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segunda-feira, setembro 22, 2025

Vinhos brancos e com baixo álcool e uísque: diretora da ProWine São Paulo revela tendências do mercado de bebidas

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Às vésperas da 6ª edição da ProWine São Paulo, que será do dia 30 deste mês a 2 de outubro, a diretora Malu Sevieri aponta as tendências no consumo de vinhos e destilados no país. O evento é a maior feira de vinhos e destilados das Américas, com mais de 15 mil visitantes e 1.400 marcas expositoras. São 34 países participantes, com novos produtores, como Chipre, Geórgia, Armênia, Moldávia, Romênia, Cuba, Ucrânia e Panamá. Em entrevista exclusiva, ela revela que o interesse das marcas europeias voltou a ser o mercado brasileiro, após a China começar a produzir seus rótulos e o tarifaço dos Estados Unidos.

Para Malu, não se pode comparar o mercado de vinho no país e na Europa, já que o vinho é feito no Brasil há 160 anos. Ela avalia ainda que o consumo de vinho do país deve manter seu crescimento, causado por fatores como a diversificação da oferta quanto com a educação da população. Como apostas para os próximos dois anos, ela aponta o maior consumo de vinhos brancos e com menor teor alcoólico, além de uísque.

Veja os principais pontos da entrevista:

A ProWine é uma plataforma de negócios. A gente se encontra uma vez por ano. Os produtores, os importadores têm a oportunidade de apresentar lançamentos, tendências, para quem vai fazer essa distribuição. Quem visita a feira é ou o profissional, ou quem vai fazer a distribuição desses vinhos aqui no Brasil. Noventa e cinco por cento dos expositores são produtores de vinho.

Público nos corredores da ProWine São Paulo — Foto: Divulgação ProWine

Depois da China e dos EUA, o Brasil no centro das atenções

A Prowine cresce nos dois lados, tanto no internacional quanto no brasileiro. Mas é um reflexo, eu sempre falo isso. A feira não é só o que a gente quer fazer ou o que o produtor quer. Se o mercado estivesse ruim, se não fosse um mercado atrativo, a gente não teria esse crescimento constante de produtores presentes. Temos novos países vindo para a feira este ano.

Eu diria que, até 2022, mais ou menos, muitos dos produtores europeus, que a gente chama do Velho Mundo, estavam procurando novos mercados consumidores na Ásia. No geral, na Europa, cai o consumo de vinho. O único país que aumentou o consumo de vinho no último ciclo foi Portugal. Todo o resto teve queda constante, mas a produção não diminui. Eles precisam achar quem vai consumir. E estavam muito focados na China. Estavam naquela crescente, todo mundo estava acreditando. “Vou para a China, metade da população do globo está lá, todo mundo vai falar meu vinho”. Mas a China começou a produzir muito rápido, tem muita terra, solo propício. Eles têm dinheiro, começaram a fazer levar sommeliers e enólogos da Europa. Tiravam a pessoa de chateau da França, levavam para a China com um salário altíssimo e estão produzindo o próprio vinho. No final, o consumo maior ainda na China é de destilados ou fermentados diferentes, que é o caso das variações do saquê que você encontra pela Ásia, dependendo do país.

Depois daquela aposta que estava na China até dois, três anos atrás, os produtores foram investir muito nos Estados Unidos. E aí, este ano, Trump anuncia um imposto enorme para bebidas alcoólicas em geral e para entrantes nos Estados Unidos. Depois disso, o próximo mercado é o Brasil.

Para a ProWine, esse movimento, toda essa mistura de movimentos está sendo muito benéfica. E a gente começa a ver, por exemplo, nove produtores vindo para a feira com apoio do governo da Romênia.

Nosso lugar na América do Sul

Na América do Sul, o Brasil é o maior importador e é o que mais importa a vinho. E quando você vai para a Argentina, para Chile ou para o Uruguai, o consumo em volume é do vinho do próprio país. O argentino bebe vinho argentino. O chileno bebe vinho chileno. O uruguaio bebe vinho uruguaio. O brasileiro bebe todos os vinhos. O brasileiro é aberto a experimentar novos países produtores.

O Brasil é um mercado promissor, e a gente ainda continua com o consumo crescendo. Se você pegar os dados históricos do ano passado, a gente tem um consumo estagnado e a gente tem uma produção um pouco menor. Mas isso foi uma quebra da safra com as chuvas do Rio Grande do Sul. Em números totais, a gente continua com um percentual de crescimento.

Nos próximos anos, o mercado acredita que esse crescimento vai continuar por uma série de fatores. Ainda somos uma população que bebe muito pouco per capita. Dependendo da conta, fica entre 2,4 e 2,7 litros por ano de vinho per capita. Eu não sei em que casa, porque na minha, isso não passa de uma semana.

Mas é lógico, a base de divisão do Brasil é muito grande. Quando você pega Portugal, que atualizou os dados este ano, em agosto, e foi para 66 litros per capita, a gente tem um potencial grande de crescimento aqui.

O que incentiva bastante esse crescimento é a questão da educação e a democratização do vinho. Cresci numa casa onde meus pais faziam questão de falar, quando iam visitar alguém, que que compraram um vinho francês para levar para casa do meu amigo, um vinho italiano. Existia esse paradigma que vinho bom era vinho europeu e que era vinho caro. E hoje você tem vinhos com preços muito acessíveis na prateleira do mercado. Você tem uma variedade muito grande, o que muda muito.

A gente acredita muito na base da educação: as pessoas conhecendo outras uvas, outros produtores, elas vão consumir mais. Porque também é o hábito. Você mantém o consumo anual de cerveja, uma diminuição dos destilados e aumento do vinho. Também talvez um reflexo já de uma maturidade no mercado de vinho.

As pessoas sempre comparam a gente com a Europa. Mas você não pode querer comparar quem produz vinho aqui no Rio Grande do Sul há 160 anos e quem produz vinho há 900 anos na Europa. É óbvio que a evolução é diferente.

E a população vai evoluindo também. Lembro também que meu pai só bebia sábado e domingo porque era o final de semana. Hoje é normal você sentar mesmo no almoço de negócios e tomar uma taça de vinho no almoço. Começa a ficar mais normal conforme a gente vai divulgando mais e vai espalhando mais o conhecimento.

Visitantes em estande da Prowine São Paulo — Foto: Divulgação Prowine
Visitantes em estande da Prowine São Paulo — Foto: Divulgação Prowine

Zero álcool e low alcohol

Na Europa, começou um pouco antes esse movimento, tem-se falado muito sobre o zero ou low, que a gente chama de uma categoria, nos últimos três, quatro anos. Na pandemia, você teve um aumento no mundo inteiro do consumo de álcool, depois veio essa preocupação, de reduzir o aumento da pandemia. Na Europa, tenho visto muita opção, muito produto novo e muito investimento nisso. No Brasil, a gente não tinha visto até este ano. Existem produtores que estão lançando na feira novos produtos.

Agora, há coisas curiosas acontecendo aqui. Diferentemente da Europa, os grupos não trazem produtos sem álcool nas marcas consolidadas, mas em outras do seu portifólio. Não com aquela marca mais alta. Acho que tem um pouco desse receio de entender como o mercado vai reagir. Já vimos alguns movimentos nesses seis anos na ProWine São Paulo. Tivemos dois anos ali em que todo mundo estava investindo no vinho em lata. Hoje, você ainda tem vinho de lata, mas num percentual muito pequeno.

Depois, a gente teve ali o ciclo do bag in box no Brasil. Você tinha aquelas caixas que eram como as vendidas no Walmart, nos Estados Unidos, porque achavam que no Brasil ia pegar. Hoje eu não consigo lembrar qual foi a última vez que vi um vinho bag in box em loja.

E agora vem essa novidade do low ou do no. Acho que é uma tendência de mercado. Acho que deve ser como esses dois exemplos que dei, uma bolha. Você tem uma explosão e depois você vai chegar ali numa estabilidade. Acho que tem momentos em que ele vai ser consumido, mas não acredito ainda num mercado significativo em número de litros sem álcool. Acredito no low. Aquele vinho com percentual alcoólico de 3,5%, 5% de álcool vai ter mais sucesso do que o zero. Mas isso um pouco pela preferência do consumidor. Mais ou menos como as cervejas com baixo teor alcoólico e baixa caloria, para aquela pessoa que vai treinar cedo no dia seguinte, quem está nesse tipo de movimento.

A gente trabalha junto ao instituto de pesquisa Ideal.Bi, que faz uma pesquisa mensal de mercado. E o número das importações do Chile para o Brasil, pelos dados oficiais, é o maior. Mas a gente sempre se questiona um pouco o descaminho dos vinhos da Argentina. E quando a gente se conhecia percentualmente falando. Todo mundo tem um contato de WhatsApp que te entrega o Catena Zapata em São Paulo em 90 minutos. O descaminho desfavorece muito os números da Argentina no Brasil, quando a gente vê dados oficiais.

Participação de países na ProWine

Dentro da feira, a gente tem Brasil e Portugal muito próximo. Depois a gente tem Argentina e Chile muito próximos também. Historicamente, você tem ali ondas: você vê mais chilenos, você vê mais argentinos. O que a gente tem ficado muito surpresa nos últimos anos é com a evolução e o crescimento dos vinhos portugueses no Brasil em quantidade, em volume de caixa por ano e em volume de preço também. Você tem agora produtos mais caros entrando no Brasil e se consolidando. O mais famoso é o Pêra-Manca.

A gente tem uma grande participação de vinícolas chilenas, que vêm todos os anos e vêm crescendo também. E vêm de uma forma um pouco diferente. A maioria dos argentinos vem em grupo. Os chilenos já vêm um pouco mais maduros e estruturados com estandes próprios.

O brasileiro está consumindo menos vinho tinto. Há um consumo regular e constante de rosé e um aumento do vinho branco. Percentualmente falando, o volume do tinto ainda é maior, se olharmos mês a mês. Muda drasticamente em dezembro e janeiro, quando a gente tem férias e concentração de festas, porque aí o espumante tem seu pico de venda. E no Brasil a gente consome muito espumante.

O maior consumo do vinho branco é uma tendência mundial. O branco tem sido vendido mais. O rosé ficou num mesmo patatamar que não muda muito. Existe uma percepção do consumidor que vinho branco é mais saudável, mais leve. Apesar de, em vários casos, ele ter a mesma concentração de álcool do vinho tinto. A gente faz também pesquisa com restaurantes e, no último ano, eles têm reformulado a capa de vinhos pra ter mais opções de branco no geral.

As pessoas falam que é uma tendência porque no Brasil faz calor. Não, não é. Porque se não não existiria o consumo de uísque no Nordeste, na praia. As pessoas tomam uísque no Nordeste sem gelo na praia o dia inteiro. Não acho que seja só é o fator clima. Acho que é um fator da mentalidade mesmo do consumidor de ter a percepção que é um produto mais saudável, mais leve do que o vinho tinto.

Maior qualidade do vinho brasileiro

Tenho certeza que melhorou a qualidade do vinho brasileiro. Melhoraram os processos, as tecnologias das vinícolas. Não precisa reinventar a roda. Eles aprenderam, mas quando a gente fala não precisa reinventar a roda, também foi reinventada. A gente tem um processo de dupla poda que faz muita diferença também no amadurecimento das videiras. E, obviamente, uma videira mais madura, mais encorpada, ela dará um vinho melhor. Você tem um tratamento de solo melhor. E tenho certeza que vai continuar melhorando, porque existe investimento, existe vontade.

E cada uma tá mais preparada que o outra. Cada vinícola que eu visito, aprendo uma coisa nova. E é impressionante a qualidade. A Valduga agora dobrando a sua capacidade produtiva, inaugurando um parque de produção. A Aurora fez esse movimento alguns anos atrás. Você consegue ver uma profissionalização maior do mercado.

Regiões produtoras no Brasil

Para falar de região, tem muita coisa interessante acontecendo, nem sempre em grande escala. Quando a gente vai falar de Minas Gerais, por exemplo, os vinhos de inverno, você vai ter vinícolas bem pequenas, mas que têm um bom potencial, muita terra; e estão fazendo vinhos interessantíssimos.

Acho que os vinhos de inverno no Brasil, os vinhos do Vale de São Francisco, têm características muito próprias. Tive a oportunidade de visitar uma vinícola na Chapada de Diamantina, por exemplo, que é um solo extremamente mineral. Você tem amplitude térmica todos os dias, você está no meio do nada. E faz um vinho branco maravilhoso, espetacular.

A gente está descobrindo o Brasil. A gente descobriu nos últimos anos que a região produtora de vinhos não é só o Rio Grande do Sul. Você pode produzir no Brasil inteiro e isso está se comprovando. São diversos tipos de vinho, desde o vinho de garrafão. Quando a gente fala aqui no estado de São Paulo, em São Roque, temos grandes vinícolas produzindo vinho com baixo custo. Mas você também tem ícones. Na ProWine, a gente tem uma lista de vinhos brasileiros premiados que foram para fora e voltaram com medalhas, além de muitos outros que vão ser nos próximos anos.

É interessante a gente ver essa evolução pelas regiões. A gente vai viajando bastante, vai vendo. Quando fui a primeira vez para Bento Gonçalves, lembro a estrada toda de terra. Não tinha uma placa, você se perdia. Existe ali uma associação que fez um trabalho, houve investimento da prefeitura. As experiências de enoturismo no Brasil têm melhorado.

E uma coisa puxa a outra. Quem acha que Portugal cresceu tanto? Além do investimento constante de promoção de marca no Brasil, foi o primeiro país que abriu para a gente pós-pandemia. No final de 2021, 22, em Portugal, só tinha brasileiro. Eles iam e visitavam a vinícola. Você tem uma experiência de enoturismo, você volta com esse link emocional e vai consumir esse vinho depois.

Está acontecendo também no Brasil. Você vai fazer um passeio em São Roque, quando você volta, vai ficar mais curioso com os vinhos da região. Mesmo que seja para comparar. Fui àquela vinícola, vou comprar o vinho do lado para ver como é que é. Isso vai fomentando os negócios do vinho.

O que a gente tem recebido de demanda dos importadores é uma necessidade de importar uísque, uísques diferentes. Existem ciclos. Alguns anos atrás a tequila voltou com tudo. Depois o gim foi a bola da vez. Há 5 anos, havia muitas marcas de gim, todo mundo com sua própria marca. Muitos nacionais. Há 2, 3 anos deu uma tranquilizada nesse mercado.

Dois mercados na parte destilados que continuam em ascensão. Um é o uísque, existe essa curiosidade. O outro é a cachaça. O brasileiro tem aprendido mais sobre a cachaça, tido mais interesse. Também há o amadurecimento dos produtores em fazer produtos diferenciados. Acompanha o que ocorreu com o vinho, a educação. As pessoas vão aprendendo e vão ficando mais curiosas.

Existia uma feira de destilados aqui em São Paulo, que deixou de existir no ano passado. Esse mercado está descoberto, e a gente está trazendo para dentro da ProWine. Por quê? O comprador de vinho, muitas vezes, é o comprador de destilados, que já não é o comprador de cerveja. O comprador de cerveja é completamente diferente. Existe essa sinergia. Até porque muitos dos produtores de vinho também produzem grapa. Também produzem destilados.

As pessoas falam que o consumo de vinho na Europa está diminuindo, porque as pessoas querem ser mais saudáveis, mas o consumo de uísque cresce na Europa. Tem alguma coisa nesse discurso que é curioso.

O que a gente vê na ProWine são sempre ciclos de dois anos. Muitas vezes, o produto que vai ser apresentado na feira, até ele chegar no Brasil, vai demorar seis meses. Tem que fazer uma importação, dependendo da categoria, a licença é diferente. Quando ele chega à prateleira, é um ciclo de dois anos.

Eu aposto no crescimento do uísque no Brasil, mais até do que no da cachaça neste momento. Pela quantidade de uísque que tem entrado no Brasil, de diferentes marcas. Acho que do uísque do Japão.

A gente viu também, nos últimos anos, assim, teve uma procura no Brasil, teve uma vontade de produtores de saquê que vieram para o Brasil, mas o mercado não absorveu tão bem. São coisas diferentes. A pessoa ocidental, meus amigos em casa, tomam uísque japonês, mas não tomam saquê. Sou uma pessoa diferente, tomo saquê, gosto muito.

Conversei com um importador de saquê que disse que todo ano traz mais ou menos a mesma quantidade, vende mais ou menos a quantidade. Quem consome é restaurante japonês. Todo restaurante japonês tem um saquê, mas você não compra para tomar em casa. É difícil você chegar à casa de uma amiga e tomar um saquê.O uísque não. O uísque é consumido em casa. Mesmo que seja como aperitivo, mas constante. Você chega em casa, toma uma dose de uísque, depois quando você vai à mesa, você muda e toma uma taça de vinho.

[Fonte Original]

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