Quando vi o anúncio de um novo spin-off de Invencível, dessa vez focado em Battle Beast, confesso que não me animei tanto. Robert Kirkman já fez outros derivados nesse universo antes e nunca com grande sucesso. Ainda assim, a leitura era inevitável, principalmente por conta da possibilidade de voltar a ler uma HQ desse maravilhoso e deturpado mundo de heróis (e sim, sei que estou devendo os volumes finais da série principal, mas estou só esperando a adaptação televisiva voltar, que inclusive ganhou um divertidíssimo teaser recentemente). A premissa de Universo Invencível: Battle Beast é completamente previsível, com um volume inicial que é basicamente uma jornada sanguinolenta com o alienígena felino na sua insaciável busca por uma batalha digna.
Contextualmente, Kirkman se aproveita de um período da série principal que o personagem desaparece, com esse arco inicial e, acredito, que os que seguirão, preenchendo a lacuna entre a primeira aparição de Battle Beast na Terra e seu eventual retorno na Guerra Viltrumita, sendo libertado por Allen, se a memória não me falha. Dessa forma, o autor tem um espaço de tempo (curto ou não, não consigo dizer, mas definitivamente limitado) para expor alguns contos do protagonista pela galáxia. A abordagem puxa mais para o sci-fi do que os volumes de Invencível, que foram evoluindo para isso mais pro final da jornada de Mark, então também é interessante notar como a HQ pode expandir um pouco mais da mitologia e, quem sabe, ser a primeira obra de novos derivados.
Em termos narrativos, minha preocupação inicial era o fato de Battle Beast não ser lá muito material para protagonismo. O personagem é completamente unidimensional, com uma personalidade de cartolina que só se sobressai como um coadjuvante ameaçador, que entretém e que é muito bem caracterizado, especialmente nas lutas. Para burlar isso, Kirkman apresenta alguns coadjuvantes para servirem de contraponto na história, começando por uma IA sarcástica e desbocada que quer matar o gatuno e um príncipe perdido de um planeta remoto, ambos dando um tom de humor à história. Nas edições finais do arco, há até uma sugestão de desenvolvimento do Battle Beast para além da sua fúria cega, então veremos se o autor consegue transformar uma figura carismática e simples em um protagonista realmente interessante.
Mesmo com algumas sacadinhas de Kirkman com os coadjuvantes e com a pegada de ação sci-fi da trama, não dá pra negar que o texto é limitado. A leitura é puro gore, muita violência gráfica e pancadaria desenfreada. A arte de Ryan Ottley segue espetacular na fluidez e na diagramação das batalhas, com muitos inimigos criativos e cômicos, e Kirkman sabe como manter o ritmo, inventar novos cenários para a mesma situação e navegar na repetição sem ficar chato, só que, claro, falta uma substância, uma personalidade ou algum tipo de característica que transforme a narrativa em algo além do básico.
O primeiro volume diverte, claro. É uma leitura rápida, caótica e cheia de movimentos laterais que vão tornando a quest de Battle Beast em algo relativamente complicado para o seu gosto, todos elementos bem lapidados por uma equipe criativa autoconsciente da premissa que estão desenvolvendo. Mesmo entendendo a proposta, porém, não vejo nada de grande destaque, seja no arco do protagonista, seja na empreitada de voltar a esse universo para trazer uma trama meio redundante, com todo o sangue da jornada de Mark, mas sem o drama. Pelo menos não totalmente de se jogar fora. A dupla Kirkman e Ottley sabem puxar os botões deturpados dos seus leitores favoritos.
Universo Invencível: Battle Beast (Invincible Universe: Battle Beast) – Vol. 1 | EUA, 2025
Contendo: Invincible Universe: Battle Beast #1 a 6
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Cores: Annalisa Leoni
Letras: Rus Wooton
Editoria: Sean Mackiewicz, Ben Abernathy
Editora: Image Comics
Páginas: 175