O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, advertiu Israel nesta segunda-feira (22) que, se o país retaliar o reconhecimento do Estado palestino, com o fechamento de sua embaixada, por exemplo, o país europeu responderá “com extrema firmeza”.
Questionado em entrevista ao canal TF1 sobre a possibilidade que circula há alguns dias, Barrot ressaltou que “em nenhum caso isso é do interesse de Israel. Se forem tomadas medidas desse tipo, responderemos com extrema firmeza. Espero que não cheguemos a isso”, insistindo que a iniciativa de reconhecer o Estado palestino “contribui para a segurança de Israel”.
“Sua aplicação será progressiva e condicionada a elementos no terreno, incluindo a libertação dos reféns”, disse o chefe da diplomacia francesa.
Outra das condições estabelecidas pela França para dar passos na concretização desse reconhecimento é que a Autoridade Nacional Palestina (ANP), como se comprometeu, realize uma profunda reforma de sua governança, e que haja um desarmamento do Hamas, que teria que deixar de controlar a Faixa de Gaza, para o que também se espera a ajuda de países árabes aliados.
Da mesma forma, disse que “nossa análise, nossa profunda convicção é que o Estado da Palestina significa o fim do Hamas e a segurança para Israel”.
Barrot justificou ainda o fato de não querer usar o termo genocídio para se referir ao que está ocorrendo em Gaza com a ofensiva militar israelense, com o argumento de que essa questão deve ser determinada por “jurisdições internacionais, a Corte Internacional de Justiça, o Tribunal Penal Internacional” (TPI).
No entanto, destacou que o relatório da ONU, no qual o termo genocídio é usado, “evidencia” a gravidade da situação e é um apelo para que “cesse”, porque “Gaza se tornou um lugar de morte”.
O reconhecimento do Estado palestino pela França será concretizado com um discurso do presidente francês, Emmanuel Macron, esta tarde em Nova York, por ocasião da abertura da Assembleia Geral da ONU.
Na véspera do discurso, a bandeira palestina e a israelense foram projetadas na Torre Eiffel, unidas por uma pomba que carregava um ramo de oliveira no bico, símbolo da paz.
A projeção em um dos monumentos mais simbólicos da França acontece em meio à polêmica pela iniciativa do Partido Socialista, que pediu aos municípios que hasteiem a bandeira palestina simbolicamente nesta segunda-feira. Alguns municípios franceses, governados por esquerdistas, incluindo os de Nantes e Saint-Denis, hastearam a bandeira palestina em suas prefeituras.
Uma iniciativa à qual o ministro do Interior, o conservador Bruno Retailleau, respondeu com uma diretiva para pedir que a Justiça atue contra os municípios que o façam, por considerar que isso constitui um ato contrário à neutralidade.
O primeiro secretário do Partido Socialista (PS), Olivier Faure, foi à prefeitura de Saint-Denis, vizinha a Paris, para mostrar seu apoio ao prefeito, o socialista Mathieu Hanotin, quando a bandeira palestina foi hasteada. O ato teve um claro significado político, já que foi ele quem propôs que esse gesto simbólico fosse feito em apoio a uma solução de dois Estados.
A prefeita de Nantes, a também socialista Johanna Rolland, escreveu uma mensagem em sua conta na rede social X, na qual, junto a uma foto da bandeira palestina que tremula na fachada de sua prefeitura, lembrou que o presidente francês, Emmanuel Macron, formalizará esta tarde perante a ONU o reconhecimento do Estado palestino.
“Nantes acompanha esta decisão histórica da República francesa hasteando, nesta jornada, a bandeira palestina”, declarou Rolland.
Israel promete reação a países que reconhecem Estado palestino
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse no domingo (21) que “não haverá um Estado palestino”, depois que Reino Unido, Canadá e Austrália o reconheceram, e advertiu que, ao retornar da Assembleia Geral da ONU que será realizada nesta semana nos Estados Unidos, anunciará uma “resposta” a essa decisão.
Em um vídeo divulgado por seu escritório, Netanyahu envia uma mensagem aos países que estão reconhecendo o Estado da Palestina devido às operações israelenses em Gaza: “Isso não vai acontecer. Não será estabelecido um Estado palestino a oeste do rio Jordão”.
Netanyahu participará da Assembleia da ONU em Nova York na próxima sexta-feira (26), um fórum no qual vários países – entre eles a França – devem reconhecer o Estado da Palestina. Reino Unido, Canadá e Austrália se anteciparam a essa conferência e fizeram o reconhecimento neste domingo.