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segunda-feira, outubro 20, 2025

Apagão de dados nos EUA com ‘shutdown’ deixa Fed voando às cegas

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O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará sua reunião de política monetária na próxima semana com a visão sobre a economia obscurecida pela paralisação do governo dos EUA (“shutdown”), que suspendeu a divulgação de dados importantes, situação nada ideal para as autoridades divididas sobre quais riscos merecem mais atenção.

Dados oficiais de emprego não são divulgados desde o início da paralisação do governo federal em 1º de outubro, mas as informações que permanecem disponíveis apontam para um crescimento ainda fraco do emprego. Relatório econômico de campo do próprio Fed, que é autofinanciado e portanto não sofreu interrupção de atividades, mostrou possíveis rachaduras nos gastos dos consumidores, e pesquisas recentes sobre a confiança das empresas apontaram para uma queda.

No entanto, as empresas também estão alertando sobre os próximos aumentos de preços em um momento em que a inflação está acima da meta de 2% do Fed, estimativas de crescimento econômico estão sendo elevadas à medida que o escopo do investimento empresarial se torna claro, e os economistas começam a apontar para um possível abalo econômico no próximo ano, à medida que novas leis tributárias, incluindo isenções para gorjetas e rendimentos com horas extras, aumentam as restituições das famílias.

Os mercados financeiros esperam que o banco central dos EUA reduza sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,75% a 4,00%, em sua reunião de 28 e 29 de outubro.

As autoridades e os economistas, no entanto, “estão apenas voando às cegas”, disse David Seif, economista-chefe de mercados desenvolvidos da Nomura. “O grande ponto de interrogação no momento é o que está acontecendo no mercado de trabalho, e não podemos saber isso até vermos o relatório”, referindo-se ao “payroll”, documento com os dados mensais de emprego do Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês). O “payroll” foi adiado devido à paralisação, o que significa que as autoridades do Fed não têm uma leitura completa do mercado de trabalho desde o início de setembro.

As principais autoridades do banco central dos EUA, incluindo o presidente do Fed, Jerome Powell, concentraram seus comentários recentes no mercado de trabalho, onde o crescimento caiu para um ritmo mensal médio de 29 mil empregos de junho a agosto, bem abaixo da média da era pré-Covid-19.

Também surgiram novos riscos, incluindo a divulgação de perdas com empréstimos por dois bancos regionais, que abalaram os mercados de ações, e novas tensões comerciais entre os EUA e a China – ainda que atualmente arrefecidas -, que podem acabar com o que as autoridades do Fed esperavam que fosse uma clareza emergente sobre as novas regras de comércio global.

A agência de estatísticas do Departamento do Trabalho dos EUA divulgará o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro em 24 de outubro, depois que o governo Trump ordenou que alguns funcionários voltassem ao trabalho para que os dados de inflação do mês passado estivessem disponíveis para determinar o aumento anual do custo de vida da Previdência Social.

Economistas consultados pela Reuters estimam que o índice tenha subido 3,1% em setembro sobre o ano anterior, número que provavelmente manteria vivas as preocupações de alguns formuladores de política monetária sobre a sensatez de reduzir ainda mais as taxas.

O Índice de Preços de Gastos de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), que o Fed usa para sua meta de inflação, subiu de 2,3% em abril para 2,7% em agosto, segundo o relatório mais recente. As autoridades do Fed esperam que o indicador termine o ano em 3,0% antes de cair em 2026, fato que, na opinião de alguns formuladores de política monetária, corre o risco de agravar o problema da inflação, uma vez que as famílias e as empresas se acostumam com o aumento dos preços mais rápido do que a meta de 2%, como tem sido o caso nos últimos quatro anos e meio.

O presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, membro votante do comitê de definição de política monetária do Fed este ano, disse achar que a taxa de juros atual estava “no lugar certo”, ainda alta o suficiente para manter a pressão de queda sobre a inflação.

O grau de pressão é uma questão em debate, em que o fluxo sufocado de dados do governo se tornará mais importante com o tempo.

Os dirigentes do Fed têm opiniões muito variadas sobre a economia – desde as preocupações de Schmid com a inflação até a opinião do novo diretor do Fed, Stephen Miran, de que as taxas de juros estão muito altas e a inflação está prestes a cair – mas todos dependem de novos dados do governo para validar ou alterar suas perspectivas.

Embora as autoridades do Fed tenham maneiras de monitorar o mercado de trabalho fora dos dados do Departamento do Trabalho, por meio de pedidos de auxílio-desemprego em nível estadual, por exemplo, ou de vários relatórios privados sobre a folha de pagamento, há menos alternativas para monitorar a inflação.

Relatórios privados sobre produção e atitudes corporativas e domésticas também continuam sendo produzidos, mas os dados mensais do governo sobre consumo e gastos e os relatórios trimestrais abrangentes sobre o Produto Interno Bruto (PIB), que normalmente seriam atualizados no final deste mês, não estarão disponíveis se a paralisação continuar.

Mesmo as alternativas, como bancos de dados maciços de transações com cartão de crédito informadas pelos bancos, são mais como complementos dos dados do governo do que bons substitutos, disse o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, na semana passada.

Elas “são boas e úteis; não são tão abrangentes nem tão calibradas”, disse ele à Richmond Association for Business Economics. “Existe alguém que não tenha um cartão de crédito? Sim, os 25% das pessoas que têm menos dinheiro.”

São esses detalhes nos relatórios do governo que moldam as opiniões dos formuladores de política monetária.

O crescimento lento do emprego, por exemplo, implica uma coisa se for devido a uma economia fraca, outra se for devido à falta de trabalhadores por causa de uma política de imigração mais rígida. O “payroll” inclui estimativas do número de trabalhadores estrangeiros e nativos, dados que não estão disponíveis nos relatórios privados do mercado de trabalho.

Os vários relatórios de inflação, que serão interrompidos após a próxima divulgação do CPI enquanto a paralisação continuar, também contêm grandes quantidades de dados que são importantes para o Fed.

É um momento particularmente complicado, disse o diretor do Fed Christopher Waller na semana passada, com dados privados apontando para contratações ainda fracas, mas com o crescimento econômico potencialmente acelerado.

O investimento empresarial em geral está se expandindo, mas é morno fora da corrida de capital para a área de inteligência artificial (IA) e, embora os mercados de ações tenham subido e o financiamento corporativo seja comparativamente barato, as taxas hipotecárias permanecem altas. As famílias mais ricas estão gastando, enquanto outras estão pechinchando para lidar com os preços mais altos.

“Há essa bifurcação em muitos aspectos que dificulta a leitura da economia neste momento”, disse Waller, candidato a substituir Powell como chefe do Fed no próximo ano, à Bloomberg Television, defendendo cortes contínuos e “cautelosos” nas taxas de juros, incluindo uma redução de 0,25 ponto percentual no final deste mês, mas observando que novos cortes dependem de como a inflação se comportará e se o crescimento do emprego continuará enfraquecendo.

Por enquanto, “podemos nos manter firmes”, disse o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, na semana passada. “Mas quanto mais tempo (a paralisação) durar, menos confiança eu tenho de que estamos lendo a economia adequadamente.”

[Fonte Original]

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