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O Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic em 15% ao ano, confirmando a previsão do mercado de manutenção da taxa de juros estacionada. Outra previsão de política monetária que se confirmou nesta quarta foi divulgada horas antes, com o anúncio do Federal Reserve, o banco central americano, do corte de 0,25 percentual na taxa dos Fed Funds.
O comunicado do Copom distribuído após a reunião indica que a manutenção da taxa, a mais alta desde julho de 2006, há 19 anos, se dá pelo caráter contracionista da política monetária em um ambiente de incerteza global e pressões inflacionárias persistentes no Brasil.
Nas linhas finais do texto, assim como em julho, há indicação de que o ciclo de ajuste pode ser retomado. O que chama a atenção é a frase imediatamente anterior, já que, em julho, o texto citava o termo “continuação da interrupção” do ciclo da alta de juros, o que foi excluído agora.
O comunicado aponta ainda que a conjuntura internacional, influenciada pela política econômica dos Estados Unidos e pelas tensões geopolíticas, amplia a volatilidade nos mercados e exige cautela adicional dos emergentes. “O comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais”, cita trecho do texto.
Abordando a questão doméstica, o comunicado aponta que, embora a atividade econômica dê sinais de moderação, o mercado de trabalho segue aquecido e a inflação resiste acima da meta, com expectativas desancoradas para 2025 e 2026. O Copom reconhece riscos relevantes para ambos os lados: de alta, como a resiliência dos preços de serviços e a possibilidade de câmbio mais depreciado; e de baixa, como uma desaceleração econômica global mais acentuada e a queda dos preços das commodities.
Em relação ao comunicado de julho, primeira vez em que a Selic foi mantida a 15% interrompendo um ciclo de alta, a divulgação desta quarta ressalta um ambiente externo mais adverso, traça expectativas de inflação mais deterioradas e expõe ainda mais a preocupação com as tarifas dos EUA. E, assim como julho, o Copom voltou a sinalizar que a manutenção da Selic no topo é temporária e depende da evolução do cenário.
Em síntese, a decisão do Banco Central vem em linha com o esperado pelo mercado. Além disso, o próprio Copom já havia sinalizado cautela após um ciclo acelerado de alta da Selic, em julho. Lembrando que a taxa fechou 2024 em 12,25%, 2,75 pontos percentuais abaixo do nível atual.
Repercussão do mercado
Para surpresa de zero analistas do mercado, o comunicado do Copom não trouxe grandes mudanças em relação ao anterior, porém, reforça o tom de cautela ante a um cenário incerto e veio mais duro do que o esperado.
A ressalva é a de que o balanço de riscos para a inflação continua elevado: de um lado, há chance de expectativas desancorarem, serviços pressionarem e o câmbio pesar; de outro, a possibilidade de uma desaceleração mais forte aqui ou no mundo e a queda de commodities poderiam aliviar a inflação.
Leonardo Costa, economista do ASA, chama a atenção para a parte em que o Copom se comprometia a avaliar a manutenção da taxa por período prolongado. “Entrou uma redação mais flexível, reforçando cautela em cenário incerto e vigilância contínua, sem descartar movimentos futuros”, afirma Costa.
A indicação da inflação acima do centro da meta foi ressaltada por Caio Megale, economista-chefe da XP. “Ao ficar em 3,4% [expectativa da inflação para o primeiro trimestre de 2027], é um sinal claro do Banco Central de que as projeções sugerem a inflação significativamente acima da meta e, portanto, um desafio importante de política monetária adiante”, diz Megale.
A análise de Natalie Victal, economista chefe da SulAmérica Investimentos, é a de que o Copom deu um recado duro, sem concessões, que dificulta uma mudança rápida de tom. “Dada a comunicação de hoje, flexibilizações em 2025 só ocorreriam diante de melhora relevante de cenário”, diz.
Relembre a trajetória da Selic
De janeiro a julho de 2025, os comunicados do Copom revelaram uma escalada gradual da Selic acompanhada de ajustes no tom da política monetária. Em janeiro, o Comitê promoveu uma alta de 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano, justificando a decisão pela combinação de inflação elevada, expectativas desancoradas e resiliência da atividade econômica.
Em março, o aumento foi novamente de 1 ponto, levando a taxa a 14,25%, num movimento mais duro para reforçar o compromisso com a convergência da inflação à meta. A partir daí, o ritmo começou a desacelerar: 0,50 ponto em maio (14,75%) e 0,25 em junho (15%), refletindo a percepção de que o ciclo de aperto estava em fase avançada.
Em julho, pela primeira vez no ano, o Copom optou por manter a Selic em 15%, destacando os riscos persistentes de inflação, mas também a necessidade de observar os efeitos acumulados do forte aperto já implementado.
Os comunicados desse período mostraram uma constante preocupação com o cenário externo, sobretudo a política econômica dos Estados Unidos e as tarifas comerciais impostas ao Brasil, ao mesmo tempo em que reforçaram o diagnóstico doméstico de inflação resistente e mercado de trabalho aquecido.
A evolução da Selic em números
- Janeiro: 13,25%;
- Março: 14,25%;
- Maio: 14,75%;
- Junho: 15%;
- Julho: 15%;
- Setembro: 15%