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terça-feira, outubro 14, 2025

O Banqueiro Que Trocou Wall Street Pela Tasmânia Para Fazer Uísque

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Justin Turner, fundador da Turner Stillhouse

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Justin Turner, fundador da Turner Stillhouse, precisa sinalizar aos apreciadores de uísque, de forma sutil, que sua bebida segue todas as regras ligadas a um ícone da tradição americana – o bourbon whiskey –, com a única diferença de ser produzido na Tasmânia.

“Tudo o que fizemos grita ‘uísque americano’, sem nunca usar a palavra ‘bourbon’”, diz Turner à Forbes Austrália. “O rótulo traz ‘Australian straight whiskey’. A palavra ‘straight’ é outro termo para uísque de estilo americano. Também há o ‘e’ em whiskey, além das expressões ‘aged and toasted’, ‘charred new American oak’ e ‘sweet mash’.”

As leis de denominação geográfica dos Estados Unidos e tratados comerciais internacionais o impedem de usar o termo derivado da casa real de Bourbon — mas isso não vai impedir a Turner Stillhouse de embarcar em uma espécie de “viagem do carvão a Newcastle”, vendendo o produto de volta aos EUA.

Recém-lançado no mercado australiano, o Rosevears Tasmanian Three Grain Single Malt Whiskey deve começar a ser exportado para os Estados Unidos em até 12 meses.

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Uísque Rosevears Three Grain da Turner Stillhouse

Do Hudson ao Tamar

Justin Turner cresceu no norte da Califórnia, onde sua família tinha uma pequena vinícola que também produzia conhaque. Mais tarde, mudou-se para Nova York e trabalhou no mercado financeiro.

“Tive uma carreira bem diversa no setor financeiro de Nova York”, conta Turner. “Mas, por mais interessantes que fossem alguns negócios, eu sempre estava do lado de ajudar alguém a captar recursos ou vender uma empresa. Queria estar do outro lado da mesa, fazendo algo mais empreendedor.”

Em 2010, ele conheceu sua atual esposa, Sarah-Jayne Hall, uma advogada da Tasmânia que trabalhava em Nova York.

O casal se mudou para a Califórnia, onde Turner assumiu outro negócio da família, a Turner Gas. Ele reestruturou a empresa e a vendeu para a companhia pública Crestwood em 2016 — e então ficou se perguntando qual seria o próximo passo.

Chegou a considerar abrir uma startup de tecnologia. “Mas o uísque era minha paixão, e eu não conseguia parar de pensar nisso”, recorda.

Os planos de iniciar o projeto nos EUA mudaram depois de uma visita à família da esposa no Natal de 2017, em Deloraine, norte da Tasmânia. Eles sugeriram que ele conhecesse uma antiga vinícola em Rosevears, no Vale do Tamar.

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Turner Stillhouse

Turner aceitou — mais para agradar do que por real interesse. O local era uma antiga vinícola Brown Brothers, ao lado da respeitada vinícola Tamar Ridge Cellar Door. “Pensei: que ideia incrível seria ter uma destilaria ao lado de uma vinícola, a única na rota dos vinhos do Vale do Tamar. Seria como ter uma destilaria no Napa Valley da Califórnia.”

“E eu estava intrigado com a Tasmânia. A Sullivans Cove já tinha sido eleita o melhor uísque do mundo algumas vezes, e havia uma cena artesanal crescente, com produtos e alimentos incríveis. Ninguém estava fazendo muito uísque ao estilo americano por aqui — havia só um produtor de rye whiskey, o Belgrove, que é excelente.”

Turner foi à Escócia para um curso intensivo de destilação na Edinburgh Whisky Academy.

“Basicamente, liguei para todas as destilarias que encontrei nos EUA. A maioria dizia: ‘Somos muito reservados, não queremos estranhos aqui.’ E eu respondia: ‘Mas vou fazer isso na Tasmânia, não sou uma ameaça direta. Posso varrer o chão, fazer o que for preciso — só quero aprender.’”

Algumas aceitaram recebê-lo. Uma delas produzia gin. Turner achava que não gostava da bebida — até provar a deles. “Percebi que o uso de botânicos contemporâneos era algo que eu poderia fazer.”

Em outubro de 2018, Turner e Hall decidiram se mudar para a Tasmânia, alugaram a antiga vinícola e lançaram seu primeiro gin, o Three Cuts, apenas três meses depois.

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O primeiro gin da Turner Stillhouse, Three Cuts

Eles chegaram bem no auge do boom do destilado, e o mercado continuou pedindo mais. Turner e o mestre destilador Brett Coulson criaram novos estilos e acumularam prêmios e reconhecimento internacional com seu gin.

Mas tudo isso acabou desviando a atenção do plano original: o uísque americano.

O alambique de bourbon chegou no fim de 2019 — um emaranhado de tubos e válvulas desconhecido pelos locais. A fabricante, em Portlan (EUA), não pôde enviar um engenheiro para fazer a instalação por causa da pandemia de COVID-19.

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Brett Coulson, destilador principal da Turner Stillhouse, Rachel Alberti, gerente de destilação e embalagem, e Justin Turner

Durante aquele primeiro ano de incertezas, eles conseguiram destilar o primeiro single malt e, em seguida, começaram a produzir um destilado ao estilo bourbon.

“Não conseguimos importar barris dos EUA. Para chamar uma bebida de bourbon, a lei exige o uso de carvalho americano novo, queimado por dentro. Estamos seguindo rigorosamente as regras do bourbon americano — mesmo sem poder usar o nome —, porque quero que sejamos levados a sério.”

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O uísque single malt Rosevears da Turner foi lançado em março

“No nosso primeiro lote de ‘bourbons’, usamos barris vindos de Barossa, feitos com carvalho americano naturalmente curado ao ar. As tanoarias da indústria do vinho os adaptaram para nós. Mas, desde então, todos os nossos barris vêm do Missouri — de carvalho branco virgem.”

Por quase um século, destilarias do mundo todo compraram barris usados de bourbon de produtores americanos, aproveitando o sabor defumado e adocicado da madeira. Turner, porém, economiza ao usar seus próprios barris usados na produção do single malt.

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Uísques da Turner

“A maior parte do que temos envelhecendo é dividida entre nosso Three Grain ‘bourbon’ e o single malt. Também fiz um pouco de rye whiskey e outro 100% de milho. Mas era importante usar apenas grãos da Tasmânia — algo inédito. Então, usamos milho, centeio e cevada maltada 100% locais.”

A exigência de que o bourbon seja feito com pelo menos 51% de milho levou Turner a um desafio: quase não há cultivo do grão na ilha. Ele teve que convencer os agricultores a plantar mais.

Para adicionar complexidade, optou por uma fermentação aberta — deixando as leveduras selvagens do ar local interferirem no sabor e conferirem um toque de terroir.

O Rosevears Tasmanian Single Malt Whisky foi lançado em maio. Já o “bourbon que não é bourbon”, Rosevears Tasmanian Three Grain Whiskey, acaba de chegar ao mercado australiano.

Turner acaba de voltar de uma viagem aos Estados Unidos, onde conversou com distribuidores, e afirma que deve começar a exportar o Three Grain “nos próximos 12 meses”.

No início, ele via o gin apenas como um produto para preencher o tempo enquanto o uísque maturava. Mas o sucesso superou as expectativas.

“Tenho focado fortemente no mercado americano, porque é o país onde nasci. Muitas destilarias daqui concentram-se mais em exportar para a Ásia ou para a Europa.”

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Justin Turner, da Turner Stillhouse

Atualmente, a Turner Stillhouse exporta “menos de 25%” de sua produção, mas Turner acredita que esse número chegará “a 50%” em até dois anos.

Ele prefere não divulgar os números de vendas. “Mas posso dizer que já produzimos mais de 800 barris de uísque e temos mais de 125 mil litros envelhecendo.” Com uma equipe de 13 pessoas na Tasmânia e um time de vendas nos EUA, ele tenta unir Kentucky à ilha da Tasmânia.

“Costumamos dizer que nosso uísque tem gosto de Tasmânia na frente e de Kentucky no final. Porque você sente os grãos tasmanianos junto com o milho e o centeio… e isso faz um old fashioned incrível.”



[Fonte Original]

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