O dólar à vista exibiu desvalorização frente ao real nesta sexta-feira, em um movimento descolado de boa parte dos mercados no exterior, já que a moeda americana avançou, ainda que levemente, nos mercados mais líquidos. Uma leve melhora no sentimento de risco hoje pode ter dado suporte para um ajuste de posições em mercados que foram mais afetados pelo mau humor global ao longo das últimas sessões. Apesar da piora na semana passada, nos últimos cinco dias o dólar teve depreciação de 1,78% frente ao real, indicando um alívio nas tensões comerciais entre China e Estados Unidos e uma ausência de ruídos políticos e fiscais no Brasil.
Encerrado o pregão desta sexta-feira, o dólar à vista fechou negociado em queda de 0,69% cotado a R$ 5,4050, depois de ter tocado na mínima de R$ 5,4026 e encostado na máxima de R$ 5,4596. Na semana, a moeda acumulou queda de 1,80%. Já o euro comercial exibiu depreciação de 0,85% nesta sexta-feira, cotado a R$ 6,3073. No fechamento, o real tinha o segundo melhor desempenho do dia frente ao dólar, atrás apenas do peso colombiano. Perto das 17h05, o índice DXY avançava 0,09%, aos 98,427 pontos.
O dólar abriu o pregão em queda, chegou a testar alta, mas voltou a cair. O movimento de hoje esteve descolado do observado na maioria dos mercados mais líquidos acompanhados pelo Valor. Apenas o real e o peso colombiano apresentaram valorização mais firme frente ao dólar. Outras moedas de mercados emergentes e ligadas a preços de commodities (como o peso mexicano e a coroa norueguesa) rondaram a estabilidade e ensaiaram valorização, mas sem um movimento expressivo se consolidando.
A melhora mais consistente do real e do peso colombiano nesta sessão pode estar relacionada a seus maiores “betas”, com seus preços mais pressionados em momentos de estresse e mais afetados em momentos de alívio, marcando maior volatilidade.
Kimberley Sperrfechter, economista para mercados emergentes da Oxford Economics, lembra em nota que o real foi uma das moedas mais afetadas pela recente preocupação tarifária, desencadeada pela decisão da China, na semana passada, de restringir suas exportações de terras raras para os EUA, o que levou a um “sell-off” de moedas de mercados emergentes.
“O real desvalorizou-se 3% em relação ao dólar na última sexta-feira, embora tenha se estabilizado esta semana, em torno de R$ 5,44 por dólar. Uma estabilização no apetite global por risco e comentários agressivos de autoridades do Banco Central de que as taxas de juros devem permanecer em 15% por um ‘longo prazo’ deram suporte ao real”, diz.
Segundo a economista, após as restrições da China, a atenção se concentrou em quais países poderiam intervir no cenário. “De acordo com o US Minerals Commodity Summaries, o Brasil detém quase 20% das reservas globais de terras raras, grande parte das quais inexploradas. Conceder aos EUA maior acesso a essas reservas poderia desempenhar um papel fundamental nos esforços para restaurar as relações entre os dois países e ajudar a desbloquear benefícios mais amplos — por exemplo, reduzindo o domínio da China e as tarifas dos EUA sobre o Brasil — embora o presidente Lula tenha declarado que o Brasil descartará qualquer acordo exploratório.”
Já o J.P.Morgan diz, em nota, que as novas isenções fiscais no Brasil e outras medidas expansionistas nos gastos públicos em andamento podem gerar volatilidade em um mercado de câmbio que historicamente é sensível a questões fiscais. “Especialmente porque a aprovação de medidas de compensação de receita enfrenta desafios significativos no Congresso”, diz o banco. Embora reconheça que o risco de notícias nessa linha tende a aumentar, o banco continua entendendo que a narrativa eleitoral só se tornará um fator mais relevante para o câmbio após o primeiro trimestre de 2026. “No curto prazo, é importante acompanhar qualquer avanço em medidas adicionais de expansão fiscal e a evolução das pesquisas eleitorais.”