A economia brasileira está crescendo a uma menor velocidade, mas ainda exibe bom vigor. O PIB avançou 0,4% no segundo trimestre do ano ante o trimestre anterior, 2,2% ante o mesmo período de 2024, 3,2% quando se comparam quatro trimestres com os anteriores e 2,5% no ano. Uma redução mais intensa desse ritmo é aguardada para o segundo semestre, mas isso não está assegurado. Para obter uma queda consistente da inflação e conduzi-la à meta de 3%, juros reais de quase 10%, os maiores desde 2006, precisariam induzir a uma expansão de 2%. Não conseguiram até agora.
O crescimento reduziu-se a menos da metade do 1,3% do primeiro trimestre, mas o resultado foi um pouco superior a 0,3% da mediana das estimativas de 80 bancos e consultorias feitas ao Valor. O desempenho da agricultura foi mais vigoroso que o esperado e, em vez de queda de 1,7%, ela foi de 0,1%. Nos dois trimestres, cresceu 10,1% e só passará a pesar negativamente nos cálculos a partir da segunda metade do ano. O consumo das famílias, com evolução de 0,5%, e o de serviços, com 0,6%, também superaram as expectativas.
A demanda doméstica, que engloba o consumo das famílias, do governo e os investimentos, menos os estoques, foi negativa em 0,2%, estimou Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs. O setor externo, porém, contribuiu positivamente com 0,7 ponto percentual para o resultado, o que não tem sido usual, devido à redução das importações acima do esperado, de 2,9% na comparação com o trimestre anterior. É possível que o setor externo volte a retirar energia do PIB nos trimestres seguintes, se a economia esfriar e diminuir o ímpeto das compras externas. Mas é possível também que, com o tarifaço do presidente Donald Trump e a perda esperada de dinamismo da economia americana, as exportações brasileiras não tenham boa performance.
Os serviços, setor que tem puxado a inflação para cima ou a impedido de cair rapidamente, continua em expansão. Cresceu em relação ao primeiro trimestre (0,4%) e exibe avanço de 2% tanto na comparação anual quanto no desempenho do semestre. Há lenta desaceleração quando se considera o período de quatro trimestres, de 3,3% no início do ano para 2,9% agora. Ainda assim, quando se consideram todos os períodos de comparação utilizados, de cada cinco segmentos que ultrapassam a média do PIB, três deles são de serviços. Nos quatro trimestres encerrados em junho, as atividades de informação e comunicação foram as de maior expansão (6,8%), acompanhadas por outros setores de serviços (4%) e atividades financeiras.
Outras atividades de serviços são um termômetro importante. Além de ter o maior peso no setor (17,5%), seu dinamismo depende diretamente do comportamento dos salários. Tanto os serviços, quando o PIB é visto como produção, como o consumo das famílias, quando visto como demanda, mantêm avanço ainda robusto por vários motivos. O mais importante deles é o mercado de trabalho aquecido, com a mais baixa taxa de desemprego da série histórica. A massa salarial tem crescimento real de 3% em um ano, e os salários, um pouco menos que isso. Programas e benefícios sociais não tiveram arrefecimento, e a correção do salário mínimo pela evolução do PIB de dois anos antes tem propiciado reajustes superiores a 7% no governo Lula.
Enquanto o mercado de trabalho só deve perder força aos poucos, o crédito, que também nutre o consumo, começou a se retrair mais recentemente. No entanto, isso não foi captado no PIB do segundo trimestre, assim como a possível desaceleração das exportações com a barreira tarifária erigida por Trump no mercado americano. Esses fatores poderão ter peso agora, ao lado de outros, expansionistas. O governo, diferentemente de 2024, quando pagou precatórios no primeiro semestre, deixou este ano para fazê-lo em julho, quitando R$ 63,3 bilhões. Parte desses recursos se transformará em consumo ao longo do ano.
A mediana das estimativas de bancos e consultorias para o PIB do ano é de 2,2%. O resultado do segundo trimestre sugere que ele pode ser maior. Se a economia não crescer nos dois trimestres restantes, o PIB de 2025 será de 2,4%, taxa nada desprezível diante de juros básicos de 15%. Ao decidir mantê-los por um período prolongado de tempo, o Banco Central estimou que a economia só estará crescendo abaixo de seu potencial em 2026 — para o segundo trimestre, calculou um hiato positivo de 0,5%.
A dificuldade de uma taxa de juros enorme para derrubar a inflação decorre da política fiscal expansionista, que pode se intensificar quanto mais se aproximam as eleições. De janeiro de 2023 até julho de 2025, o resultado primário acumulado do governo Lula foi um déficit de R$ 361,4 bilhões, 3% do PIB, um potente estímulo às atividades. O PIB do segundo trimestre mostrou que os juros surtem o efeito pretendido, mas para que ele seja pleno, e se possível rápido, para evitar danos fortes, precisa do auxílio da contenção dos gastos públicos. O estímulo fiscal é menor no ano até agora, e o governo fará um bom serviço se não tentar impedir que a economia cresça menos e que a inflação caia.