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terça-feira, outubro 7, 2025

Sucessão no Agro: o Império de Jonas Barcellos e a Herança da Brasif

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Renato Barcellos, filho de Jonas Barcellos, diz que a segunda geração segue os passos do pai

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A Fazenda Mata Velha, na BR 050, a poucos quilômetros de Uberaba (MG), é um marco da pecuária brasileira. Por décadas, a data de 4 de maio ficou associada a um ritual aguardado por criadores, investidores e apaixonados por genética zebuína. Era nesse dia que Jonas Barcellos Corrêa Filho realizava um dos leilões de gado mais concorridos do país, realizado na Expozebu, a principal vitrine mundial de raças zebuínas, com destaque para o nelore.

Em 2025 a Expozebu completou 90 edições. A cada remate, a fazenda se transformava em palco de disputas milionárias, onde não se vendiam apenas animais, mas a perspectiva de avançar uma linhagem inteira. O que passava pelo martelo da Mata Velha influenciava as pistas de julgamento da feira e definia tendências para o mercado de genética.

Renato Barcellos, filho de Jonas e hoje representante da segunda geração, cresceu nesse ambiente de negócios e genética. Ele lembra que a ligação do pai com a fazenda sempre foi profunda. “Meu pai sempre foi apaixonado pelo nelore e pela Mata Velha. A fazenda segue com o rebanho e com o trabalho de seleção, mesmo que não estejamos mais nas pistas. Essa tradição é o que garante que o nome continue respeitado”, diz ele. Aos 89 anos, Jonas participa das reuniões do conselho de administração e acompanha os rumos da empresa, preservando a conexão entre a origem no campo e a estrutura empresarial que construiu ao longo de seis décadas.

Pitty/Divulg ABCZ

Jonas Barcellos (dir), quando participava das pistas de Uberaba, junto com o então presidente da ABCZ

A Brasif nasceu em 1965, quando Jonas iniciou um pequeno negócio de distribuição de produtos siderúrgicos. Nos anos seguintes, apostou na parceria com a americana Case e tornou-se um dos principais distribuidores de máquinas da marca no Brasil. A partir daí, o grupo diversificou, criou lojas duty free em aeroportos – por décadas foi o principal operador de free shops no Brasil, controlando praticamente sozinho esse mercado estratégico. No agro, investiu em gado de elite, na biotecnologia e bioenergia, sempre ampliando a atuação. Hoje, a empresa reúne diferentes frentes, incluindo varejo, hotelaria e imóveis.

Em plena transição geracional, a mudança coincide com planos ambiciosos de crescimento do Grupo Brasif: alcançar receita de R$ 5 bilhões até 2029, partindo dos atuais R$ 4 bilhões. “Esse ano marca oficialmente a transição da primeira para a segunda geração dos acionistas”, afirma Gustavo Avelar, CEO do grupo. “Estamos vivendo um momento especial de celebração, mas também de reorganização para os próximos 60 anos.”

Sucessão no Agro: o Império de Jonas Barcellos e a Herança da Brasif

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Gado zebuíno criado nas fazendas da Brasif

Na nova estrutura, Renato Barcellos, que é filho mais velho, coordena as operações rurais, máquinas e a usina da Mata.
Suas três irmãs assumiram outros segmentos: Vianita comanda a rede Longe e Rico (moda íntima feminina com 140 lojas), Cristina gerencia os dois hotéis em Orlando, e Patrícia cuida da área jurídica e imobiliária. “Dividimos por áreas para evitar conflitos. Ninguém entra na administração do negócio do outro”, explica Renato. A divisão aproveita as competências individuais: Cristina reside nos Estados Unidos, facilitando a gestão hoteleira, enquanto Renato herdou a paixão do pai pela pecuária e agricultura

“Continuamos com o gado, com a genética, com a fazenda. Só ampliamos a forma de olhar para o futuro.” O patriarca revolucionou o melhoramento genético no país quando poucos investiam em tecnologia reprodutiva. Hoje, a Genial, a empresa de biotecnologias, produz 60 clones bovinos anuais e exporta entre 1.000 e 2.000 embriões, mantendo o Brasil como maior exportador mundial desses materiais.

“A clonagem acelera o melhoramento genético. Em vez de ter uma vaca boa, você tem duas iguais”, explica Renato. Para completar o trabalho mineiro, o grupo desenvolve projeto ambicioso na fazenda Santa Marina, em Santo Antônio do Aracanguá, interior de São Paulo: criar genética nelore com marmoreio comparável ao wagyu japonês, trabalhando com rebanho selecionado de 600 matrizes.

Máquinas no motor do crescimento

Mas no agro, a estratégia de expansão atual concentra investimentos em duas frentes principais: distribuição de máquinas agrícolas no Matopiba (sigla para a região que reúne parte dos estados de MT, TO, PI e BA) e a consolidação da usina de cana-de-açúcar. O negócio de máquinas, já o maior do grupo em faturamento, ganhou força em 2023 com a aquisição da Maxon, em Luís Eduardo Magalhães (BA), que representa 35% de incremento na receita do setor.

O setor de máquinas é hoje o coração da Brasif. Em 2023, a empresa adquiriu a Maxo, concessionária localizada em Luís Eduardo Magalhães, que é a entrada para nova fronteira agrícola de cerca de 73 milhões de hectares em pleno crescimento. O impacto foi imediato: a receita aumentou 35% no primeiro ano. O objetivo é expandir a operação para atender uma região que já responde por três safras anuais em algumas áreas.

Sucessão no Agro: o Império de Jonas Barcellos e a Herança da Brasif

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Gustavo Avelar, CEO do grupo, diz que sucessão foi planejada e profissionalizada

“Entramos no Matopiba porque acreditamos nos fundamentos da região. É uma fronteira comparável ao que Ribeirão Preto foi em décadas passadas”, explica Avelar. “Luís Eduardo Magalhães é o novo Ribeirão Preto”, comparando com a cidade do interior paulista chamada de capital do agro por causa da concentração de usinas de cana e da realização da Agrishow, a maior feira de tecnologias do setor na América Latina. O faturamento no segmento de máquinas agrícolas alcança cerca de R$ 2 bilhões anuais e a meta é crescer 50% até 2030.

Ele sabe do que fala: está na Brasif há mais de uma década e assumiu a cadeira de CEO em 2020, depois de percorrer várias áreas da companhia. Foi nesse período que a transição da primeira para a segunda geração ganhou velocidade. Avelar se tornou o elo entre a família Barcellos e a profissionalização da gestão, ajudando a estruturar governança, ampliar o conselho e abrir novas frentes de investimento.

“A mudança geracional só foi possível porque o Jonas confiou em profissionalizar e a família entendeu a importância de equilibrar tradição e gestão moderna.”

A empresa vendeu mais de 20 mil máquinas nos últimos cinco anos e mantém relacionamento de 55 anos com a Case. O momento desafiador do agronegócio – queda nas vendas de máquinas nos últimos anos em razão de juros altos e preços baixos de commodities – não intimida o grupo. “Acreditamos nos fundamentos. Quando há quebra na renovação de frota, isso se acumula. Esperamos recuperação forte entre 2026 e 2028”, diz Avelar.

Porque o executivo destaca que não se trata apenas de vender tratores ou colheitadeiras. O diferencial está em oferecer soluções ao agricultor em qualquer fase do ciclo. Em 2024, quando os produtores enfrentaram juros altos e crédito restrito, a Brasif reformou mais de 400 equipamentos em vez de forçar novas vendas. O resultado foi a manutenção da produção e a preservação de clientes estratégicos. “Muito antes de vender máquinas, buscamos entender o momento de cada cliente. Se a melhor solução é a manutenção, é isso que entregamos”, diz Avelar.

Renato acrescenta que essa filosofia de longo prazo vem de Jonas. “A lição sempre foi de perseverança. O negócio tem altos e baixos, mas se a base é sólida, o ciclo se renova. Não dá para desistir no primeiro tropeço. Foi assim que ele construiu a Brasif e é assim que seguimos”, afirma Renato.

Sucessão no Agro: o Império de Jonas Barcellos e a Herança da Brasif

Sucessão no Agro: o Império de Jonas Barcellos e a Herança da Brasif

Usina de cana, onde os investimentos têm sido intensos

Ele destaca também que os novos agricultores têm uma lógica diferente do que se via lá no início dos negócios: querem colher mais em menos espaço, reduzir custos e usar tecnologia como ferramenta estratégica. Hoje, 100% das máquinas vendidas pela Brasif já saem com telemetria instalada, permitindo acompanhar a operação em tempo real e realizar manutenção preventiva antes quebras.

Essa postura de acompanhar os ciclos se repete em outras áreas do grupo. Na energia, a usina da Mata, em Valparaíso (GO), está em expansão. Hoje, são processadas 4,5 milhões de toneladas de cana, mas a meta é alcançar 5,8 milhões de toneladas de moagem até 2027, metade delas em áreas irrigadas. Isso garante previsibilidade em um setor exposto a variações climáticas. Foram aplicados R$ 150 milhões em automação nos últimos cinco anos. Apenas em irrigação, o investimento chegou a R$ 50 milhões no último ano.

“Todas as colheitadeiras, tratores e caminhões estão conectados. A comunicação entre área agrícola e industrial funciona como um balé”, afirma Avelar. “Não buscamos só produtividade, mas estabilidade. Poucas usinas terão metade de sua área irrigada. Esse é um diferencial competitivo”. A planta tem ainda flexibilidade para destinar até 70% da produção ao açúcar ou ao etanol, de acordo com o mercado, ajustando-se conforme os preços de commodities.

Na parte do negócio que cabe às irmãs de Renato, no varejo, a Longe & Rico, lançada em 2012, já conta com mais de 140 lojas especializadas em moda íntima feminina. A aposta foi no consumo doméstico, em uma frente que pouco dialoga com o agro, mas diversifica o portfólio do grupo. A hotelaria soma dois grandes empreendimentos em Orlando, nos EUA, com 650 quartos cada, voltados principalmente ao turismo brasileiro. No setor imobiliário, o Grupo Brasif investe em Brasília em parceria com a Alphaville.



[Fonte Original]

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