Crédito, Reuters
- Author, Mark Lowen e Alison Roberts
- Role, BBC News
Um relatório preliminar divulgado nesta segunda-feira (20/10) sobre o acidente com um bondinho em Lisboa no mês passado, que matou 16 pessoas, apontou para uma série de falhas.
Segundo o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) de Portugal, um cabo subterrâneo — que servia de contrapeso entre duas cabines e se partiu, causando o acidente — estava defeituoso e nunca tinha sido certificado para o transporte de passageiros.
O relatório afirma que o cabo não era tecnicamente adequado e foi adquirido em 2022 pela Carris, empresa que gere o transporte público de Lisboa e agora admite ter demitido o responsável pela manutenção de bondinhos.
Entre os mortos, havia 11 estrangeiros. Outras 20 pessoas ficaram feridas.
De acordo com o relatório, faltou supervisão por parte dos engenheiros da Carris e o cabo não foi testado antes da sua instalação.
A supervisão e a manutenção do bondinho por uma empresa terceirizada pela Carris também não funcionaram adequadamente — aparentemente liberando o funcionamento do Elevador da Glória na manhã do desastre, embora não haja certeza de que a verificação realmente ocorreu naquele dia.
O sistema de freio de emergência, que o motorista tentou acionar corretamente quando o cabo se rompeu, não funcionou bem e nunca havia sido testado previamente, segundo o relatório.
No entanto, o documento enfatizou que as informações coletadas até o momento são “incompletas”, sendo necessários mais testes e análises.
“A culpa ou responsabilidade de qualquer organização ou pessoa envolvida no incidente não deve ser presumida”, diz o relatório do GPIAAF.
O prefeito de Lisboa, Carlos Moedas — reeleito em 12 de outubro apesar das acusações da oposição de que teria falhado na supervisão dos bondinhos da cidade —, disse à emissora SIC que o relatório “reafirma que a lamentável tragédia… se deveu a causas técnicas e não políticas”.

Crédito, EPA
A Carris emitiu um comunicado salientando que “não é possível neste momento afirmar se as não conformidades na utilização do cabo são ou não relevantes para o acidente”.
A empresa destacou um trecho do relatório segundo o qual os mesmos cabos estavam em uso no Elevador da Glória havia 601 dias sem incidentes.
O relatório do GPIAAF também traz recomendações preliminares, como a implementação de um novo sistema de gestão de segurança pela Carris, em conformidade com as melhores práticas europeias.
O relatório completo levará cerca de 11 meses para ser concluído. Caso haja atraso, será divulgado um relatório provisório mais detalhado.
Enquanto isso, todos os bondinhos de Lisboa foram obrigados a ficar fora de serviço até que as verificações de segurança sejam feitas.
Todos os sistemas de freios precisam de ser revistos para verificar se conseguem parar as cabines em caso de falha do cabo — o que não aconteceu no acidente com o Elevador da Glória —, aconselhou o relatório.
O documento também recomendou o fim de uma brecha pela qual os elevadores históricos de Lisboa ficam isentos do monitoramento legal e da supervisão que se aplica a outras formas de transporte com cabos.