REUTERS/Evelyn Hockstein
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu uma nova frente de diálogo com o Brasil ao afirmar nesta sexta-feira (24) que poderia considerar a redução das tarifas comerciais impostas ao país “sob as circunstâncias certas”. A declaração foi feita a bordo do Air Force One, quando o republicano se dirigia à Malásia, onde ele participa da 47ª cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
O gesto representa uma mudança de tom em relação à postura mais rígida adotada por Washington desde agosto, quando as tarifas de importação sobre produtos brasileiros foram elevadas em 50%, afetando exportadores de aço, alumínio e produtos agrícolas. Agora, Trump indica que uma revisão é possível, sinal que reacende expectativas de reaproximação entre as duas maiores economias do continente.
Do outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também demonstrou disposição para o diálogo. Em coletiva concedida a jornalistas na Indonésia, antes de embarcar para a Malásia, o brasileiro disse que espera se reunir com Trump e que o encontro pode abordar qualquer tema, das tarifas comerciais às tensões entre Estados Unidos e Venezuela. “Espero que ‘role’. Eu vim aqui e estou à disposição para que a gente possa encontrar uma solução”, afirmou.
Já em solo malaio, Lula reforçou o tom conciliador. “Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Eu trabalho com otimismo para que a gente possa encontrar um caminho.”
Segundo o presidente americano, há grande probabilidade de um encontro bilateral neste domingo (26), à margem da cúpula. “Acho que vamos nos encontrar novamente. Nós nos encontraremos brevemente nas Nações Unidas”, disse Trump, sem confirmar o horário.
Se confirmada, será a primeira reunião direta entre Lula e Trump desde o início do segundo mandato do republicano, um gesto que pode marcar o início de uma nova fase nas relações comerciais entre Brasília e Washington.
Os dois, até agora, só se encontraram brevemente em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU, onde Trump diz que os dois tiveram uma “boa química”, e, depois, falaram por telefone, numa conversa que também foi avaliada positivamente pelo republicano. No dia 16 deste mês, houve um encontro entre os auxiliares dos dois países, Marco Rubio pelo lado dos EUA, e o chanceler brasileiro Mauro Vieira. Rubio diz ter sido ‘ótimo e produtivo”.
O que se coloca à prova agora é se essas amistosidade nos discursos terão algum efeito prático na mesa de negociações. Uma eventual revisão tarifária teria impacto direto sobre o fluxo de exportações brasileiras, especialmente nos setores de commodities e manufaturados, fortalecendo a posição do Brasil em mercados estratégicos. No primeiro mês do tarifaço, em agosto, os envios d produtos brasileiros para os americanos despencou em 18,5%.
Para observadores internacionais, tanto Trump quanto Lula parecem interessados em um gesto político de pragmatismo em meio a um cenário global de tensões comerciais e rearranjos geopolíticos no Indo-Pacífico. A cúpula da Asean, palco improvável para uma aproximação desse porte, pode se tornar o ponto de partida de um novo entendimento entre Washington e Brasília e de uma oportunidade de reposicionamento econômico para ambos.