Nos últimos meses, a exportação, principalmente para a Argentina, ajudou a manter o ritmo da produção nas montadoras. Mas em agosto, nem o mercado externo foi capaz de compensar a queda de demanda no mercado interno. Dessa forma, com 247 mil unidades, a produção de veículos caiu 4,8% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Para os representantes da indústria, a retração é resultado, sobretudo, do impacto das altas taxas de juros no mercado interno. Somados às restrições de crédito, os juros já vinham afetando fortemente o segmento de caminhões pesados. Mas, agora, começam a prejudicar também as vendas de comerciais leves, um tipo de veículo usado por pequenos comerciantes e empreendedores.
Na divulgação dos resultados de agosto, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) destacou a queda nas vendas de pesados, que tradicionalmente representam 45% do mercado de caminhões no país. A venda de 8,9 mil unidades desse tipo de caminhão no mês ficou 22,6% abaixo do total registrado em agosto do ano passado.
A diminuição de demanda já provoca demissões na indústria. Segundo a Anfavea, a queda da produção de caminhões provocou a perda de 148 postos de trabalho no segmento. Na soma de todas as montadoras de veículos, no entanto, houve aumento de 4,1% na taxa de emprego, que soma 110 mil trabalhadores.
No caso dos comerciais leves, como picapes e vans, as vendas estão em queda há dois meses. Em agosto, o licenciamento de 42,4 mil unidades representou uma retração de 19,1% na comparação com o mesmo mês de 2024.
Segundo Igor Calvet, presidente da Anfavea, a entidade tem se reunido com representantes do governo com vistas à tentativa de redução de taxas de juros no Finame, linha de crédito do BNDES usada pelos transportadores, e também do IOF como forma de atenuar o impacto da alta de juros.
No mercado de automóveis, enquanto a venda direta, para locadoras, principalmente, aumentou 12,6%, de janeiro a agosto, no varejo houve uma retração de 4,3%. Segundo a Anfavea, as taxas de juros para financiamento chegam, em média, a 27,3% para Pessoa Física e 18% para Pessoa Jurídica.
Nesse segmento, chama a atenção dos fabricantes de veículos o avanço dos importados. No período, a venda de carros importados no varejo aumentou 17,3% enquanto que a dos nacionais caiu 9,3%. Os veículos produzidos na China representaram, em agosto, 32% das importações e já são donos de 7,8% do mercado brasileiro.
Com 225,4 mil unidades, o mercado total de veículos no Brasil caiu 5,1% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, houve crescimento de 2,8% (1,66 milhão de unidades), considerado “modesto” pelo presidente da Anfavea.
A Anfavea está, agora, de olho, na economia da Argentina para entender se a demanda no país vizinho se sustentará. Em um ano, a participação do mercado argentino nas exportações de veículos fabricados no Brasil passou de 36% para 59%. No acumulado do ano, a exportação de veículos somou 378,2 mil unidades, uma alta de 55,9% na comparação com os oito primeiros meses de agosto.