Aos 55 anos e atualmente em cartaz com a peça “Férias”, Drica Moraes compartilhou publicamente uma experiência pessoal que muitas mulheres enfrentam, mas que ainda é pouco discutida: a menopausa precoce induzida por tratamento oncológico. Em entrevista recente, a atriz revelou que entrou na menopausa aos 39 anos, como consequência de um câncer.
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“Hoje, tenho um estilo de vida mais saudável, mais estabilizado, os hormônios se acalmaram, porque entrei na menopausa muito cedo, quando tive o câncer, com 39 anos. Quando ouço sobre esse assunto, para mim, parece que faz muito tempo, que não foi nem nessa encarnação”, contou a atriz à “Caras”, ao relembrar o impacto da condição em sua vida.
Mas afinal, por que a menopausa pode ser antecipada em casos de câncer? O climatério, fase de transição para o fim do ciclo menstrual, é um processo natural na vida da mulher, geralmente entre os 45 e 55 anos. No entanto, em pacientes oncológicas, esse processo pode ser abruptamente acelerado devido aos tratamentos realizados.
— Essa é uma condição que merece mais visibilidade, já que afeta milhares de mulheres submetidas a tratamentos oncológicos e provoca mudanças abruptas no corpo e na mente. Chamamos de menopausa induzida pelo câncer quando há uma interrupção de forma súbita da função ovariana por causa de procedimentos como quimioterapia, radioterapia pélvica, bloqueio hormonal ou cirurgia para remoção dos ovários — explica o oncologista Ramon Andrade de Mello, professor universitário e pesquisador com experiência internacional em tratamento de câncer.
A ginecologista Ana Paula Fabricio, especialista com Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), reforça a gravidade dessa condição em mulheres mais jovens:
— Esse processo pode ocorrer em qualquer idade, mas os impactos são ainda mais significativos em mulheres jovens, nas quais o quadro é classificado como menopausa precoce. Estudos apontam que a quimioterapia pode provocar menopausa em cerca de 50% das pacientes que ainda não haviam passado por essa fase da vida, chegando a quase 100% entre as que estão próximas dos 50 anos.
Diferente da menopausa natural, em que a queda hormonal ocorre de forma gradual, a induzida por tratamentos contra o câncer costuma ser repentina, e, por isso, os sintomas tendem a ser mais intensos.
— Ondas de calor, insônia, ressecamento vaginal, dor nas relações sexuais, alterações de humor, perda de massa óssea, ganho de peso e redução da libido estão entre as queixas mais comuns. Além das questões físicas, há um peso emocional considerável: muitas mulheres relatam sensação de envelhecimento precoce, luto pela perda da fertilidade e dificuldade para manter a vida sexual — detalha a Dra. Ana Paula.
Para o Dr. Ramon, a dimensão emocional dessa experiência não pode ser ignorada: — O impacto psicossocial é profundo e, muitas vezes, negligenciado. A prioridade do tratamento oncológico é eliminar o câncer, mas sintomas e efeitos colaterais em segundo plano também devem ser levados em consideração para que não afete de forma abrupta a qualidade de vida da mulher.
Diante disso, o manejo da menopausa induzida pelo câncer deve ser feito com uma abordagem multidisciplinar. O oncologista desempenha papel fundamental na identificação dos riscos e na escolha de terapias menos agressivas, quando possível.
— Ele pode também falar sobre a possibilidade de preservação da fertilidade antes do início do tratamento, como o congelamento de óvulos ou o uso de bloqueadores ovarianos para tentar reduzir o impacto sobre a função reprodutiva — acrescenta o Dr. Ramon.
Já a atuação do ginecologista é essencial no acompanhamento contínuo da saúde sexual e reprodutiva. — Cabe ao especialista indicar tratamentos hormonais ou não hormonais para aliviar os sintomas e prevenir complicações. Além disso, é preciso orientar a paciente sobre cuidados com os ossos, o coração e a saúde mental. E, claro, melhorar o bem-estar dessa paciente em um momento que é delicado — pontua a Dra. Ana Paula.
O tratamento pode incluir a terapia de reposição hormonal (TRH), embora essa opção deva ser cuidadosamente avaliada, sobretudo em pacientes com tumores hormônio-dependentes.
— Quando a reposição não é possível, existem alternativas não hormonais capazes de reduzir fogachos, melhorar o sono e aliviar a secura vaginal. Ajustes no estilo de vida, prática regular de exercícios, alimentação equilibrada e apoio psicológico também são medidas essenciais para garantir qualidade de vida — orienta a ginecologista.
A Dra. Ana reforça ainda a importância de uma atenção integral e contínua: — Monitorar a densidade óssea, prevenir doenças cardiovasculares e promover um diálogo aberto sobre sexualidade fazem parte do cuidado integral que essas mulheres necessitam.
Mais do que tratar a doença, o olhar sobre a paciente deve ser ampliado. Para o Dr. Ramon, essa é uma questão de dignidade e cuidado humanizado. — A menopausa induzida pelo câncer é uma realidade que não deve ser invisível. Reconhecer seus impactos e investir em acompanhamento especializado significa oferecer não apenas mais anos de vida, mas também mais qualidade de vida para os anos que virão — conclui.