Crédito, Indonesia Presidential Office
No dia em que recebeu visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder da Indonésia, Prabowo Subianto, declarou que o português passará a ser ensinado nas escolas indonésias.
Lula foi recebido nesta quinta-feira (23) no Palácio Merdeka, em Jacarta. Lá, ele confirmou que disputará um quarto mandato nas eleições de 2026.
Segundo o site de notícias indonésio Kompas.com, Prabowo afirmou que a medida reflete a importância do Brasil para a Indonésia.
“Devido à relevância dessa parceria, decidi que o português será uma língua prioritária em nossa educação, porque queremos que esse relacionamento se fortaleça”, disse o presidente indonésio durante a declaração conjunta com Lula, segundo o site.
As informações divulgadas também descrevem que o presidente indonésio destacou que o país já oferece aulas de idiomas como inglês, árabe, chinês e russo, e que agora o português deve integrar esse grupo. Lula, ao ouvir o anúncio, respondeu com aplausos e agradecimento.
O site aponta que Prabowo determinou que os ministérios da Educação e do Ensino Superior comecem a implementar o plano, que faz parte de um pacote mais amplo de aproximação entre os dois países.
Acordos entre Brasil e Indonésia
Durante a visita, Brasil e Indonésia firmaram oito acordos de cooperação que vão de energia e mineração a estatísticas, inovação científica e agricultura. Os documentos foram assinados por ministros e chefes de agências estatais diante dos dois presidentes, simbolizando o início de uma parceria estratégica de longo prazo.
Lula e Prabowo também reforçaram o compromisso com o multilateralismo e com a ampliação de laços entre países do Sul Global.
O líder brasileiro destacou a importância de uma diplomacia “baseada no diálogo e no respeito entre as nações”, enquanto Prabowo disse ver no Brasil um parceiro essencial tanto para o BRICS quanto para futuras cooperações na área ambiental e educacional.
A inclusão do português nas escolas indonésias, ainda sem data definida para começar, é vista como um gesto político e cultural inédito. O idioma, falado por mais de 260 milhões de pessoas no mundo, será o primeiro de origem latina a integrar o currículo nacional da Indonésia — um sinal de que o país busca se aproximar não apenas do Brasil, mas também da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Durante a visita à Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o multilateralismo e criticou o protecionismo nas relações comerciais — um discurso que ganha peso diante da expectativa de um possível encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nos próximos dias.
Lula afirmou que tanto o Brasil quanto a Indonésia têm interesse em fortalecer o comércio bilateral sem depender exclusivamente do dólar. “Queremos democracia comercial, não protecionismo. Precisamos criar condições para negociar com as nossas próprias moedas”, declarou.
A defesa do uso de moedas locais em transações internacionais é um dos pontos que podem gerar atrito com Washington. De acordo com informações da imprensa brasileira, Trump deve pressionar Lula a recuar da proposta de ampliar o uso de moedas próprias nas trocas entre países do BRICS.
A passagem pela Indonésia marca o início da agenda asiática do presidente, voltada à ampliação do comércio de proteína animal brasileira, à cooperação ambiental e ao fortalecimento dos laços com países do Sudeste Asiático. Lula segue agora para a Malásia, onde participa da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e deve se reunir com Trump à margem do evento, no domingo (26).
O encontro entre os dois líderes será o primeiro formal desde a imposição de tarifas de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros e marca uma tentativa de distensão nas relações. O governo brasileiro vê a viagem como parte de uma estratégia de diversificação comercial — uma resposta direta à volta de Trump à Casa Branca e à consequente tensão nas relações bilaterais.
A cientista política Fernanda Nanci Gonçalves, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), avalia que há sinais de reaproximação entre os países.
“Há espaço para um diálogo pragmático, mesmo com divergências ideológicas. Claro que é preciso ter cautela porque a reversão de tarifas e a retomada de uma ‘agenda positiva’ dependem de ações concretas, especialmente em temas como comércio, energia e segurança das cadeias produtivas. Mas, sem dúvidas, o clima político melhorou”, disse ela à BBC News Brasil.
Uma fonte próxima à Presidência descreveu à BBC a viagem de Lula ao Sudeste Asiático como um “capítulo de uma estratégia maior de resposta à eleição de Trump”, destacando que o Brasil tenta reforçar novas rotas comerciais desde o fim do ano passado para reduzir a dependência do mercado norte-americano.
*Com reportagem de Julia Braun