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terça-feira, outubro 28, 2025

Trump abre espaço para reduzir tarifas do Brasil

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O presidente Donald Trump abriu espaço para negociar com o Brasil as mais altas tarifas que impôs de todos os países com os quais os Estados Unidos comerciam (ao lado da Índia), 85 dias após taxar em 50% os produtos brasileiros. Em reunião com o presidente Lula em Kuala Lumpur, na Malásia, houve um acordo para que as negociações para a redução das barreiras protecionistas começassem imediatamente. “Foi surpreendentemente boa a reunião que eu tive com Trump. Se depender do Trump e de mim, vai ter acordo”, disse Lula, em sua primeira entrevista após o encontro. Apesar de encontros com autoridades americanas, sempre protelatórios, o início de um entendimento estava travado por falta de autorização do presidente americano ontem. Este primeiro obstáculo caiu no domingo, mas há um longo caminho a percorrer e dificuldades a superar para que o Brasil consiga diminuir barreiras americanas injustificáveis.

O encontro dos dois presidentes marcou um clima radicalmente diferente do de três meses atrás, quando representantes dos EUA faziam questão de ressaltar que a taxação sobre o Brasil tinha motivos políticos porque o país fazia uma perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro deixou de fazer parte das conversas bilaterais e ao que tudo indica o assunto tornou-se página virada. As exigências de mudanças de atitude do STF em relação a ele foram deixadas de lado após sua condenação, à qual os EUA não reagiram com a virulência que se previa diante das atitudes políticas tão incisivas em sua defesa. Trump nada tem a ganhar com o apoio intransigente a um ex-presidente golpista derrotado nas urnas e muito a perder com relações interrompidas com a maior economia da América Latina.

O presidente Lula, por seu lado, mesmo após bravatas para valorizar o presente eleitoral que os Bolsonaro lhe deram ao pedir sanções econômicas contra o próprio país, deixou o terreno retórico, manteve-se firme na defesa da soberania nacional onde isso era necessário (contra a interferência externa nas instituições do país) e ateve-se ao terreno comercial. A via das negociações foi então aberta.

Trump, por seu lado, ensaia revisões pragmáticas após a primeira fase dura da imposição de tarifas. Um par de meses pode ter sido suficiente não para ele abdicar das tarifas — realmente acredita que elas são capazes de ressuscitar a indústria americana e lhe dar recursos fiscais para reduzir o déficit público —, mas para calibrá-las em função da pressão de preços sobre os consumidores americanos, que está crescendo.

No mesmo périplo para a reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), no qual reuniu-se com o presidente Lula, Trump celebrou acordos para isentar vários produtos tarifados (19%) da Tailândia, Malásia e Camboja, e do Vietnã (20%). Esse grupo de países exporta quase tanto quanto a China para os EUA e eles são grandes produtores de vestuário, alimentos e produtos eletrônicos, que têm elevado o índice de preços ao consumidor para 3%, distanciando-se da meta do Federal Reserve, o banco central americano.

No mesmo sentido, para Trump tem razão a reaproximação comercial com o Brasil. Primeiro, porque é um dos poucos países com os quais os EUA têm superávit comercial. No ano, o saldo favorável aos EUA foi de US$ 5,1 bilhões. Em serviços, sua vantagem é ainda maior, com saldo de US$ 16,5 bilhões no primeiro semestre do ano, segundo o US Census Bureau. O superávit total americano em 2025 já é superior a US$ 21,5 bilhões e o do ano passado atingiu US$ 23,1 bilhões.

Além disso, o Brasil é o maior fornecedor mundial de carnes e café, produtos para os quais os EUA não têm substitutos à altura para suprir as quantidades que consomem. Após a imposição das barreiras, as exportações brasileiras dos dois produtos não caíram, apenas foram pousar em outros mercados. Já os preços das duas commodities dispararam no mercado americano.

Em troca da retirada seletiva de tarifas, os EUA querem vantagens. Com os países asiáticos, obteve eliminação de tarifas para produtos americanos e exploração e fornecimento de minerais estratégicos. Os EUA podem seguir a mesma rota com o Brasil, propondo parcerias para sua exploração, além de pedir espaço livre para o etanol, taxado aqui em 20%. Há impasse à vista na discussão sobre as redes sociais — as big techs dão sólido apoio a Trump, que tem sido seu porta-voz para tentar impedir qualquer regulação que as atinja ou venham a coibir sua vocação monopolista.

É um ponto o qual o Brasil não pode ceder, embora não haja certeza de que os EUA tampouco condicionem toda a negociação a um acordo sobre este ponto. Trump não fez isso com a União Europeia e pode ter a mesma atitude com o Brasil. O ajuste fino das tarifas por Trump, que atende seus interesses, permite que o Brasil retire parte da sobrecarga tarifária de suas costas no curto prazo. Trump disse que “eles (o Brasil) podem oferecer muito e nós também”, antes da reunião com Lula. Há espaço para entendimento.

[Fonte Original]

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