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domingo, setembro 21, 2025

Artigo: ‘Nova geração cansou da briga política permanente e quer virar a página’

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A condenação de Jair Bolsonaro começa a definir um novo cenário político-afetivo. Embora uma parcela do eleitorado esteja desiludida com a decisão, uma geração mais jovem se mostra cansada do embate permanente. Uma demanda surge no país, sem ânimo de revanche, uma nova etapa, a busca por um novo equilíbrio. Maioritariamente contra anistia, o grupo busca olhar para frente, cicatrizar as feridas.

Uma pergunta que muitos se fazem ordena esse pensamento: as brigas e diferenças de cada lado da polarização são por questões de fundo ou estão permeadas por rasgos exacerbados, egos e falta de disposição para conversar e debater argumentos? “Parece que é uma disputa de beleza, de egos, vestem personagens, não vem propostas”, pondera uma jovem de 27 anos de São Paulo, eleitora de Bolsonaro em 2022. “São a mesma coisa Lula e Bolsonaro, se maquiam de personagens”, complementa uma jovem de 34 anos de Belo Horizonte, que votou nulo em 2022.

Esse dilema é semelhante ao conceito psicanalítico do “narcisismo das pequenas diferenças”, o apego a um “rasgo”. As “pequenas diferenças” (que para alguns se transformam em enormes) funcionam como um ponto de polarização externa que fortalece a identidade. Se cada um defende “verdades absolutas” escritas com tinta na pedra, a conversa não dá liga. Ou não dava.

Quais são as “verdades” que sustentam o clima pós-condenação de Bolsonaro:

  • Alguns jogam a toalha para um embate que parece infinito: “não tem jeito mesmo, se ficar no meio perde, como já aconteceu com Marina, Ciro, Amoedo”. Acreditam numa calmaria momentânea, e que próximo das eleições volta tudo de novo.
  • Bolsonaristas são mais fechados na manutenção da polarização.
  • Eleitores com mais de 50 anos compraram a briga de forma ferrenha. Estão mais pilhados.

Este último ponto sedimenta uma percepção diferente por idade. “As manifestações do 7 de Setembro tinham muitas pessoas mais velhas, compraram a pilha, estão mais inflamados. Minha geração está buscando um equilíbrio sem radicalizar, você não vê as pessoas com a camisa com Bolsonaro atrás das grades”, diz uma jovem paulista de 29 anos, que votou em Bolsonaro em 2018 e em Lula em 2022.

Abre-se o espaço para uma nova leitura, até agora pouco visualizada: uma nova geração cansou da briga permanente, quer virar a página e seguir em frente com seus projetos. Busca um equilíbrio entre manter suas convicções, mas sem radicalizar. “Meu grupo está se resolvendo, na tranquilidade, sem pôr o dedo na ferida, o pessoal já passou muito estresse, a gente quer paz, Lula ganhou, é sair na rua e seguir a vida”, diz um jovem carioca de 25 anos, que votou em Lula em 2022.

Dois motivos são apontados para explicar este cenário de certo relax afetivo: as provas apontadas no julgamento de Bolsonaro convenceram a eleitores mais moderados do bolsonarismo que a lei deve prevalecer. Somados a isso, os efeitos e discussão do tarifaço geram um consenso em favor de uma postura soberana do Brasil, contra quem defende desde o exterior interesses personalistas. Parece que ambos os pontos funcionaram como plataforma real para dialogar, conversar sobre algo tangível.

Se a situação do país tem como metáfora visual uma bomba ou ponto de interrogação como retrato das “incertezas políticas que sofre o Brasil”, a percepção da situação própria se materializa de forma diferente. Tem os traços de um caminho longo, com curvas, não linear. Ou de uma planta que precisa ser regada. Há um signo relevante embutido nesse olhar: existe maior conforto emocional em muitos dos entrevistados. A sensação de justiça sendo feita produz certo relaxamento nas tensões.

“Depois da condenação não tem aquelas discussões acirradas, vejo muita gente caindo na real, que não tem volta”, diz um jovem de Joinville, que votou em Amoedo no primeiro turno de 2018 e em Lula no segundo turno em 2022.

Qual seria um caminho possível? Para esta parcela do eleitorado indecisa, uma direita “mais humanizada”, que abandone os postulados bolsonaristas antivacina e pró-anistia. Será que rola?

Eduardo Sincofsky é psicólogo, mestre em Análise da Opinião Pública e trabalha com pesquisa qualitativa há mais de 30 anos. É diretor do Projeto Plaza Publica, barômetro que mede qualitativamente a agenda do país de maneira periódica.

[Fonte Original]

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