A menos de uma semana das eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, cresce o ceticismo de que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, conseguirá executar a segunda metade do seu pacote de ajuda de US$ 40 bilhões.
O Tesouro americano vem articulando um acordo de financiamento de US$ 20 bilhões que envolve bancos como o J.P. Morgan, BoFA, Goldman Sachs e Citigroup, segundo fontes anônimas. Mas detalhes importantes, como os termos, a estrutura e as garantias da dívida, permanecem indefinidos, o que aumenta as dúvidas sobre a possibilidade de um acordo tão complexo e de grande porte ser concretizado em questão de dias, disseram as fontes.
Pessoas com conhecimento do trabalho dos bancos até o momento disseram que as instituições ainda não identificaram quais ativos na Argentina poderiam servir como garantia aos empréstimos e que contam com o Tesouro para um avanço. Nenhum banco foi oficialmente contratado para qualquer empréstimo, disse uma das fontes.
Coincidentemente, o CEO do J.P. Morgan, Jamie Dimon, visita a Argentina nesta semana para um evento que o gigante de Wall Street organiza. Embora a viagem tenha sido planejada muito antes das discussões sobre o pacote de resgate, isso significa que alguns dos principais executivos do banco estarão presentes no país em um momento crucial.
As incertezas em torno do financiamento elevam a pressão sobre o peso argentino e minam as tentativas do secretário do Tesouro dos EUA, Bessent, de estabilizar a economia do país e ajudar o presidente argentino e aliado ideológico do governo Trump, Javier Milei, a conquistar uma vitória no pleito de domingo.
Nesta terça-feira, o peso argentino despencou para uma mínima recorde em relação ao dólar, mesmo depois que os EUA confirmaram a assinatura de uma linha de swap cambial separada de US$ 20 bilhões com o banco central argentino.
“Poder-se argumentar que a falta de especificidade pode minar a crença dos mercados quanto à extensão do envolvimento do Tesouro dos EUA”, disse Mark Sobel, ex-veterano com 40 anos de carreira no Tesouro e agora chairman dos EUA no Official Monetary and Financial Institutions Forum (OMFIF), um centro de estudos sediado no Reino Unido. “Mas, acima de tudo, o peso está sob pressão porque todos sabem que o peso está supervalorizado.”
O Tesouro e a Argentina finalizaram a linha de swap nesta semana, com o objetivo de evitar o aprofundamento da queda expressiva do peso. Bessent classificou a medida como um acordo de “estabilização econômica” em publicação no X. O acordo não foi um resgate, mas uma ponte para um melhor futuro econômico para a Argentina, disse o secretário.
Além do swap, Bessent afirmou que está coordenando uma linha de crédito separada que seria financiada por bancos e outras instituições privadas. Os detalhes da proposta ainda não estão claros, mesmo para os bancos envolvidos, disseram algumas das fontes. Enquanto aguardam mais informações, veteranos do mercado, inclusive de empresas em contato com as autoridades, avaliam precedentes históricos e as possíveis abordagens oferecidas para estruturar o financiamento, de acordo com fontes familiarizadas com as negociações.
Um conceito sugerido por esses veteranos seria ter o empréstimo garantido pelo Fundo de Estabilização Cambial do Tesouro dos EUA, uma reserva de emergência usada para estabilizar o dólar e os mercados financeiros internacionais. O fundo detinha mais de US$ 220 bilhões em ativos no final de agosto, a maior parte composta pelos chamados direitos especiais de saque no Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições.
No mês passado, quando Bessent disse que o Tesouro estava em negociações para o swap, ele observou que eles “também estavam preparados para oferecer crédito stand-by significativo por meio do Fundo de Estabilização Cambial”.