os salários continuaram até julho a ter ganhos acima da inflação. O rendimento médio real habitual, de R$ 3.484, é o maior da série do IBGE, cresceu 1,3% no trimestre e 3,8% no ano. No trimestre, os salários foram puxados por administração pública, saúde e educação, mas na comparação anual o maior aumento real foi de agricultura (7,2%), construção (7%) e vários serviços, como os domésticos (5%) e informação e comunicação (5,3%).

A massa de rendimento médio real (acima da inflação) no trimestre foi recorde, R$ 352,3 bilhões, com aumento de 6,4% em um ano e 2,5% no trimestre. No governo Lula, há crescimento real da ordem de R$ 50 bilhões até julho. O aumento dos rendimentos do trabalho e as transferências (aposentadorias, pensões, BPC) elevaram bastante a renda disponível bruta das famílias (que inclui todas as rendas, não só salários), de R$ 612,2 bilhões em janeiro de 2023 para R$ 763,8 bilhões em junho passado. Todos os indicadores do mercado de trabalho apresentaram melhora acentuada desde o início do atual governo.

O outro lado da moeda é que a inflação continua longe da meta, com expectativas desancoradas, e a economia cresce acima de seu potencial, algo entre 2% e 2,5%. Os estímulos fiscais e parafiscais do governo se traduziram em endividamento maior. Só o aumento real do salário mínimo trará, por seus efeitos sobre a Previdência e Loas, somados aos juros pagos pelo aumento da dívida, uma carga de R$ 165 bilhões nos quatro anos de mandato de Lula, segundo o economista Fabio Giambiagi (Valor, 15/6). Assim, para esfriar a economia o governo deveria realizar um aperto fiscal, o contrário do que tem feito, e não deixar sozinhos o BC e seus juros exorbitantes realizarem a tarefa.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img