Nos últimos dois anos, a renda fixa se consolidou como uma das classes de ativos mais procuradas no Brasil. Em um contexto de juros altos, tanto os títulos públicos federais quanto o mercado de crédito privado ganharam protagonismo na alocação dos investidores, levando o volume negociado a cifras inéditas.
O mercado de crédito privado, em particular, bateu recorde atrás de recorde: em 2024, as emissões de dívida corporativa somaram R$ 608,1 bilhões, alta de 76% sobre 2023. E, neste ano, o ritmo forte se mantém: o estoque de títulos corporativos na B3 alcançou R$ 1,7 trilhão só no primeiro semestre, marcando um crescimento de 6,5% se comparado ao período anterior — com destaque para debêntures, CRIs e CRAs.
Esse avanço reflete uma transformação estrutural. O segmento de renda fixa atual é mais robusto, diversificado e permite às empresas alongar o perfil de suas dívidas, historicamente concentradas no curto prazo. No entanto, o crescimento exige um novo salto para garantir a eficiência e transparência das transações.
O ponto central está no formato de negociação. Ao contrário do mercado de ações, em que ofertas são públicas e organizadas em livro central, a renda fixa ainda é negociada majoritariamente no balcão, em operações diretas entre intermediadores e investidores. Esse modelo, à medida que o mercado se expande, requer processos mais ágeis, transparentes e com formação de preço mais eficiente.
Nesse contexto, a implantação da plataforma Trademate, pela B3, representa um marco. Responsável por trilhões de transações de títulos públicos e privados, o sistema acelera a digitalização da renda fixa e coloca o Brasil no mesmo patamar de outros países.
Na prática, o Trademate organiza livros de ofertas e permite que os investidores consultem os ativos e os preços de forma digital através do acesso de sua corretora. Isso substitui o modelo atual, no qual gestores ainda recorrem a e-mails, chats ou ligações para consultar valores em diferentes instituições. Agora, em um único ambiente, é possível comparar condições e concluir negociações com rapidez.
Mais do que ganhos operacionais, a plataforma promove maior visibilidade de valores e reduz a assimetria de informações. Esses fatores são essenciais para uma formação de preços mais eficiente e um mercado mais saudável. Na ponta final, o investidor pessoa física, em especial, tem acesso a dados mais claros e confiáveis quando sua corretora dispõe do Trademate.
Até agosto de 2025, mais de 600 instituições já haviam aderido ao Trademate. Esse é apenas o início de uma nova revolução que dará as bases da expansão da renda fixa nos próximos anos. A modalidade já provou sua força. Agora, com tecnologia e inovação, está pronta para um novo ciclo de expansão.
* Claudia Bortoletto é diretora de renda fixa e fundos da B3