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terça-feira, outubro 28, 2025

Peso argentino mostra limite da euforia com vitória de Milei

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Os ralis desencadeados pela surpreendente vitória eleitoral do presidente argentino Javier Milei foram impressionantes. Os títulos de dívida atingiram novas máximas e o mercado de ações disparou mais de 20%, à medida que os investidores voltavam em massa.

O entusiasmo foi bem mais contido quando se tratou do eixo central dos planos de Milei para reformular a economia argentina: o peso. À medida que as negociações avançavam na segunda-feira, a moeda reduzia gradualmente a alta expressiva da manhã, e encerrou o pregão com valorização inferior a 4% — aproximadamente no mesmo patamar de duas semanas atrás.

O avanço mais tímido reflete, em parte, dúvidas persistentes sobre se o país manterá a faixa de negociação cambial que defendia tão agressivamente antes da votação legislativa no último fim de semana.

Essa amarra ajudou a conter a inflação descontrolada ao impedir a desvalorização do peso. Mas isso teve um custo tão alto — forçou o governo a usar suas reservas para sustentar a moeda e elevou os juros locais — que analistas especulam que o presidente libertário acabará tendo de ampliar a faixa de negociação ou deixar a taxa de câmbio flutuar livremente, assim como a maioria das outras principais moedas.

“É difícil prever o que vai acontecer com a política cambial no curto prazo”, disse Robert Koenigsberger, fundador e diretor de investimentos da Gramercy Funds Management. “Poderíamos dizer que eles ganharam mais tempo para ajustar a moeda, ou que simplesmente tiveram uma janela melhor.”

As autoridades argentinas têm afirmado, repetidamente, que não planejam implementar nenhuma mudança na atual política cambial. E a recuperação promete dar tempo a Milei, interrompendo, pelo menos temporariamente, uma fuga da moeda que custou centenas de milhões de dólares por dia e motivou um pacote de suporte de US$ 20 bilhões pelo governo Trump.

Mas os argentinos têm visto a taxa de câmbio como artificialmente alta. Muitos têm transferido suas economias para dólares, prevendo que Milei adiaria qualquer mudança até depois das eleições.

“Acredito que em algum momento eles deixarão o câmbio flutuar, a partir de uma posição de força”, disse David Austerweil, vice-gestor de portfólio de mercados emergentes da VanEck, em Nova York. “Dado o quão positivo foi o resultado das eleições e o quanto os poupadores locais estão dolarizados”, o peso pode não se desvalorizar logo após o alívio das restrições, acrescentou.

Milei permitiu que moeda recuasse de forma acentuada logo após sua eleição em novembro de 2023. No início de seu governo, os investidores estavam confiantes que sua terapia de choque de cortes orçamentários e desregulamentação rejuvenesceria uma economia que tem sido atormentada por alta inflação, crises cambiais e default da dívida pública por décadas.

A banda atual do peso — que permite uma depreciação pequena e ordenada — foi estabelecida como condição de um acordo de empréstimo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril. Mas isso não permitiu que o peso se desvalorizasse o suficiente para refletir a inflação ainda elevada da Argentina. Manter o regime cambial exigiu que o governo periodicamente usasse suas reservas para comprar pesos, o que teve o efeito negativo de elevar os juros locais, drenando liquidez do sistema financeiro.

Milei pode tentar ajustar a política cambial do país, enquanto os mercados estão animados pela expectativa de que ele conseguirá continuar com uma agenda que tem mostrado alguns sinais de sucesso, mas que ainda não desencadeou a prometida recuperação econômica.

Nesta segunda-feira (27), o preço das notas denominadas em dólares do governo, com vencimento em 10 anos, subiu até 14 centavos de dólar, para 71 centavos de dólar, o maior salto já registrado, antes de encerrar o dia em torno de 69 centavos de dólar. As ações registraram o maior salto diário desde a vitória de Milei, dois anos atrás.

O peso também foi afetado por dúvidas sobre se os Estados Unidos agora recuarão das intervenções que sustentaram a moeda argentina. Esse sentimento foi alimentado na segunda-feira, depois que o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, indicou ver o rali pós-eleitoral como um sinal de que o mercado vai se ajustar por conta própria.

Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes na Aegon Asset Management, disse que as questões sobre a moeda provavelmente poderiam conter novos ganhos no mercado de títulos de dívida até que fossem respondidas. Nesta terça-feira, os títulos permaneceram praticamente inalterados, em um sinal de pausa após a disparada do dia anterior.

“Eles precisam ajustar a faixa definida com o FMI para dar mais espaço para a desvalorização do peso e talvez aumentar a taxa de depreciação da faixa”, disse. “Até que saibamos disso, os títulos negociarão em uma faixa limitada.”

O presidente argentino, Javier Milei — Foto: Rodrigo Abd/AP

[Fonte Original]

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