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domingo, setembro 7, 2025

Drex não é mais o real digital: saiba como o Banco Central transformou o projeto

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O que nasceu como uma promessa de moeda digital oficial do Brasil já não é mais a mesma coisa. O Drex, anunciado originalmente como o “real digital”, foi se transformando ao longo dos últimos anos e hoje deixou de ser tratado pelo Banco Central como uma CBDC (Moeda Digital de Banco Central) para assumir outro papel: o de uma plataforma de tokenização de ativos financeiros.

A guinada reflete tanto limitações tecnológicas encontradas nos testes quanto uma mudança de visão da autoridade monetária sobre o futuro dos meios de pagamento. Mais do que isso, conforme os anos foram passando, o cenário mudou e as necessidades também, principalmente com o sucesso do Pix, que cumpre várias das funções pensadas para o “real digital”.

A trajetória do Drex começou em 2020, quando o BC anunciou estudos sobre a criação de uma moeda digital própria, em linha com o movimento de bancos centrais pelo mundo. O objetivo era modernizar o sistema de pagamentos, reduzir custos de transação e abrir espaço para novos serviços financeiros.

O nome escolhido foi apresentado em 2023, em substituição ao termo “real digital”, e cada letra representa algo, segundo definição do próprio BC: “d” e “r” fazem alusão ao Real Digital; o “e” vem de eletrônico e o “x” passa a ideia de modernidade e de conexão, do uso de tecnologia de registro distribuído (Distributed Ledger Tecnology – DLT).

No entanto, ao longo dos testes, ficou claro que a ideia de simplesmente lançar uma versão digitalizada do real não era suficiente para atender às necessidades da economia brasileira. Após adiamentos, indefinição sobre o lançamento e até a troca do presidente do BC, começava a ganhar força o entendimento de que o Drex não seria mais uma moeda digital.

Em junho de 2025, durante a Febraban Tech, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi direto: “O Drex não é exatamente uma CBDC como a literatura trata”. Para ele, o projeto vai muito além da emissão de moeda, ao abrir caminho para um novo ecossistema de ativos digitais.

Leia também: “Não é exatamente uma CBDC”, diz Galípolo sobre o Drex

O foco passou a ser a tokenização. A lógica é simples: transformar direitos e ativos, como imóveis, títulos públicos ou recebíveis, em tokens digitais que podem circular em plataformas financeiras com mais rapidez e segurança. Isso permitiria, por exemplo, que um crédito fosse concedido em segundos, com garantias registradas e verificadas em tempo real entre instituições diferentes. “O Drex está muito mais relacionado com o processo de tokenização de ativos”, disse Galípolo no evento.

O problema da privacidade

Mas essa virada não aconteceu por acaso. O piloto inicial do Drex enfrentou limitações tecnológicas, sendo um obstáculo central: a privacidade das transações. Conforme destacou o BC, as soluções tecnológicas testadas até então “não apresentaram a maturidade necessária para que se possa garantir o atendimento de todos os requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade dos cidadãos”.

Ou seja, era preciso garantir que dados pessoais e transações permanecessem protegidos, sem expor informações sensíveis nem violar a LGPD ou o sigilo bancário. Ao mesmo tempo, o Banco Central teria que ter poder para rastrear e verificar as operações, enquanto as instituições deveriam conseguir se conversar para realizar as transferência ou trocas de informação.

Fabio Araújo, coordenador do projeto, admitiu publicamente em 2023 que o Drex “ainda não tem o nível de privacidade exigido pela LGPD”, mesmo utilizando tecnologia blockchain permissionada (Hyperledger Besu). A situação resultou em um reajuste no cronograma: a fase inicial do piloto foi adiada, com a segunda etapa de testes programada apenas para 2025, em razão da necessidade de aprimorar mecanismos de proteção de dados.

O desafio técnico não era apenas assegurar sigilo, mas manter ao mesmo tempo a programabilidade, ou seja, as regas automáticas codificadas nos contratos inteligentes. Como explicou o executivo Marcos Viriato, da Parfin, ao Portal do Bitcoin no ano passado, soluções tradicionais como a criptografia total impedem a execução de smart contracts. Uma alternativa desenvolvida pela empresa criptografa a transação sem comprometer o contrato inteligente, mas isso aumenta a complexidade e reduz a escalabilidade da solução.

Leia também: Qual é o problema de privacidade do Drex e por que é tão difícil resolvê-lo

Além disso, o secretário executivo do BC, Rogério Lucca, reconheceu no Febraban Tech 2025 que, embora o piloto tenha avançado em termos comerciais, a tecnologia ainda não oferecia segurança e privacidade conformes à legislação vigente. Essa limitação, disse ele, “não é específica do Brasil, mas inerente ao estágio atual da tecnologia”.

Neste cenário, Fabio Araújo, coordenador do projeto, foi enfático ao dizer que a blockchain, inicialmente vista como base para o sistema, não atendia às exigências legais do país. “A blockchain é uma caixa de vidro, não serve para lidar com dados sensíveis sob a LGPD e a Lei de Sigilo Bancário”, afirmou.

Tokenização sem blockchain?

Diante dessas barreiras, o Banco Central decidiu dar um passo atrás: a primeira versão do Drex, prevista para 2026, não usará blockchain. O foco inicial será na reconciliação de gravames, isto é, o controle sobre garantias oferecidas em operações de crédito. Isso permitirá maior eficiência na liberação de financiamentos, especialmente para pessoas físicas e pequenas empresas.

A decisão dividiu opiniões no mercado. Parte dos especialistas acredita que abandonar a blockchain, mesmo que temporariamente, dá mais velocidade ao projeto. “O BC liberou o caminho para que o setor privado acelere na tokenização”, avaliou Fabrício Tota, do MB. Outros, como Daniel Coquieri, da Liqi, alertam que a centralização excessiva pode descaracterizar a essência original do Drex: “Se vira apenas um sistema controlado pelo BC, perde o sentido pelo qual nasceu”.

Leia também: Decisão do BC de abandonar blockchain no Drex (no momento) pode acelerar tokenização, aponta mercado

O próprio Galípolo tenta equilibrar as visões. Para ele, a prioridade é resolver problemas concretos, não se apegar a tecnologias específicas. “A tecnologia tem que ser agnóstica”, disse, reforçando que blockchain pode voltar a ser considerada futuramente, mas apenas se mostrar viável diante das necessidades regulatórias e operacionais.

De fato, a estratégia agora é trabalhar em duas fases. A primeira, pragmática, entrega uma solução mais restrita, sem DLT (tecnologia de registros distribuídos). A segunda, ainda em estudo, pretende amadurecer o uso de smart contracts e até de redes descentralizadas, caso se mostrem adequadas.

Enquanto isso, o mercado acompanha com expectativa. Para empresas de tecnologia financeira, a plataforma pode criar um ambiente de inovação semelhante ao que o Pix representou para os pagamentos instantâneos. Só que, desta vez, o alcance vai além das transferências: envolve o crédito, os investimentos e a circulação de diferentes tipos de ativos.

Apesar dos atrasos e mudanças de rumo, o Banco Central insiste que o Drex será entregue. A meta é colocar a primeira versão no ar em 2026, ainda que com funções limitadas. O discurso oficial é de que é melhor lançar uma solução segura e funcional do que insistir em modelos que não atendem às exigências legais ou práticas.

No fim das contas, o Drex já não pode ser chamado de “real digital”. Ele é, hoje, a tentativa do Brasil de criar uma infraestrutura digital para tokenização, capaz de transformar a forma como o crédito e os ativos circulam no sistema financeiro. Resta saber se o Drex pode ser para a tokenização de ativos o que o Pix foi para os pagamentos digitais.

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[Fonte Original]

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