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- Author, David Cox
- Role, BBC Future
Qual você acha que é a idade dos seus pulmões?
A cada respiração, eles são expostos a uma infinidade de poluentes, micróbios, poeira e alérgenos. Por isso, não surpreende que estes fatores possam acelerar o envelhecimento desses órgãos tão delicados.
Mas eles também podem influenciar o envelhecimento do restante do nosso corpo.
No início de maio de 2025, uma equipe internacional de especialistas respiratórios publicou um dos primeiros estudos já realizados para determinar como a função pulmonar humana varia à medida que envelhecemos.
Baseado em dados de cerca de 30 mil homens e mulheres, coletados ao longo do século 20, o estudo demonstrou que o pico da nossa função pulmonar ocorre entre os 20 e 25 anos de idade. E a capacidade pulmonar das mulheres normalmente atinge o auge alguns anos antes dos homens, declinando em seguida.
A líder do estudo foi a professora Judith García-Aymerich, do Instituto de Saúde Global de Barcelona, na Espanha. Para ela, esta parece ser uma parte biologicamente programada do envelhecimento.
Quanto melhor for a sua capacidade pulmonar na sua idade de pico, mais resiliente você será contra doenças respiratórias crônicas e outras condições de saúde pulmonar em idade avançada, segundo García-Aymerich.
Mas a saúde pulmonar também está relacionada a diversos aspectos ainda mais surpreendentes da saúde humana. Ela afeta o nosso sistema imunológico, nosso peso e até mesmo o cérebro.
Até que ponto nossos pulmões são saudáveis? E será que podemos fazer algo para melhorar o nosso estado atual?
Estudos como o de García-Aymerich usam equipamentos de alto custo para avaliar a saúde pulmonar. Mas existe uma forma simples de testar seus pulmões em casa.
Tudo o que você precisa é de uma grande garrafa de plástico, um balde ou bacia e um pedaço de tubo de borracha. Talvez você prefira seguir os procedimentos do teste em uma pia ou fora de casa, para evitar transtornos.
- Para começar, pegue 200 ml de água de um copo medidor, transfira para a garrafa plástica e marque o nível da água com uma caneta.
- Acrescente mais 200 ml de água, marque o novo nível da água e repita o processo até encher a garrafa.
- Encha o balde ou a bacia com água e mergulhe ali a garrafa, agora cheia de água. Vire a garrafa de cabeça para baixo dentro da água.
- Mantendo a garrafa nesta posição, coloque o tubo de borracha dentro do gargalo da garrafa. Não é preciso encaixá-lo com firmeza.
- Respire profundamente e sopre no tubo.
- Conte quantas linhas de água você consegue soprar para fora da garrafa.
- Multiplique o número de linhas por 200 ml (três linhas, por exemplo, são 600 ml). Este número é a sua capacidade pulmonar vital, também conhecida como capacidade vital forçada (CVF).

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“O teste observa o volume de ar que você consegue exalar, denominado capacidade [pulmonar] vital”, explica o chefe da clínica de exercícios respiratórios da Universidade de Kent, no Reino Unido, John Dickinson.
“Esta expressão foi usada pela primeira vez pelo cirurgião inglês John Hutchinson [1811-1861], nos anos 1840. Ele começou a observar que as pessoas que conseguiam respirar apenas pequenos volumes de ar tinham menos tempo de vida.”
A Associação Pulmonar Americana indica que a CVF pode diminuir em cerca de 0,2 litros por década, mesmo entre pessoas saudáveis que nunca fumaram, devido aos efeitos do envelhecimento. E pesquisas indicam que a CVF saudável normal é de 3 a 5 litros.
Dickinson afirma que não devemos ficar extremamente preocupados se tivermos uma baixa leitura neste teste de saúde doméstico.
“Muitas pessoas terão dificuldade para esvaziar completamente seus pulmões, o que pode gerar leituras baixas errôneas”, explica ele.
Mas também existem formas de melhorar nossa saúde pulmonar e combater eventuais declínios de desempenho. E, se você quiser envelhecer com elegância, esta pode ser uma medida vital.
Outro teste respiratório
Dickinson destaca que existe outro teste doméstico, para avaliar nossa frequência de respiração em repouso — ou seja, por quanto tempo você consegue exalar antes de precisar respirar novamente.
“Inspire profundamente e conte, em segundos, por quanto tempo você consegue expirar lentamente”, explica ele. “Você deve conseguir expirar lentamente por pelo menos 11 segundos.”
A influência dos pulmões sobre a saúde em geral
“Se a perda de função pulmonar for excessiva, as pessoas podem ter sintomas como respiração curta”, explica García-Aymerich. “Pode surgir uma condição chamada doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que é caracterizada por baixos níveis de função pulmonar.”

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A professora Dawn Bowdish, da Universidade McMaster, no Canadá, é especializada em envelhecimento e imunidade.
Ela explica que uma das razões é a ligação desordenada entre os pulmões, o coração e a circulação, além da sua importante relação com a saúde do nosso sistema imunológico como um todo. É o que ela chama de “eixo pulmão-sistema imunológico”.
“O pulmão tem milhões e milhões de células imunológicas com funções importantes, como a limpeza da poluição particulada do ar, combate a infecções e reparo dos danos causados pelo estiramento constante causado pela inspiração e expiração”, afirma ela.
Bowdish destaca que, se as células imunológicas dos pulmões forem incapazes de limpar todas as partículas que se acumulam naquele órgão, elas causam níveis cada vez maiores de inflamações. Isso pode levar a feridas conhecidas como fibrose pulmonar, tornando os pulmões mais rígidos e reduzindo sua capacidade de funcionamento.
A inflamação dos pulmões também pode alterar a forma de reação do nosso corpo a infecções respiratórias, pois a reação imunológica pode causar outros prejuízos.
Os benefícios da saúde pulmonar
A relação entre os pulmões e a saúde em geral também é uma via de mão dupla.
Bowdish afirma que, se mantivermos nossos pulmões relativamente saudáveis, seremos mais propensos a permanecer livres de doenças em idade avançada por mais tempo.
“Muito embora a capacidade pulmonar seja reduzida com a idade, isso não é causa de preocupação para as pessoas que cuidam da saúde pulmonar”, explica Dickinson.
“Pulmões saudáveis possuem capacidade mais que suficiente para fornecer oxigênio e remover dióxido de carbono do corpo por toda a nossa vida. Mas, se a velocidade de declínio aumentar, nossa saúde e qualidade de vida podem ser prejudicadas.”
Por isso, no caso de qualquer preocupação com seus pulmões, Dickinson recomenda consultar um médico em busca de um teste de função pulmonar apropriado. Ele envolve respirar em um aparelho chamado espirômetro, que mede o volume e a velocidade da respiração.

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O espirômetro irá calcular sua CVF com precisão de grau médico, além do seu volume de expiração forçada (VEF1), que é a quantidade de ar que você consegue exalar em um segundo, após uma respiração profunda.
O aparelho também fornecerá a razão entre o VEF1 e a CVF, o que pode indicar eventuais obstruções do fluxo respiratório. Combinadas, estas medidas fornecem um quadro geral da saúde pulmonar.
“Idealmente, eu recomendaria às pessoas que tenham sua função pulmonar [clinicamente] avaliada a cada 10 anos, se não sofrerem nenhum sintoma”, aconselha Dickinson, “mas elas devem fazer o teste imediatamente, se verificarem sintomas anormais de falta de ar.”
Melhora da função pulmonar
Conhecendo o estado dos pulmões, evidências demonstram que é possível tomar medidas preventivas para aumentar a capacidade pulmonar e ajudar a reduzir o declínio relacionado à idade.
Exercícios regulares, por exemplo, podem reduzir as inflamações das vias aéreas e aumentar a resistência dos músculos respiratórios.
A diminuição do sal na alimentação também pode ser benéfica. Pesquisas indicam que o excesso de sal pode aumentar a fibrose e as inflamações pulmonares.
Por outro lado, também se acredita que a alimentação rica em óleos de peixe, antioxidantes e vitaminas C e E ajuda a proteger as paredes dos pulmões contra lesões.
O professor Daniel Craighead, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, indica que outra forma de preservar a boa função pulmonar é manter peso saudável e evitar o acúmulo de gordura corporal em excesso.
“A gordura abdominal pode impedir a capacidade dos pulmões de se encherem totalmente de ar”, explica ele.
Mas existe outra forma de realmente melhorar a nossa função pulmonar.
Desde meados dos anos 1990, o treinamento muscular inspiratório (TMI), ou respirar através de um aparelho que forneça resistência, ficou conhecido como um meio de aumentar a resistência dos músculos respiratórios em pessoas que variam de atletas e cantores até pessoas com dificuldades de respiração, como asma e DPOC.

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O método padrão-ouro de TMI é um aparelho médico conhecido como Powerbreathe. Ele é um produto médico reconhecido e aprovado pelo NHS (o serviço público de saúde do Reino Unido) e por outros organismos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou o produto como ferramenta de apoio na recuperação da covid-19. Hospitais de todo o mundo também o adotam para pré-habilitação, melhorando a função pulmonar dos pacientes que irão passar por cirurgias, para aumentar suas chances de recuperação.
O aparelho também é usado no tratamento de fibrose pulmonar e em apoio a pessoas que usaram ventiladores, em unidades de tratamento intensivo.
Segundo Craighead, estudos demonstraram que duas sessões diárias de TMI por 30 respirações são suficientes para aumentar a resistência dos músculos respiratórios.
A responsável médica da Powerbreathe International, Sabrina Brar, compara a realização de TMI usando o aparelho com o levantamento de peso para os músculos dos braços e das pernas.
“Fortalecer os músculos responsáveis pela inspiração, da mesma forma que fortalecer qualquer outro músculo do corpo, aumenta a resistência dos músculos respiratórios, reduzindo o declínio da função pulmonar relacionado à idade”, explica ela.
“A ideia é acionar o diafragma e os músculos intercostais, aumentando periodicamente a resistência ao longo do tempo, ao lado da resistência pulmonar.”
Outra opção é simplesmente cantar ou tocar um instrumento de sopro.
Pesquisadores do Centro Louis Armstrong, em Nova York, nos Estados Unidos, são os pioneiros desta técnica. Eles tentam melhorar a função pulmonar das pessoas com asma, ensinando a tocar diversos instrumentos de sopro.
Outros cientistas chegaram a projetar uma versão eletrônica de um tipo de flauta chamado ocarina, para ajudar a melhorar a função pulmonar.

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Como professora da Universidade do Sul da Dinamarca e cantora clássica treinada, Mette Kaasgaard participou de uma série de testes para examinar como o canto pode ajudar pessoas com DPOC.
Kaasgaard afirma que não há evidências que indiquem que cantar realmente possa reverter lesões pulmonares existentes. Mas ela acredita que o canto ainda pode beneficiar a saúde dos pulmões, aumentando nossa capacidade de uso dos músculos respiratórios.
“Um aspecto central do canto é a capacidade de cantar versos longos, o que exige controle e flexibilidade do diafragma, dos músculos entre as costelas e dos músculos abdominais”, segundo ela.
Mas, na verdade, qualquer exercício pulmonar que você escolher poderá ajudar seus pulmões a enfrentar tudo o que o mundo tem a oferecer a eles, uma respiração de cada vez.
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