30.5 C
Brasília
sexta-feira, outubro 17, 2025

Árvores ‘conversam’ entre si e escapam de incêndios

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Em uma fazenda de Luziânia, na região do Cerrado de Goiás, as árvores “conversam” entre si, formam uma malha e interagem com os computadores a cerca de um quilômetro de distância na sede da propriedade. Informam em tempo real a temperatura, a umidade, se estão em pé, inclinadas ou se já foram derrubadas. Se a temperatura sobe muito, isso pode indicar incêndio, então “contam” que o calor está em um nível perigoso. Nesse caso, se deixam de transmitir informações por determinado período, pode ser indício de que foram queimadas.

Para que pudessem se comunicar em uma rede, as árvores foram dotadas de dispositivos de internet das coisas (IoT) – sensores eletrônicos em uma caixinha lacrada resistente às intempéries. Eles são presos aos troncos por um cinto metálico. Um sensor “conversa” com o outro, sem necessidade de operadora de telecomunicação. Juntos, formam uma malha, passam os dados de um ao outro até chegarem a um nó de concentração, na sede da propriedade.

As fazendas monitoradas nesse projeto escaparam dos incêndios que estão sendo combatidos há duas semanas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no Norte de Goiás. “Felizmente, o incêndio não atingiu as áreas onde realizamos nossos projetos. Os incêndios são uma preocupação real e crescente, principalmente com as mudanças climáticas”, diz a diretora de tecnologia da Bio2Me, Patricia Dotto Egreja. “As soluções de monitoração inteligente e a conectividade no campo são, a cada dia, mais relevantes para cobrir grandes áreas, acionar ações preventivas, avaliar ameaças e riscos, e proteger estes ativos.”

A necessidade de criar essa malha verde envolveu a startup id2t – uma “agrotech”, como são chamadas as empresas que desenvolvem tecnologia para o agronegócio – cisão da startup Bio2Me. Essa operadora de fazendas preservadas, especializada em retirar bioativos do cerrado, como baru, pequi e jatobá, pretendia, inicialmente, melhorar a coleta da castanha do baru. A Bio2Me integra o Programa Soja Sustentável do Cerrado, uma iniciativa do PwC Agtech Innovation e Land Innovation Fund, da qual o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) é parceiro.

Mas mesmo em sua fase inicial, o projeto evoluiu e ultrapassou as fronteiras da fazenda goiana. Desse modo, a id2t passou a trabalhar na expansão para Minas Gerais, em parceria com uma usina de cana-de-açúcar, localizada em área de reserva legal na Chapada Gaúcha – divisa de Minas com Goiás e Bahia.

Na Chapada Gaúcha, 50% da produção é de soja e 50% é de semente de capim braquiária. O plano é instalar uma torre de telecomunicação para atender a comunidade de 14 mil habitantes sem acesso à internet, conta o cofundador e diretor financeiro da Bio2Me, Marcio Campos. “A parceria com a usina de cana visa levar conectividade para essa área de reserva que, por lei, não pode ser explorada para fins agrícolas, mas pode ser usada para extrair bioativos naturais.”

A parceria com usina de cana visa levar conectividade para área de reserva”

— Marcio Campos

“Ainda não temos clara a dimensão completa do que é que podemos comercializar”, diz Nuno Vercas, investidor da Bio2Me e da id2t. “Se eu criar uma rede de acesso que permita que as pessoas tenham conectividade nos seus celulares via Wi-Fi, eu posso virar uma rede de comunicação, ainda que regional. Posso virar uma fonte de venda de produtos agrícolas.”

A id2t integra o portfólio de investidas do Ventures CPQD, que apoia empreendimentos de base tecnológica. A startup procurou o CPQD em busca de solução para o monitoramento inteligente dos bioativos. “O CPQD é crucial para a id2t, tanto que a empresa não existiria sem a ajuda e suporte deles”, reconhece Vercas.

Os baruzeiros são árvores nativas da floresta. Produzem o fruto – um tipo de castanha, que amadurece e cai no chão da floresta. A id2t colhe, torra e vende a castanha no Brasil, já de olho na exportação. O baru também rende subprodutos, como uma farinha, considerada ingrediente refinado para culinária. Só em uma das fazendas de Goiânia, por onde começou o projeto, tem 200 pés nativos de baruzeiro espalhados pela propriedade. A prova de conceito foi feita com dez árvores.

“Foram oito meses para desenvolvimento do projeto, envolvendo hardware, mecânica e programação”, conta o líder técnico do projeto no CPQD, Fernando Rocha. Os dados coletados pelos sensores vão para a Pailot, uma plataforma de IoT e de inteligência artificial do CPQD na nuvem, onde as informações são organizadas em “dashboards” – painéis visuais de controle. Para a transmissão é usada uma rede sem fio via satélite, da Starlink.

A transmissão é feita com a tecnologia LoRa Mesh – comunicação sem fio de baixo consumo e de longo alcance. Cada sensor pode coletar informações de 20 árvores plantadas, que ficam alinhadas. As árvores nativas, ao contrário, precisam geralmente de um sensor cada uma, por serem muito dispersas na floresta.

O projeto tem apoio do Sebrae e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Como unidade Embrapii, o CPQD investiu R$ 1,3 milhão em parceria com o Sebrae. Em contrapartida, a id2t fez aporte de R$ 200 mil, afirma Campos. Ainda em fase de investimento, a id2t projeta receita de R$ 1,5 milhão para 2025, com alta de 60% sobre o ano passado.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img