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segunda-feira, setembro 15, 2025

Rússia torna produção de drones uma prioridade máxima e aumenta ataques contra a Ucrânia

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Quando a Rússia introduziu drones autodestrutíveis do Irã em sua guerra contra a Ucrânia há três anos, Moscou ganhou as manchetes em todo o mundo ao lançar 43 deles na Ucrânia em um único ataque. Este mês, em apenas uma noite, a Rússia enviou mais de 800 drones explosivos e iscas cruzando a fronteira.

O aumento drástico é resultado de enormes saltos na produção russa de drones de ataque descartáveis, que são priorizados pelo presidente Vladimir Putin e agora estão sendo montados internamente em duas instalações principais. O Kremlin também pressionou por grandes aumentos na fabricação dos drones táticos menores que a Rússia usa na linha de frente, recrutando governos regionais russos, fábricas e até mesmo estudantes do ensino médio para a iniciativa.

O aumento da oferta da Rússia, combinado com novas tecnologias e táticas, criou um desafio colossal para a Ucrânia, que desfrutava de uma vantagem na guerra com drones no início do conflito, mas que Moscou conseguiu corroer.

A Rússia está usando os drones de ataque, juntamente com mísseis e iscas, para saturar as defesas aéreas e montar ataques em massa às instalações de produção de armas, infraestrutura energética e cidades da Ucrânia. Kiev fez grandes avanços por conta própria na realização de ataques com drones nas profundezas da Rússia e, neste domingo, atingiu uma importante refinaria de petróleo perto de São Petersburgo. Mas os bombardeios russos são maiores e mais sofisticados, e os militares ucranianos estão se esforçando para adaptar suas táticas para se defender contra eles.

Bombeiros ucranianos apagam incêndio no prédio do Museu Shukhevych após um ataque de drone russo, nos arredores de Lviv — Foto: Serviço de Emergência Estadual da Ucrânia / AFP

A ameaça se espalhou para o território da Otan na semana passada. Pelo menos 19 drones russos sobrevoaram a Polônia na madrugada de terça para quarta-feira, segundo o governo do país, e apenas alguns foram abatidos. No sábado, o Ministério da Defesa da Romênia informou que dois de seus caças interceptaram um drone no espaço aéreo romeno em meio aos ataques russos à vizinha Ucrânia. Os dois episódios demonstraram a dificuldade que a aliança ocidental enfrentaria para se defender contra os tipos de ataques que Moscou agora é capaz de realizar. No futuro, ataques individuais da Rússia podem envolver milhares de drones.

— A guerra atingiu outro ponto de inflexão na forma como os drones estão sendo usados, tanto na linha de frente quanto nas campanhas de ataque conduzidas pela Rússia e pela Ucrânia— afirmou Michael Kofman, pesquisador sênior do Carnegie Endowment for International Peace.

A Rússia afirma que seus drones de ataque unidirecionais têm como alvo instalações ligadas à guerra. Mas eles também atingiram hospitais, escolas, prédios de apartamentos e parques onde crianças brincam, matando muitos ucranianos.

Acima de tudo, os drones espalham o terror, levando a guerra para cidades distantes da linha de frente, muitas vezes no meio da noite, tornando praticamente impossível dormir durante ataques em grande escala. O objetivo é desmoralizar os ucranianos e minar sua vontade de suportar a guerra.

Kofman destaca que havia uma grande diferença entre os drones menores que a Rússia estava usando na linha de frente para avançar suas forças e os drones de ataque unidirecionais que estão sendo usados para fins de bombardeio.

— Apesar de todos os danos que estão sendo causados, pelo que sabemos sobre os esforços para vencer uma guerra por meio de bombardeios, por si só, é improvável que isso tenha sucesso — destacou o especialista. — Isso não é um ataque relâmpago, e o ataque relâmpago também não foi bem-sucedido para a Alemanha.

Os ataques com drones da Rússia começaram a se intensificar em setembro do ano passado, o primeiro mês da guerra em que Moscou enviou mais de mil drones para a Ucrânia, de acordo com um conjunto de dados criado pelo The New York Times usando números da Força Aérea Ucraniana. Este ano, os números dispararam.

Até agora, a Rússia enviou mais de 34 mil drones de ataque e iscas para a Ucrânia em 2025, quase nove vezes o número do mesmo período do ano passado, segundo os dados do Times. Dos drones que Moscou enviou este ano, a Ucrânia disse ter derrubado 88% deles, atirando neles ou interferindo eletronicamente em seus sinais. Esse número é inferior aos quase 93% relatados por Kiev em 2024.

Durante uma noite no primeiro fim de semana deste mês, a Rússia enviou um número recorde de 810 drones de ataque e iscas para a Ucrânia. Kiev afirmou ter derrubado cerca de 92% deles, mas isso ainda significava que 63 conseguiram passar. A Ucrânia disse que 54 atingiram alvos em 33 locais diferentes. Os dados não puderam ser verificados de forma independente.

Prefeito de Kharkiv compartilha imagens de ataque de drone em área residencial — Foto: AFP
Prefeito de Kharkiv compartilha imagens de ataque de drone em área residencial — Foto: AFP

Por trás desses números impressionantes está uma revolução na produção de drones na Rússia. O governo de Putin sinalizou, desde o alto escalão, que os drones são uma prioridade crucial para a nação, que mobilizou recursos públicos e privados para criar um império de fabricação de drones.

Em um fórum econômico recente na cidade russa de Vladivostok, quase todas as regiões russas participantes incluíram uma exposição sobre os drones que estavam produzindo. Estudantes e trabalhadores estrangeiros foram trazidos para fabricar drones. A Rússia aproveitou suas relações cordiais com o Irã e a China para obter know-how e peças.

Analistas estimam que a Rússia agora é capaz de produzir cerca de 30 mil drones de ataque baseados no projeto iraniano por ano. Alguns acreditam que o país poderá dobrar esse número em 2026. Os aumentos explicam por que a Ucrânia, apesar de desenvolver defesas aéreas sofisticadas e tecnologia própria de drones, ainda sofre com os ataques de drones russos.

— A resposta é simples e direta— disse Mykola Bielieskov, analista militar do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos, administrado pelo governo da Ucrânia . — Eles começaram com talvez centenas por mês, depois 2 mil a 3 mil por mês no primeiro trimestre deste ano, agora com 5 mil a 6 mil por mês. Com certeza, mais deles vão passar por nossas defesas aéreas — destacou ele sobre as incursões de drones russos.

Novas táticas e tecnologia

Os drones também avançaram tecnologicamente, com melhores sistemas de orientação, maior resistência a interferências e novos tipos de ogivas. E a Rússia também mudou suas táticas.

Moscou está enviando os drones de ataque em enxames, ou ondas, e direcionando-os por trajetórias confusas para desviar a atenção dos alvos reais. Está enviando muito mais iscas, feitas de espuma pintada e compensado, que às vezes contêm pequenas ogivas e são indistinguíveis dos drones reais no céu. E está contornando os campos abertos onde as equipes de defesa aérea ucranianas trabalham, sobrevoando rios e florestas. Quando os drones entram nas cidades, são mais difíceis de abater devido aos edifícios altos e aos riscos para os civis.

— Por isso, voam mais alto. Voam em ondas ou em grupos; depende de como estão programados. Basicamente, trata-se de uma questão de escala. Trata-se de mudanças nas táticas russas. Trata-se de mudanças na orientação — ressaltou Bielieskov.

À medida que a Rússia começou a produzir mais drones de ataque e a usar mais iscas, a Ucrânia se apressou em criar novas maneiras de derrubá-los.

Unidades de defesa aérea abateram drones e iscas do céu. Equipes móveis de soldados em caminhonetes abatem drones, muitas vezes com metralhadoras pesadas. E a Ucrânia também descobriu como interferir eletronicamente nos drones. Sistemas caros de alta tecnologia fornecidos pelo Ocidente protegem principalmente as grandes cidades e infraestruturas essenciais e são voltados principalmente para mísseis inimigos.

Konrad Muzyka, analista militar da Rochan Consulting na Polônia, disse que achava difícil tirar conclusões com base nos números oficiais da Ucrânia. Ele afirmou que a situação das defesas da Ucrânia contra drones pode ser pior do que a Força Aérea retrata.

— Acho que eles estão derrubando menos drones do que relatam — afirmou ele.

Tem sido um jogo de gato e rato em constante mudança. Quando a Rússia começou a voar drones mais alto, a Ucrânia respondeu empregando drones interceptadores baratos, equipados com radar. Mas seu uso ainda é limitado, segundo Kofman.

— Se eles conseguirem ampliar isso, provavelmente poderão resolver o problema da saturação com o tempo. É uma questão de produção e implantação em escala — afirmou o pesquisador.

Soldado na região nordeste de Kharkiv, na Ucrânia, prende explosivos a um drone para uma missão de ataque a um alvo russo — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times
Soldado na região nordeste de Kharkiv, na Ucrânia, prende explosivos a um drone para uma missão de ataque a um alvo russo — Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times

Na linha de frente, disse Kofman, a Rússia vem diminuindo a diferença com a Ucrânia em relação aos drones, um sinal preocupante para Kiev, que há muito tempo conta com sua superioridade na guerra com drones para compensar suas reservas menores de pessoal e armamento.

Lá, a Rússia foi pioneira no uso generalizado de drones que evitam interferências conectando-se a controladores com cabos de fibra óptica de quilômetros de comprimento. O país também introduziu o Rubicon, uma unidade de drones de elite, e tem como objetivo construir um ramo militar inteiro chamado “Forças de Drones”.

Kofman destacou que a vantagem da Ucrânia “diminuiu nos últimos meses, tendo em vista que a Rússia implantou suas próprias formações de drones de elite e uma melhor organização na forma como eles são implantados”.

[Fonte Original]

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