No centro do debate sobre a digitalização do sistema financeiro brasileiro, o Drex passa por um novo momento. O projeto do Banco Central (BC) nasceu como “real digital” e, ao longo do caminho, migrou para a ambição de ser uma plataforma de tokenização com múltiplos casos de uso e camadas tecnológicas.
Nas últimas semanas, sinais de que nem tudo precisaria rodar em blockchain acenderam alertas no mercado. Mas, na leitura de executivos que participam dos pilotos, essa discussão não significa o fim do Drex, e sim um ajuste de rota. Um deles é Marcos Viriato, CEO da Parfin, para quem o BC deve manter a trilha, ainda que com “passo diferente” e foco no que funciona em produção.
A chave, diz Viriato, é o relatório da fase dois, que ainda não foi publicado e deve orientar eventuais alterações na arquitetura e nos próximos passos do Drex. Ele lembra que a comunicação que gerou dúvidas sobre blockchain foi feita em um evento, não como anúncio formal do BC, o que explica parte do ruído.
Até aqui, o movimento padrão do regulador tem sido fechar uma fase, publicar o relatório e, só então, oficializar a etapa seguinte. No comunicado público de 4 de setembro de 2024, o BC listou os 13 temas aprovados para a fase dois, que se encerrou em julho e ainda não teve seu relatório apresentado.
Se a tecnologia divide opiniões, a missão de produto é mais clara para o executivo. Na sua definição, o Drex deve operar como “a camada de pagamento da economia tokenizada”: se um ativo (uma casa, um CDB, uma ação) está tokenizado, a liquidação precisa de moeda tokenizada, sob regras compatíveis com ativos regulados. Por isso, o projeto deixou de ser apenas um “meio de pagamento” para tornar-se plataforma, conectando participantes regulados e regras de emissão/custódia, avalia ele.
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Para Viriato, essa visão ajuda a entender a fala do BC de que nem todas as camadas precisam estar em blockchain, como a de interoperabilidade para travar/destravar ativos usados como colateral, ao passo que outras, ligadas à liquidação programável, podem se beneficiar ao usar DLT. A nuance, ressalta o executivo, é técnica e desenho de arquitetura: “Há componentes que fazem sentido on-chain e outros que não, dependendo do caso de uso.”
No balanço técnico, ele sustenta que privacidade deixou de ser o gargalo desde a primeira fase dos pilotos e que “todas as soluções testadas entregaram privacidade”. Para Viriato, o debate agora é escala, ou seja, quantas transações por segundo, como obter throughput e qual abordagem para cada operação. “Privacidade é by design e varia conforme o caso”, diz.
A leitura estratégica de Viriato é que o Drex precisa provar valor em produção: começar com um caso simples, mas real, ponta a ponta, que fique de pé em privacidade, programabilidade e disponibilidade, para depois escalar. Ele elogia o histórico de inovação do BC e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mesmo sob restrições orçamentárias, mas alerta que é hora de converter pilotos em entrega.
A Parfin participou de vários consórcios nos pilotos do Drex e sua solução de privacidade Rayls foi adotada em parte significativa dos casos de uso, em pelo menos sete dos 13 testes da fase dois.
Casos de uso avançam com ou sem Drex
Mesmo com o “banho de água fria” que o ruído sobre uso de blockchain causou, parte dos bancos manteve equipes e roadmaps para levar tokenizações internas à produção, diz Viriato, que reforça que mesmo assim há quem prefira esperar o relatório do BC.
Ele cita que casos de uso para contratos de financiamento de veículos, recebíveis de cartão, duplicatas, cotas de consórcio e CPRs e até uma rede de mercado de capitais estão em andamento mesmo com a desaceleração do processo do BC, sendo possível que um ou mais deles entrem em operação pública antes do Drex oficialmente ser lançado. Esse descolamento parcial não inviabiliza o projeto oficial do governo, mas reduz o “efeito caravana” de todo o mercado andando junto, avalia.
Sobre o ambiente internacional, Viriato lembra que a União Europeia já colocou de pé o MiCA, marco regulatório que criou regras uniformes para criptoativos e estabeleceu parâmetros específicos para stablecoins, que entrou em vigor em 2023. Nos Estados Unidos, a agenda federal de stablecoins ganhou tração no último ano, com propostas para dar segurança jurídica a emissores e prestadores de serviços.
No Brasil, o Marco Legal das Criptomoedas regulou prestadores de serviços de ativos virtuais e delegou ao Banco Central a regulamentação do setor, mas faltam regras específicas para emissores de stablecoins, um ponto importante para Viriato. Enquanto o projeto aguarda parecer, o mercado opera em compasso de espera. Na visão do executivo, a demora tem custo: trava investimento, cria dúvidas sobre capital regulatório e dificulta decisões de produto.
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Para o CEO da Parfin, a claridade regulatória e um caso real em produção e lançado publicamente são os ingredientes para o Drex ganhar maturidade sem deixar o Brasil perder espaço para outros mercados. Ele ressalta, porém, que aguardar o relatório da fase dois é importante para balizar decisões técnicas e regulatórias. Para ele, a comunicação recente sobre eventuais mudanças na arquitetura não equivale a um “fim de linha”, e sim a um ajuste que deve ser formalizado após a divulgação desse relatório.
Enquanto isso, o mercado segue se movendo: parte dos bancos mantém projetos de tokenização “in-house” rumo à produção, o que reforça a ideia de que o ecossistema não está parado, mas evidencia o custo da incerteza regulatória e o risco de perda de ritmo caso o país demore a detalhar regras, especialmente para stablecoins.
Confira abaixo os principais pontos da entrevista:
Portal do Bitcoin — O Drex deixou de ser apresentado como “moeda digital do BC” e passou a ser tratado como plataforma de tokenização. Na próxima fase, ao menos por enquanto, pode não usar blockchain. Qual é a sua leitura do momento e do que vem agora? É um problema ou um ajuste de rota?
Marcos Viriato — Vamos lá. Primeiro: o Banco Central fez um anúncio em evento, mas ainda não há uma comunicação 100% oficial no site da autarquia [sobre não usar mais blockchain]. Faltaram detalhes do que realmente será feito. Ficou algo como “talvez seja, talvez não”, sem a afirmação categórica que costuma aparecer nas comunicações oficiais do BC — do tipo “não vai ter mais” ou “vai ser dessa forma”. Para mim, foi um aviso informal ao mercado, e acredito que eles ainda vão oficializar.
Por que digo isso? A fase 2 do Drex, que envolveu 13 casos de uso, terminou em 31 de julho. E aquele anúncio foi divulgado cerca de uma semana depois. O padrão do Banco Central é encerrar uma fase, publicar o relatório dessa etapa — que ainda não saiu — e só então comunicar oficialmente o que será feito, como será feito e quais serão as novas fases.
Por isso pegou o mercado de surpresa. Ninguém estava esperando. Hoje, de fato, ainda não se sabe o que será a terceira fase — nem mesmo se ela vai existir — e se haverá uso de DLT. O fato é que o mercado aguarda o relatório conclusivo dos testes com os 13 casos de uso, e, a partir dele, o Banco Central deve ter uma comunicação oficial indicando os próximos passos.
Pelo que foi ventilado, o Drex tende a se posicionar como uma plataforma de conexão e interoperabilidade que permita travar e destravar ativos num primeiro momento, para que possam ser usados como colateral. Esses ativos podem estar em blockchain ou não. E há componentes dessa plataforma que, por natureza, não precisam estar em blockchain. A camada de interoperabilidade que faz o “trava/destrava”, por exemplo, talvez não faça sentido rodar em blockchain.
Isso ajuda a explicar a confusão: sem um comunicado formal e completo, surgem interpretações diferentes — inclusive a de que não haverá mais blockchain. O que deve acontecer, seguindo o histórico do BC, é a publicação do relatório da fase 2 em um ou dois meses. Está um pouco atrasado por conta dos incidentes de segurança recentes, que afetaram o cronograma, mas a expectativa é que venha esse relatório com a visão dos próximos passos — e, inclusive, se haverá um próximo passo.
Quanto ao que eu espero: houve um investimento grande de tempo e recursos — do Banco Central e também dos bancos. Na minha visão, chegamos a um ponto de não retorno. O BC deve continuar a jornada, talvez em um ritmo menor ou com uma estratégia um pouco diferente, mas não acredito que vá abandonar o Drex. Eles já disseram isso, aliás.
Quando se fala em “não abandonar”, não significa que tudo terá de rodar em blockchain. O mundo segue nessa direção, com EUA discutindo regulação clara de stablecoins. Lá não há CBDC, mas o sistema financeiro caminha para adotar stablecoins como forma de liquidação. Ativos tokenizados estão avançando. O Banco da Inglaterra está se movendo, a Europa também.
Não dá para o Banco Central do Brasil ficar distante. Pode ser que não seja mais no formato de uma CBDC; talvez seja via stablecoins. De todo modo, o BC terá de regular e participar, porque isso impacta diretamente a forma como o mercado financeiro opera. Tanto o Banco Central quanto a CVM precisam estar próximos, orientando e ajudando o ecossistema a avançar, especialmente o ligado ao mercado financeiro, os bancos e demais agentes do sistema.
PB — As idas e vindas e a demora para uma entrega concreta podem fazer o Brasil perder protagonismo em relação a EUA e Europa? Onde estamos nessa comparação?
MV — Eu vejo os Estados Unidos estavam mais atrás e a Europa mais à frente por conta da MiCA (Markets in Crypto-Assets). A MiCA abrange tanto a regulação das entidades VASP quanto a emissão de stablecoins na jurisdição europeia, além de uma taxonomia para ativos lastreados. Está bem completo.
Nos Estados Unidos, o caminho começou pela regulação dos emissores de stablecoin, o que considero excelente. Mesmo sem uma regulação federal abrangente para VASPs, havia licenças estaduais. Você podia ser uma corretora cripto licenciada em um estado, mas, para operar no país inteiro, era um inferno: precisava obter autorizações em dezenas de estados. Por isso, discute-se uma regulação em nível federal.
No Brasil, tivemos a lei no fim de 2022 que regula VASPs. Depois da eleição do novo governo, coube ao Executivo apontar o Banco Central como regulador. O BC abriu uma consulta pública no ano passado, depois outra. Em teoria, recebeu todas as contribuições e publicou os drafts das resoluções. O que ficou faltando no Brasil, e é um gap que já deveria ter sido endereçado, é uma regulação específica para emissores de stablecoin, tanto domésticos quanto estrangeiros. Há um projeto de lei para isso. Alguns entendem que a legislação atual de moeda eletrônica já permitiria enquadrar certos casos, mas, na nossa visão, cabe aprimoramento. O Congresso tenta puxar essa responsabilidade com um novo texto. Teve, inclusive, uma conferência organizada pela Becrypto, duas semanas atrás, para discutir o tema.
Em relação às VASPs, desde a promulgação da lei no fim de 2022 houve uma expectativa de que as regras sairiam até o fim de outubro. Não houve comunicação, e o mercado fica ansioso. Essa demora tem custo: gera incerteza sobre investir ou não para oferecer cripto no Brasil — inclusive para nós. Que requisitos serão exigidos? Vai precisar de capital regulatório? Qual o impacto para o nosso negócio e para os clientes?
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o governo assumiu há uns oito meses e, em cinco meses, lançou uma lei para regular emissões de stablecoin. O tema estava parado e eles destravaram rápido — o mercado já está voando. Então, no Brasil, a demora na regulação das VASPs gera incerteza, e há certa urgência desde a lei. Além disso, a falta de regras claras para emissores de stablecoin, na lei e na regulação, pode trazer problemas. Já existem vários emissores por aqui. Esse é o ponto que precisa melhorar no Brasil.
PB — O que já está pronto no Drex? Quais casos de uso vocês podem detalhar? E essa demora atrapalha, ou está levando os bancos a lançar soluções próprias, independentemente do projeto?
MV — Quando o Banco Central fez aquele anúncio, ainda que não pelas vias formais do BC, o movimento esfriou. Bancos desmobilizaram equipes. Mesmo assim, alguns com quem vínhamos trabalhando mantiveram projetos com objetivo de ir para produção independentemente do Drex. Por quê? Porque tratam de tokenizações internas, dentro do próprio banco, para oferecer esses ativos aos seus clientes.
É uma troca de tecnologia: em vez de um sistema centralizado, passa-se a usar blockchain para tokenizar CDB, debêntures, etc, e a oferta fica restrita ao público do próprio banco. Não tem a “beleza” de um ecossistema com todos os participantes conectados. Mas vários bancos disseram: “já que investimos, vamos colocar em produção”.
Há casos avançando como tokenização de contratos de financiamento de veículos, de recebíveis de cartão, de duplicatas, de cotas de consórcio e de CPR. Algumas empresas decidiram seguir em frente; outras preferiram esperar o Drex.
Paralelamente, existe a discussão de uma rede de mercado de capitais — em diálogo com uma associação do setor — que pode, eventualmente, ir a produção antes do Drex. Nessa rede, bancos também participariam.
Em resumo: embora o Drex tenha perdido tração, uma parte dos 16 participantes do piloto continuou as iniciativas e pretende colocá-las em operação. Essa mesma parcela — ou um pouco mais — olha para outras frentes de mercado, como essa rede do mercado de capitais.
Se o Drex tivesse um cronograma claro para entrar em produção já no ano que vem, veríamos o sistema financeiro inteiro correndo atrás. Como o Drex saiu de cena por ora, o movimento fica concentrado numa fração daqueles 16. É menos “todo mundo ao mesmo tempo” e mais “alguns seguem, outros esperam”.
PB — Os desafios do Drex hoje estão mais em privacidade ou em escalabilidade? Qual é sua avaliação do estágio atual e do que ainda falta?
MV — A discussão sobre privacidade está acontecendo no mundo inteiro, não é algo só do Brasil. No ano passado, por exemplo, trabalhamos com o JPMorgan para implementar, na rede privada deles, uma solução de privacidade voltada ao próprio ecossistema do banco. O projeto foi muito bem-sucedido. O Vitalik Buterin, do Ethereum, anunciou em abril o roadmap de privacidade da rede. Participamos, inclusive, de um evento da Mastercard em Nova York sobre privacidade em blockchain. Ou seja, o tema está super aquecido e as tecnologias evoluíram bastante — inclusive as nossas.
No Drex, a privacidade foi endereçada. As transações tiveram privacidade — na nossa solução e nas demais. Na fase 1, as três propostas entregaram privacidade; isso está no relatório do Banco Central. O que se debate é o “trilema”: privacidade com programabilidade e escalabilidade. Na fase 2, falando por nós, avançamos para resolver o trilema com programabilidade plena, privacidade e um nível de escalabilidade que agora consideramos muito alto.
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Escalabilidade pode vir por três caminhos. Vertical: você aumenta a capacidade da máquina (mais CPU, mais memória) e ganha desempenho. Horizontal: paraleliza o processamento, distribuindo lotes de transações em vários nós. E por “batch”: em vez de enviar transações uma a uma, você agrupa um volume grande e processa de uma vez. Na nossa solução, trabalhamos as três abordagens — vertical, horizontal e em batch — e escolhemos a combinação conforme o caso de uso.
Um ponto importante: privacidade não é um “botão” que se liga e pronto. É “privacy by design”. É preciso entender o caso de uso e desenhar a privacidade adequada — e o mesmo vale para escalabilidade (“scalability by design”). Na largada, nem os requisitos estavam tão claros. Qual é a meta de TPS? Quantas transações paralelas são necessárias? Sem um parâmetro, cria-se uma expectativa difusa. De lá para cá, porém, as soluções evoluíram muito. Quando o BC começou a testar privacidade, as tecnologias eram incipientes; hoje estão bem mais maduras.
Por isso, insisto: o problema não é “privacidade”. Ela já havia sido alcançada na fase 1. A pergunta correta é: privacidade com qual grau de programabilidade e de escalabilidade? Mil TPS é bom ou ruim? Mil TPS com dez fluxos paralelos resolve? Depende do caso de uso.
Também surgiram novos requisitos durante o caminho. No início, falava-se da privacidade do “dinheiro” (padrões tipo ERC-20), depois vieram demandas para títulos públicos (padrões como ERC-1155) e para NFTs (ERC-721). Quando você envolve outros ativos tokenizados, a complexidade sobe muito. Imagine uma debênture distribuída a um milhão de clientes, por três bancos diferentes. Cada um fica com um “pedacinho”. Na hora de pagar juros semestrais, é preciso pegar o dinheiro enviado pelo emissor e distribuir proporcionalmente a todas as carteiras preservando a privacidade. Não é trivial: depende de como o smart contract foi implementado, de onde está a custódia, de como identificar cada fração, e assim por diante.
Dos 13 casos de uso testados na fase 2, implementamos seis ou sete — todos de alta complexidade. Acreditamos que, no geral, atingimos os objetivos de cada caso; alguns performaram melhor, outros menos. Se fosse para dar uma nota média, diria 7 (com casos perto de 8 e outros por volta de 5). O importante é que a direção é de avanço: programabilidade plena, privacidade e escalabilidade combinadas de acordo com o que cada caso realmente exige.
PB — Se você tivesse que explicar para quem é leigo em blockchain e mundo cripto, o que é o Drex hoje e o que ele pretende ser?
MV — Eu enxergo o Drex como a camada de pagamentos da economia tokenizada. O que isso quer dizer, na prática? Se você quer ter um ativo tokenizado — um imóvel, uma ação, um CDB — você precisa da representação “tokenizada” do dinheiro para fazer a troca. Não faz sentido ter o ativo em blockchain e liquidar em sistemas separados. A emissão do “dinheiro” em uma infraestrutura compatível facilita essa troca.
A partir daí, como estamos falando de ativos financeiros regulados, entram outros controles. Por exemplo: você não pode pegar uma ação tokenizada e guardar na sua carteira MetaMask, porque, pela regulação, ações precisam estar sob custódia de um custodiante qualificado. Então, quando o Drex traz participantes e entidades reguladas, regras de emissão e circulação desses ativos, ele deixa de ser apenas uma “camada de pagamento” e passa a ser uma plataforma.
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Na minha visão, o Drex começou como um meio de pagamento para liquidar transações de ativos tokenizados e evoluiu para uma plataforma de tokenização mais ampla: inclui a moeda para pagamento, os participantes regulados, as regras de custódia e de circulação, e a interoperabilidade necessária para que tudo funcione com segurança e conformidade.
Resumindo em linguagem simples: o Drex é a “infra” que permite que dinheiro e ativos vivam no mesmo ambiente digital, com as regras do mercado financeiro valendo lá dentro. Por isso, eu o vejo muito mais como plataforma de tokenização do que simplesmente um novo meio de pagamento.
PB — Para encerrar: qual sua leitura do cenário brasileiro de cripto e tokenização, incluindo o Drex, e que horizonte você vê para uma estreia prática do projeto?
MV — Os reguladores brasileiros, Banco Central e CVM, sempre estiveram à frente. Infelizmente, trabalham com orçamento muito apertado para o tamanho e a complexidade do nosso mercado financeiro. Na minha visão, bancos e associações de mercado deveriam reforçar as estruturas do regulador ou, ao menos, ajudar para que fiquem mais robustas. O mercado brasileiro é grande demais para ter um regulador com falta de recursos.
Lembra quando começou o Drex? Servidores do Banco Central estavam há oito anos sem reajuste e houve greve. Como esperar que um regulador lidere uma tecnologia extremamente inovadora sem recursos para investir em infraestrutura e pessoas? Não combina. Apesar disso, BC e CVM “tiram leite de pedra” e entregam coisas avançadas, o que projeta o Brasil como um dos melhores ambientes de negócios, inovação e mercado financeiro no mundo.
Falar em Drex “já no ano que vem” me parece prematuro. Primeiro, é preciso esperar o relatório da fase 2 e a visão regulatória subsequente. A partir daí, dá para opinar com mais segurança.
Na minha opinião pessoal, o Drex deveria continuar de algum modo, com foco em colocar um caso quase produtivo — talvez mais simples, em vez de 13 ou 20 casos. Algo que permita dizer: “está de pé em privacidade, programabilidade e disponibilidade; vamos começar assim”. Tecnologia amadurece em produção.
Posso dar um exemplo nosso: desde que colocamos a nossa rede em produção, em agosto do ano passado, ela evoluiu muito em maturidade operacional e emissão de ativos. Já são quase R$ 500 milhões em ativos tokenizados, operando em uma infraestrutura de mercado de grande porte na América Latina e funcionando, ganhando musculatura e crescendo.
Se eu pensasse o Drex hoje, seria nessa lógica: dar o primeiro passo com um caso bem definido, comprovar os pilares técnicos e regulatórios, e depois ir sofisticando e avançando gradualmente.
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