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sexta-feira, outubro 10, 2025

Trump abraça Projeto 2025 e usa ‘shutdown’ para fazer agenda avançar

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está abraçando abertamente o Projeto 2025, um plano de extrema direita do qual tentou se distanciar durante a campanha do ano passado, enquanto um dos arquitetos do plano trabalha para usar o “shutdown” do governo para acelerar a meta de reduzir o tamanho da máquina federal e punir Estados democratas.

Em uma postagem na Truth Social, Trump anunciou na última quinta-feira que se reuniria com seu diretor de orçamento, Russ Vought, “famoso pelo Projeto 2025”, para “determinar quais das muitas agências democratas, a maioria das quais são um golpe político, ele recomenda cortar, e se esses cortes serão temporários ou permanentes”.

As declarações representaram uma reviravolta dramática par Trump, que passou grande parte do ano passado denunciando o Projeto 2025, a massiva proposta de reforma do governo federal elaborada pela Heritage Foundation, um dos principais centros de estudos conservadores do país, que foi elaborada por muitos de seus aliados de longa data e pessoas que trabalham ou já trabalharam em seu governo.

Os dois rivais democratas de Trump, Joe Biden e Kamala Harris, fizeram da lista de desejos da extrema direita um ponto central da última campanha eleitoral, e uma réplica gigante do projeto foi exibida com destaque no palco da Convenção Nacional Democrata.

“Donald Trump e seus capangas mentiram descaradamente sobre o Projeto 2025, e agora ele está levando país direto para ele”, disse Ammar Moussa, ex-porta-voz das campanhas de Biden e Harris. “Não há consolo em estar certo, apenas raiva por estarmos presos às consequências de suas mentiras”.

Shalanda Young, diretora do Escritório de Gestão e Orçamento (OMB, na sigla em inglês) do governo Biden, disse que a atual Casa Branca claramente vem seguindo o plano do projeto desde que assumiu o poder.

“Acho que os democratas estavam certos, mas isso não me faz sentir melhor”, disse ela. “Estou irritada que isso esteja acontecendo depois de terem nos dito que esse documento não seria o ponto central deste governo”, disse ela.

Questionada sobre a guinada de Trump, a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson afirmou: “Os democratas estão desesperados para falar sobre qualquer coisa, exceto sobre a decisão de prejudicar o povo americano ao fechar o governo”.

Os principais líderes da campanha de Trump passaram boa parte da campanha de 2024 furiosos com a Heritage Foundation pela publicação de um livro cheio de propostas impopulares que os democratas tentaram associar aos republicanos para alertar que um segundo mandato de Trump seria extremo demais.

Embora muitas das políticas descritas nas mais de 900 páginas do livro do projeto estivessem muito alinhadas à agenda proposta por Trump – especialmente no controle da imigração e na desarticulação de certas agências federais – outras pediam ações que o republicano nunca havia discutido, como proibir a pornografia ou retirar a aprovação de medicamentos para aborto, algo que a equipe de governo tenta ativamente evitar.

Trump reiterou várias vezes que não sabia nada sobre o Projeto 2025 ou quem estava por trás deles, apesar de manter laços estreitos com muitos de seus autores. Entre eles estão John McEntee, ex-diretor do Escritório de Gestão Pessoal Presidencial da Casa Branca, e Paul Dans, ex-chefe do gabinete do Escritório de Gestão de Pessoal do governo dos EUA.

“Não sei nada sobre o Projeto 2025”, disse Trump em julho de 2024. “Não tenho ideia de quem está por trás disso. Discordo de algumas coisas que eles estão dizendo, e algumas delas são absolutamente ridículas e péssimas. Desejo-lhes sorte em tudo o que fizerem, mas não tenho nada a ver com eles.

Os chefes da campanha de Trump foram igualmente críticos. “A campanha do presidente Trump deixou muito claro, há mais de um ano, que o Projeto 2025 não tinha nada a ver conosco, não falava em nome da campanha e não deveria ser associado de forma alguma à campanha ou ao presidente”, escreveram Susie Wiles e Chris LaCivita em um comunicado.

“Relatos sobre o fim do Projeto 2025 seriam muito bem-vindos e deveriam servir como aviso a qualquer pessoa ou grupo que tente deturpar sua influência junto ao presidente Trump e sua campanha. Isso não terminará bem para vocês”, acrescentaram os dois funcionários na nota.

Desde então, Trump passou a compor seu segundo governo com autores do Projeto 2025, entre eles Vought. Outros que participaram da elaboração do plano são Tom Homan, o “czar” da fronteira, John Ratcliffe, diretor da CIA, Stephen Miller, o assessor linha-dura para políticas migratórias, e Brendan Carr, que escreveu o capítulo sobre a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) e agora preside a agência reguladora.

A Heritage Foundation não respondeu a um pedido para comentar o assunto. Dans, ex-diretor do projeto, disse que tem sido “empolgante” ver tanto do que foi proposto no plano ser colocado em prática.

“É gratificante. Estamos muito orgulhosos do trabalho que foi feito com esse propósito específico: ter alguém como o presidente Trump pronto para agir já no primeiro dia”, disse Dans, que irá disputar uma vaga no Senado contra Lindsey Graham, veterano republicano, na Carolina do Sul.

Trump usa ‘shutdown’ para fazer sua agenda avançar

Desde a posse, Trump vem seguindo o plano delineado no Projeto 2025 para expandir drasticamente o poder presidencial e reduzir o tamanho da máquina pública federal. Entre as iniciativas estão o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), inicialmente comandado pelo bilionário Elon Musk, e pacotes de rescisão orçamentária, que já fizeram com que bilhões de dólares em gastos fossem cortados, suspensos ou retidos pelo governo neste ano.

Agora, Trump está usando a paralisação das atividades governamentais para acelerar sua agenda. Antes do prazo final para o início do “shutdown”, o OMB, liderado por Vought, orientou as agências federais a se preparem para demissões em massa de seus funcionários, em vez de simplesmente colocar os considerados não essenciais em licença, como tem sido a prática usual durante os “shutdowns”. Vought disse a congressistas republicanos, em uma teleconferência na última quarta-feira, que as demissões devem começar nos próximos dias.

Russ Vought (centro) fala a jornalistas após ‘shutdown’ do governo dos EUA — Foto: Alex Brandon/AP

Trump e Vought também usaram a paralisação do governo para mirar em iniciativas apoiadas pelos democratas, cancelando US$ 8 bilhões em projetos de energia limpa em Estados com senadores da oposição e retendo US$ 18 bilhões em projetos de transportes em Nova York, Estado Natal do senador Chuck Schumer e do congressista Hakeem Jeffries, líderes da oposição no Congresso.

As medidas fazem parte de um esforço mais amplo de concentrar a autoridade federal na presidência, algo que permeia o Projeto 2025. No capítulo escrito por Vought, o plano deixa claro que queria que o presidente e o OMB tivessem mais poder direto. “O diretor [do OMB] deve encarar seu trabalho como a melhor e mais abrangente aproximação da mente do presidente”, escreveu o hoje assessor.

No plano, Vought descreve o OMB como “um sistema de controle de tráfego aéreo do presidente”, que deveria “estar envolvido em todos os aspectos do processo de formulação de políticas da Casa Branca”, tornando-se “poderoso o suficiente para sobrepor-se às burocracias das agências de implementação”.

À Fox News, o senador republicano Mike Lee, de Utah, disse que Vought tem um plano. “E esse plano terá sucesso em dar ainda mais poder a Trump. Isso será o pior pesadelo dos democratas”, afirmou.

O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, reforçou essa mensagem, defendendo que a paralisação do governo dá a Trump e ao diretor de orçamento um vasto poder sobre o governo federal, podendo determinar quais são os funcionários e políticas que são essenciais.

“Schumer entregou as chaves do reino ao presidente”, disse Johnson. “Porque decidiram votar pelo ‘shutdown’ do governo e agora definitivamente ‘desligaram’ o Poder Legislativo e o entregaram ao executivo”.

Young disse que a Constituição americana não dá esse poder à Casa Branca e criticou os republicanos do Congresso por abandonarem o dever se servir como um contrapeso ao presidente.

“Não quero ouvir uma palestra sobre entregar as chaves”, disse ela. “As chaves se foram, elas estão perdidas, caíram pelo ralo. Este ‘shutdown’ do governo não foi o que fez eles perderem as chaves”.

[Fonte Original]

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