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terça-feira, outubro 7, 2025

Mulheres Ampliam Protagonismo em Competições Equestres e no Mercado Western

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Victor Affaro

Maria Paula Maia, Carol Rugolo, Mariana Jubran e Fatiana Ferreira, no Haras Raphaela, em Tietê (SP)

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A equitação exige mais do que equilíbrio: demanda leitura precisa, coordenação e domínio técnico. Em um cenário antes majoritariamente masculino, as mulheres vêm se destacando não apenas em número, mas em performance. Sobre animais de mais de 500 quilos, elas demonstram presença, estratégia e protagonismo.

Nesse cenário em mutação, os esportes equestres mesclam performance técnica e conexão emocional. Mais do que competir, essas mulheres criam laços genuínos com seus cavalos, transformando o galope em metáfora de liberdade e poder. Ao driblarem estereótipos, constroem negócios, compartilham bastidores nas redes sociais e inspiram meninas que, até pouco tempo, não se imaginavam nesses espaços.

A presença feminina no universo equestre cresce de forma consistente. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que entre 70% e 80% dos competidores recreativos em modalidades como Laço, Barrel Racing e corrida de Quarto de Milha sejam mulheres, segundo dados da American Quarter Horse Association (AQHA). No Brasil, embora ainda faltem levantamentos específicos sobre a participação feminina nesse meio, dados da Associação Brasileira do Cavalo Quarto de Milha (ABQM) indicam aumento contínuo nas inscrições de amazonas em provas oficiais, especialmente nas modalidades Três Tambores e Seis Balizas. Esse crescimento reflete uma transformação cultural iniciada nos anos 2000, que passou a valorizar a presença das mulheres também no hipismo rústico.

Mais do que ocupar espaços antes negados, estudos apontam que a prática de esportes equestres gera benefícios significativos à saúde física e emocional feminina. Uma pesquisa publicada na revista científica Clinical Interventions in Aging demonstrou que sessões regulares de equoterapia reduziram casos de incontinência urinária em mulheres idosas, graças ao fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico.

Esses benefícios se estendem ainda mais. De acordo com a Sociedade Brasileira de Equoterapia (Sobrae), o movimento tridimensional do cavalo estimula até 95% dos músculos utilizados na marcha humana, sendo especialmente eficaz no fortalecimento do abdômen, quadris e pelve. No campo emocional, o vínculo com o animal tem se mostrado eficaz no combate à ansiedade e à depressão, promovendo autoconfiança, autoestima e bem-estar – fatores especialmente relevantes em momentos de vulnerabilidade emocional, como o pós-parto, a menopausa ou situações de trauma.

É nesse contexto que se destacam quatro atletas brasileiras que têm na modalidade Três Tambores sua grande paixão. A prova, que exige habilidade, precisão e velocidade, consiste em contornar três tambores dispostos em forma triangular no menor tempo possível. Em suas trajetórias, essas mulheres mostram como a relação com o cavalo ultrapassa o esporte – tornando-se uma filosofia de vida.

Entre maternidade, empreendedorismo, legado familiar e afinidade com a moda, elas demonstram que é possível ser múltipla e, ainda assim, inteira. E, ao revelarem suas histórias, evidenciam uma verdade delicada, mas poderosa: para muitas mulheres, a liberdade começa no cavalo.

Maria Paula Maia: moda e competição

Victor Affaro

Maria Paula Maia: “A moda entendeu, finalmente, a força da mulher que vive isso de verdade”

Em Maceió, Maria Paula Maia cresceu entre cavalos, influência do pai, praticante de vaquejadas – tradição nordestina. Ainda jovem, iniciou no hipismo, modalidade mais acessível a mulheres na época, mas sem real interesse. Seu foco sempre foi o Quarto de Milha, raça veloz e ideal para provas com mais adrenalina.

Já formada em direito e fora da área jurídica, conheceu a modalidade dos Três Tambores em um curso em São José do Rio Preto (SP). De volta a Maceió, tentou estruturar um centro de treinamento com amigos, mas a falta de suporte no Nordeste inviabilizou o projeto. A partir daí, decidiu unir cavalo e moda.

Criou, com uma amiga, uma marca de roupas western femininas para atender a um público negligenciado na região. A marca rapidamente se expandiu, conquistando consumidoras em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e presença em eventos da ABQM. Em um desses eventos, conheceu o marido, também competidor, e mudou-se para o interior paulista, onde passou a se dedicar a treinos e provas.

Passou a mostrar nas redes sociais um perfil pouco explorado: o de uma mulher urbana, vaidosa e, ao mesmo tempo, inserida na rotina competitiva da equitação. “As pessoas não imaginavam que os dois mundos podiam coexistir.”

Hoje, ela amarra os códigos do campo com os da cidade. Seu estilo mistura colares turquesa, estampas country e tendências globais. Para Maria Paula, montar é sobre liberdade e autoconfiança. Começou a competir aos 24 anos – fora da curva em um universo no qual muitas iniciam na infância. “Fui até o fim sem deixar que me limitassem.” Em 2025, com a estética western em alta, ela enxerga uma oportunidade: “A moda entendeu, finalmente, a força da mulher que vive isso de verdade.”

Fatiana Ferreira: quando a rotina vira profissão

Victor Affaro

Fatiana Ferreira: “O cavalo sente tudo. A verdadeira parceria vai além da técnica”

Criada em fazenda e filha de agropecuaristas, Fatiana Ferreira montava desde cedo. Na adolescência, assistiu à arena da Festa do Peão de Barretos e decidiu competir ali um dia. Aos 13 anos, perdeu o pai e encontrou nos cavalos o suporte para seguir em frente.

O que era cotidiano virou profissão. Hoje, é atleta, zootecnista, empreendedora, mãe e referência entre mulheres do agro. Para ela, montar é parte da rotina e da identidade. Um problema grave na coluna a afastou das competições, mas não do esporte. Após recuperação, voltou a competir com mais consciência da conexão com o animal. “O cavalo sente tudo. A verdadeira parceria vai além da técnica.”

Nas redes, compartilha sua rotina e recebe mensagens que se identificam com sua trajetória. Enxerga a moda no campo como parte da identidade: “O chapéu, a bota, a fivela… são declarações de quem somos.” Para ela, ser mulher no agro envolve equilíbrio constante – entre frentes profissionais e pessoais –, mas sem abrir mão da autenticidade. “Sou tudo isso junto.”

A mensagem que transmite é objetiva: persistência. “Essa foi a maior lição dos cavalos – e o que quero passar para os meus filhos: respeito, paciência, gratidão e fidelidade à própria história.”

Carol Rugolo: inspiração para amadoras

Victor Affaro

Carol Rugolo: “O campo e a moda se misturam. Minha história é feita disso”

Carol Rugolo cresceu em meio a rodeios e treinos de laço. Quando conheceu os Três Tambores, decidiu se dedicar exclusivamente aos cavalos. O hobby virou profissão e rotina.

Para ela, montar é uma atividade de foco, leitura e reflexo. Já passou por acidentes e retomou a prática com ainda mais consistência. A principal mudança veio quando decidiu competir apenas com os próprios cavalos, rompendo com o modelo tradicional em que treinadores dividem os animais com os atletas. A decisão trouxe mais resultado e inspirou outros competidores amadores.

No campo do empreendedorismo, fundou a Cutter Jeans, nome inspirado no cavalo que ganhou aos 15 anos. A marca se tornou um braço do seu universo pessoal e competitivo. Sem estratégia de marketing, conquistou audiência espontânea nas redes. “Postava o que vivia. E as pessoas se conectaram.”

Carol acredita que o espaço feminino na equitação está consolidado. “Hoje temos treinadoras, recordistas e lideranças. Estamos em todos os lados.” Mantém o estilo western como parte da sua assinatura pessoal. “O campo e a moda se misturam. Minha história é feita disso.”

Mariana Jubran: referência feminina no agro

Victor Affaro

Mariana Jubran: “Ser mulher nesse universo exige presença. E é isso que eu ofereço: presença”

Mariana Jubran cresceu entre São Paulo e a fazenda da família em Presidente Prudente, no interior do estado. Filha de Samir Jubran, importante criador de cavalos de corrida que dizem ter inspirado a novela O Rei do Gado, ela monta desde os dois anos, por hábito – e por instinto.

Escolheu cursar veterinária, contrariando o pai. Ele reagiu com ironia: “Então, o gado é sua responsabilidade.” Ela aceitou – e assumiu a função. A convivência com os cavalos moldou suas decisões e sua atuação profissional. Ao longo da vida, observou como a relação com o cavalo oferece suporte psicológico a muitas mulheres. “O cavalo não vê gênero. Vê verdade.”

Atualmente, lidera eventos no agro e se tornou referência feminina no setor. Diz que chegou a esse lugar com esforço e consistência. Seu estilo, marcado por peças western autênticas, acompanha esse discurso. “A moda nunca foi estética. Sempre foi essência.” Nas redes, compartilha o dia a dia no campo e nas competições. Recebe relatos de mulheres que se reconhecem em sua trajetória. “Ser mulher nesse universo exige presença. E é isso que eu ofereço: presença.”

Estética western em alta

Divulgação

Desfile Louis Vuitton FW24

Franjas, fivelas, botas de bico fino e jeans surrado. A estética western, que por décadas habitou o imaginário rural, voltou com força total às passarelas – agora sob uma nova luz: a da mulher protagonista. Em 2025, o chamado cowboy-core deixou de ser tendência para se tornar expressão. Grifes como Louis Vuitton, Chloé e Ralph Lauren mergulharam de cabeça no estilo, e a influência de Beyoncé com o álbum Cowboy Carter impulsionou ainda mais esse retorno às raízes.

Nas vitrines e nas redes sociais, a cowgirl contemporânea aparece com identidade e brilho próprios – cruzando o campo e a cidade, o passado e o presente. Mais do que moda, é pertencimento. E, para quem vive a lida, como as amazonas desta reportagem, é também afirmação: o campo nunca esteve tão em alta.

O sucesso da top model Bella Hadid

Divulgação

Bella Hadid competindo a cavalo

Norte-americana de ascendência palestina e holandesa, Bella Hadid trocou o salto alto pelas esporas – e fez disso um espetáculo. Apaixonada por cavalos desde a infância, a top model encontrou no esporte equestre um novo palco para brilhar. Depois de se mudar para o Texas ao lado do namorado, o cavaleiro profissional Adán Banuelos, Bella mergulhou de vez no universo western.

Em 2024, conquistou o título de Rookie of the Year em uma das principais competições de cutting horse dos Estados Unidos, e vem marcando presença em eventos do circuito com a mesma elegância que leva às passarelas. Do campo às ruas de Nova York, ela ressignifica o glamour com cinto de fivela oversized e chapéu no lugar do coque. Ao trazer visibilidade pop ao mundo equestre, Bella inspira uma nova geração a ver no cavalo não só um símbolo de força, mas também de estilo.



[Fonte Original]

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