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Embora um possível acordo comercial entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA, Donald Trump, possa acelerar a redução de tarifas americanas sobre produtos brasileiros, os analistas da Moody’s Analytics avaliam que o impacto não mudaria significativamente o panorama macroeconômico tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil.
A expectativa é que qualquer alívio decorrente de um acordo na próxima administração Trump seja mitigado por fatores estruturais e pela evolução atual do comércio global, mantendo os efeitos da aproximação política em patamares restritos, segundo texto escrito por Jesse Rogers e Mark Zandi, especialistas para a América Latina.da Moody’s Analytics. Embora seja uma unidade da Moody’s Corporation, as opiniões deles não refletem o Moody’s Ratings, a agência de classificação de crédito.
Contexto
No dia 6 deste mês, Lula e Trump conversaram por telefone. O americano classificou a conversa como “ótima”, e o Palácio do Planalto afirmou que os dois mandatários se encontrarão em breve, sem especificar a data. Lula sugeriu que o encontro entre eles fosse realizado na Cúpula da Asean, na Malásia, prevista para o dia 26 de outubro, próximo domingo.
Dez dias após o telefonema dos presidentes, seus assessores, Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, se reuniram na Casa Branca. Não foram dados detalhes do que foi conversado, apenas o óbvio, de que eles trataram das questões comerciais.
Até a publicação desta reportagem, o encontro de Lula e Trump na Malásia não havia sido confirmado por nenhum dos dois lados.
O que esperar?
Segundo os analistas da Moody’s Analytics, apesar da possibilidade de um acordo, a redução efetiva da taxa tarifária dos EUA sobre o Brasil já havia sido antecipada devido a mudanças nos fluxos comerciais globais e isenções unilaterais para bens de consumo como café e carne bovina.
Se um acordo entre Trump e Lula for efetivado, essa queda será apressada, segundo os analistas. Porém, a estimativa é que o alívio combinado de um pacto comercial e o redirecionamento das exportações agrícolas do Brasil ainda deixará as tarifas bem acima dos níveis praticados antes do início da segunda administração Trump.
Ou seja, os analistas não esperam que a tarifa efetiva dos EUA retorne aos patamares mínimos que prevaleciam antes de janeiro.
Além disso, o Brasil dificilmente receberá o mesmo nível de alívio concedido a parceiros comerciais mais próximos dos EUA, como o Reino Unido, Japão e a União Europeia, avalia a Moody’s Analytics. Isso ocorre por disputas relacionadas ao papel proeminente do Brasil nos Brics (, (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã) e as barreiras comerciais não tarifárias também não se dissiparão rapidamente.
Redirecionamento comercial
Um fator crucial que limita o impacto de um novo acordo é que o Brasil já está colhendo os benefícios do desvio de comércio.
As exportações brasileiras de milho e soja para a China aumentaram drasticamente este ano. Enquanto a China tradicionalmente compra uma parcela significativa da sua soja dos EUA em agosto, setembro e outubro, dados recentes mostram que as compras chinesas de soja americana mingou.
Este redirecionamento do comércio continuará a beneficiar o Brasil, reduzindo, por si só, o impacto das tarifas remanescentes dos EUA sobre suas exportações, escrevem
Custo Brasil em destaque
Segundo os analistas, o principal obstáculo para que as empresas americanas encontrem condições mais favoráveis no Brasil, mesmo com a vontade política para desmantelar barreiras, é a complexa rede de barreiras não tarifárias.
O custo de fazer negócios no Brasil, amplamente conhecido como Custo Brasil, inclui regulamentações, burocracia e impostos que elevam drasticamente os preços. É difícil mensurar com precisão o impacto total dessas barreiras.
Contudo, uma maneira indireta de avaliar o protecionismo brasileiro é observar o custo dos bens de consumo manufaturados no país.
Os analistas citam exemplos tais como o de eletrodomésticos, eletrônicos e automóveis, que podem custar de 30% a 50% mais do que em outras economias emergentes.
Outro é o de um veículo, que pode custar até um terço a mais no Brasil do que nos EUA ou mesmo no México.
impostos de custos de importação e burocracia podem elevar o preço de um iPhone para quase o dobro do valor cobrado nos EUA, independentemente de ser produzido na China ou no Brasil, segundo os analistas.
Este emaranhado complexo de barreiras não tarifárias torna improvável que as empresas americanas encontrem condições mais favoráveis no curto prazo.