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Acessibilidade
Em 2023, uma pesquisa da Buffer, plataforma de gerenciamento de mídias sociais para trabalho, apontou que 98% dos profissionais desejavam trabalhar remotamente. Embora haja muitas vantagens no trabalho remoto, incluindo liberdade e flexibilidade, também é preciso discutir os lados obscuros desse modelo, especialmente com o avanço da inteligência artificial.
Segundo a FTC (Comissão Federal de Comércio dos EUA), os golpes relacionados a empregos e agências de contratação triplicaram entre 2020 e 2024, e o valor perdido por consumidores nesse tipo de fraude saltou de US$ 90 milhões (R$ 479,4 milhões) para US$ 501 milhões (R$ 2,6 bilhões) no período. De acordo com uma pesquisa da Resume Genius, plataforma online para criação de currículos, com 1.000 gestores de contratação, 17% disseram já ter entrevistado candidatos criados com IA deepfake, “equipados com vídeos dublados e vozes sintéticas”.
Jolissa Skow aprendeu na pele o que é roubo de identidade profissional. Em um post no LinkedIn que viralizou, Skow compartilhou sua experiência. “Em junho, descobri que alguém estava fingindo ser eu para trabalhar como prestadora de serviços em uma empresa respeitável. Ela estava escrevendo para eles. Usava meu nome. Meu portfólio. Minha biografia. Minhas fotos. Meus textos de amostra”, conta. “Ela chegou a colocar meu endereço residencial como se fosse dela. E vinha fazendo isso desde 2023. A escrita dela era boa o suficiente para não levantar suspeitas.”
Em entrevista sobre o episódio, Skow contou como se sentiu ao descobrir o ocorrido. “Meu primeiro sentimento foi definitivamente raiva, misturada com incredulidade de que algo assim fosse possível, com uma pitada de arrependimento por não ter acompanhado a situação de perto.”
Sinais de alerta
Em um post seguinte no LinkedIn, ela explicou que havia sinais de alerta que ignorou. No início de 2024, recebeu um formulário fiscal referente a um artigo que não se lembrava de ter escrito. “Descobri que não era um caso isolado quando fui marcada em um post no LinkedIn como sendo uma colega maravilhosa, em uma empresa onde nunca trabalhei, por alguém que nunca conheci”, lembra. “Sou muito grata a esse post, caso contrário não sei quanto tempo teria levado para descobrir.”
Kourtney Hayes, líder de cibersegurança na Amazon Web Services, explicou como essas falsificações são fáceis de acontecer. “As pessoas assumem que os impostores precisam ser altamente técnicos, mas a maioria não é”, diz. “O que facilita isso é a quantidade de informações que colocamos voluntariamente online.”
Biografias, fotos profissionais, currículos e amostras de trabalho são públicos por natureza. Outro fator é a cultura remota atual. “Construímos confiança por e-mail, Slack e documentos, onde uma boa escrita e um portfólio bem feito fazem alguém parecer legítimo”, explica. “Como reuniões com a câmera desligada se tornaram normais em muitos lugares, raramente alguém questiona.”
“O mito é que a tecnologia dificulta a falsificação; a verdade é que nossos hábitos digitais do dia a dia a tornam fácil.”
Kourtney Hayes
O que fazer se sua identidade profissional for roubada
Ao descobrir que estava sendo falsificada, Skow entrou em contato com a empresa para corrigir a situação. “O CEO respondeu quase imediatamente”, contou. “Acho que ele ficou tão chocado quanto eu. Ele marcou uma videochamada para discutirmos o caso.”
Pelo que a profissional sabe, a impostora vinha trabalhando em seu nome desde 2023. Skow tomou providências, registrando uma denúncia no IC3 (Internet Crime Complaint Center), sistema do FBI para reportar crimes e fraudes online. “Quando você envia uma denúncia, basicamente o aviso já diz que o crime digital é tão comum que provavelmente não entrarão em contato para investigar mais a fundo.”
Skow decidiu compartilhar sua história para proteger outras pessoas de sofrerem o mesmo. “Pesquise seu nome regularmente. Sei que isso é mais difícil para quem tem nomes comuns, mas você pode tentar pesquisar seu nome junto com o que faz, como ‘Jolissa Skow escritora’, para ver se existem biografias por aí que você desconhece.” Ela recomenda que, se houver suspeita de falsificação, a pessoa faça sua própria investigação e entre em contato com o responsável pela empresa.
Como prevenir o roubo de identidade no trabalho
Steven M. Bellovin, pesquisador de redes de computadores e segurança e professor da Universidade de Columbia, explica o que os empregadores podem fazer para prevenir esse tipo de fraude. “Se você está lidando com um funcionário, em vez de um prestador de serviços, as leis de ‘conheça seu cliente’, seguidas por bancos, dão uma boa garantia sobre a identidade. Se a pessoa está no exterior, isso pode não funcionar.”
Empregadores precisam conhecer e entender o que é o roubo de identidade profissional para criar medidas de proteção. Já os profissionais devem adotar cuidados extras online, especialmente agora, quando esse tipo de fraude tende a se tornar mais comum. Pesquisas sugerem que mulheres, grupos não brancos e populações idosas podem ser mais vulneráveis a crimes cibernéticos.
“Pesquise sobre você regularmente. Não apenas jogue seu nome no Google. Procure trechos únicos da sua biografia ou cargo”, sugere Hayes. “Mantenha atualizado seu LinkedIn, site pessoal ou perfil corporativo para que exista uma referência clara de quem você realmente é. Proteja seu trabalho.”
Escritores podem embutir metadados em documentos, designers podem colocar marcas d’água em amostras, e vincular seu e-mail profissional a arquivos compartilhados dificulta a reutilização indevida. “Incentive a verificação. Informe: ‘Eu só envio contratos deste e-mail’, ou ‘Você sempre pode me mandar mensagem direto no LinkedIn para confirmar’”, diz a especialista. “Não são barreiras perfeitas, mas criam atrito para impostores e facilitam provar a autenticidade depois.”