Em um dia marcado pela forte oscilação de preços, o Ibovespa teve dificuldade de encontrar suporte para adotar uma tendência única. Pela manhã, o índice chegou a subir até os 143.212 pontos, na máxima intradiária. O movimento foi turbinado pelo resultado do IPCA de setembro, que veio abaixo do esperado, e pela repercussão da derrubada da MP 1.303, que representava uma alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida foi retirada de pauta ontem na Câmara, impondo uma derrota ao governo, o que alimentou a percepção entre agentes financeiros de enfraquecimento do Executivo.
Ao longo da sessão, porém, o índice perdeu força diante do menor apetite por risco no exterior e da ampliação das perdas da Petrobras, Vale e de alguns bancos. Com isso, no fim do dia, o Ibovespa encerrou em queda de 0,31%, aos 141.708 pontos, perto da mínima intradiária de 141.603 pontos.
Entre as blue chips de commodities, as ações da Petrobras lideraram as perdas: as ON cederam 1,35% e as PN recuaram 1,44%. Hoje, os preços do petróleo registraram forte queda, em meio ao acordo feito entre Israel e o Hamas para um cessar-fogo em Gaza. Depois de oscilar entre perdas e ganhos, os papéis da Vale também contraíram 0,15%.
Uma forte variação de preços também foi vista em ações de bancos, que encerraram mistas: Santander respondeu pela maior alta, no valor de 1,32%; já Itaú PN e BTG Pactual Units fecharam com queda de 0,16% e 0,06%, nessa ordem.
No campo macroeconômico, o IPCA de setembro subiu 0,48% na margem, abaixo da mediana das estimativas do mercado. Além disso, os preços de serviços subjacentes, componente-chave para a condução da política monetária, mostraram alívio, com alta de 0,3%.
O resultado da inflação foi bastante positivo, mas a queda no consumo de bebidas e alimentos pesou sobre o desempenho das empresas ligadas a esses setores, avalia o CEO da gestora de ações Alpha Key, Christian Keleti. A dinâmica ajudou a explicar a performance um pouco mais fraca de companhias como Assaí, hoje na bolsa, que fechou em queda de 3,24%, além de Ambev, que recuou 1,35%.
Para o executivo, o desempenho mais fraco dos mercados emergentes também pressionou a bolsa brasileira. “O pessoal diminuiu um pouco o risco, mas hoje o mercado deveria reagir melhor”, aponta Keleti. “Falta fluxo, falta dinheiro novo e, eventualmente, o estrangeiro pode voltar a aumentar”, completa.
No fim do dia, o EEM (principal fundo de índice de mercados emergentes negociado em Nova York) fechou em queda de 1,03%, ao passo que o EWZ (principal fundo de índice de ações brasileiras negociado em NY) cedeu 0,67%.
As maiores quedas do Ibovespa na sessão ficaram para os papéis da Brava, que recuaram 5,09%. A companhia informou que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) começou uma auditoria programada nas instalações na Bacia Potiguar e que a produção pode ser afetada diante da interrupção para realizar as adequações.
Já a maior alta ficou para as ações da WEG, que subiram 4,79%, em um dia de valorização do dólar contra o real.
Embora o Ibovespa tenha subido quase 18% neste ano e as ações brasileiras sigam perto das máximas históricas, a equipe do Goldman Sachs ressalta que, historicamente, os cortes da Selic impulsionaram a bolsa local, com alta de 12%, em média, nos três primeiros meses, e de 24% seis meses após o primeiro corte de juros realizado pelo BC.
Nesse sentido, o Goldman Sachs acredita que os papéis seguem baratos em relação ao histórico, e que há potencial adicional de valorização das ações brasileiras com o alívio nos juros, especialmente se o mercado precificar a visão mais “dovish” (menos inclinada ao aperto monetário) do banco.
Hoje, o volume financeiro do Ibovespa chegou a R$ 13,1 bilhões e a R$ 17,9 bilhões na B3. Já em Wall Street, os principais índices fecharam em queda: o Dow Jones recuou 0,52%; o S&P 500 cedeu 0,28%; e o Nasdaq encerrou estável, com perda de 0,08%.