Crédito, Reuters
Dezenas de palestinos e dois soldados israelenses foram mortos neste domingo (20/10) em um ataque lançado pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) contra Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Israel justificou a operação como uma resposta à violação pelo Hamas do cessar-fogo.
Um porta-voz militar israelense alegou que o grupo havia realizado “múltiplos ataques contra forças israelenses além da linha amarela”, área à qual as tropas israelenses se retiraram conforme previsto na primeira fase do acordo.
Segundo a IDF, soldados israelenses foram alvo de disparos de armas e de um míssil antitanque enquando atuavam para desmantelar “locais de infraestrutura terrorista”.
Em resposta, Israel abriu fogo contra túneis e instalações militares de onde teriam partido os ataques.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, negou envolvimento nos confrontos em Rafah e afirmou permanecer comprometido com o cessar-fogo, acusando Israel de “violar o acordo e fabricar pretextos para justificar seus crimes”.
Horas depois da “onda de ataques”, o exército israelense anunciou que havia retomado a aplicação do cessar-fogo.
Para muitos em Gaza, entretanto, os eventos reacenderam temores de um retorno total aos combates.
Nos últimos dias, ataques israelenses mataram ao menos oito palestinos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. Muitas vítimas ainda permanecem sob escombros, inacessíveis a ambulâncias devido à presença militar israelense.
Desde a retomada da trégua, 35 pessoas foram mortas, 146 ficaram feridas, e 414 corpos de palestinos foram recuperados.
O total de mortos desde o início da campanha militar israelense em resposta ao ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023 chega a 68.159.
Em meio à tensão, os EUA anunciaram no domingo que Steve Witkoff, enviado de Trump, e Jared Kushner, genro do presidente, estão a caminho de Israel para discutir os próximos passos do cessar-fogo.
O que prevê o acordo
A trégua mediada pelos EUA, proposta pelo ex-presidente Donald Trump, incluiu a retirada parcial de tropas israelenses — que ainda controlam cerca de 53% da Faixa de Gaza, incluindo o Corredor Netzarim — e a libertação de reféns e prisioneiros: todos os israelenses vivos, 12 dos 28 falecidos, 250 palestinos presos em Israel e 1.718 detentos de Gaza.
O acordo também prevê a entrada de ajuda humanitária; centenas de caminhões começaram a chegar, apesar da destruição em várias áreas e da escassez de acesso a equipamentos pesados para remoção de escombros.
Apesar da trégua, há risco crescente de conflitos internos entre Hamas e facções palestinas rivais, que segundo o grupo teriam sido armadas e apoiadas por Israel.
Nos últimos dias, militantes do Hamas realizaram ações de repressão contra gangues locais, incluindo execuções públicas de membros acusados de colaborar com Israel.
Analistas apontam que a ausência de uma força internacional de estabilização ainda não implementada aumenta o risco de novas disputas civis dentro da Faixa de Gaza.
A posição dos EUA em relação à violência interna também mudou durante a semana.
Inicialmente, Trump afirmou ter autorizado temporariamente o Hamas a agir contra gangues “muito ruins” e crimes internos, mas depois a administração passou a exigir que o grupo suspenda imediatamente ataques contra civis palestinos, criando zonas seguras em áreas sob controle israelense para proteger civis e grupos rivais.
Os ataques recentes ocorreram poucos dias após o início da primeira fase do cessar-fogo, que previa a retirada parcial das tropas israelenses, a entrega de reféns e prisioneiros e a entrada de ajuda humanitária.
A IDF afirmou que os ataques em Rafah visavam desmantelar infraestrutura usada para disparos de foguetes e confrontos com tropas israelenses, enquanto Hamas reiterou compromisso com a trégua, acusando Israel de violá-la repetidamente.
A situação humanitária permanece crítica: áreas de Gaza ainda sofrem com fome, destruição de edifícios e dificuldades de acesso a serviços de emergência.
Especialistas alertam que, sem a presença de uma força internacional robusta, o risco de novos confrontos entre facções palestinas e entre Israel e Hamas é elevado.