Os juros futuros fecharam o pregão desta terça-feira (16) em queda, com o movimento concentrado na ponta longa da curva a termo, enquanto os investidores aguardam as decisões de juros do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
Sem gatilhos relevantes para os negócios, os bons desempenhos do real e do mercado de renda fixa dos Estados Unidos abriram espaço para a descompressão do prêmio de risco precificado nas taxas nominais, mesmo depois da queda da taxa de desemprego no Brasil ter reforçado a percepção de robustez do mercado de trabalho doméstico.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento para janeiro de 2026 teve leve baixa de 14,895%, do ajuste anterior, para 14,885%; a do DI de janeiro de 2027 cedeu de 13,98% a 13,95%; a do DI de janeiro de 2029 recuou de 13,12% para 13,07% e a do DI de janeiro de 2031 anotou queda firme de 13,36% a 13,26%.
Nos Estados Unidos, a tendência também foi positiva, mas com os títulos do Tesouro americano (Treasuries) de curto prazo desempenhando melhor, antes do provável corte de juros do Fed amanhã. Ao fim da sessão, o rendimento da T-note de dois anos caiu de 3,545% para 3,516%, enquanto o da T-note de dez anos cedeu de 4,044% a 4,029%.
A expectativa pelo reinício do ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos, após vários meses de Fed Funds parados no intervalo de 4,25% a 4,5%, novamente empurrou os mercados de renda fixa a um pregão positivo nesta terça-feira.
Segundo a avaliação de operadores de mercado, a perspectiva de um câmbio doméstico mais valorizado diante do provável aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos nos próximos meses abriu espaço para que os juros futuros caíssem novamente na sessão de hoje, mesmo sem gatilhos locais que justifiquem o movimento.
A queda da taxa de desemprego a 5,6%, nova mínima histórica, no trimestre encerrado em julho apontava para uma sessão de pressão na curva de juros nominais. As taxas de curto prazo até resistiram, inicialmente, à melhora do mercado, precificando uma política monetária ainda bastante restritiva do BC, mas o movimento não se sustentou e todos os vértices da curva a termo fecharam o pregão em queda.
Sobre o Copom de amanhã, a expectativa da maioria dos agentes é por uma reunião sem grandes novidades e um comunicado que deve manter o tom conservador recente do comitê.
“Alterações a essa altura do campeonato poderiam ensejar expectativas em relação ao início do ciclo de cortes de juros, e eu não acho que é o que o BC quer neste momento”, avaliou a ex-diretora do BC e economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Fernanda Guardado, durante participação em live da Warren Investimentos.
Na visão dela, o comportamento ideal do Copom é de se manter firme por ora, a fim de aprofundar os ganhos de credibilidade e o efeito da política monetária restritiva sobre a economia. “Agora, é o momento de não balançar o barco, tocar a bola para o lado e torcer para ninguém prestar muita atenção em você”, resume. Segundo Guardado, a taxa Selic só deve ser cortada em março do ano que vem.
De visão um pouco mais otimista, Raphaela Spilberg, sócia e gestora de renda fixa da Vinland Capital, disse, no mesmo evento, que o modelo de projeção inflacionária do BC já deve indicar um IPCA perto da meta de 3% dentro do horizonte relevante (primeiro trimestre de 2027) entre o fim deste ano e o começo do próximo, o que pode levar a um corte de juros mais cedo do BC. Ainda assim, um eventual ciclo de cortes tratará apenas de reduzir o nível do aperto monetário, e não levar a política do Copom a um campo acomodatício, ressaltou.