O Brasil está em um ponto de inflexão que pode definir o rumo da economia nos próximos anos. Para o gestor André Lion, sócio e CIO da Ibiúna, a eleição presidencial de 2026 será um divisor de águas para a confiança dos investidores e a trajetória dos juros no país.
“O evento de outubro de 2026 é relevante porque o Brasil está numa direção que, mais cedo ou mais tarde, terá de ser modificada”, afirmou.
Lion lembra que a dívida pública vem crescendo estruturalmente em relação ao PIB e, sem uma mudança de rota, o juro estrutural tende a subir.

“Se não houver alternância de poder, é muito pouco provável que façamos o ajuste (fiscal) necessário. Imaginar o presidente Lula, eleito pela quarta vez, tomando essa decisão me parece menos provável.”
Segundo ele, o resultado fiscal organizado e os investimentos bem direcionados são os únicos caminhos para o juro estrutural cair.
“Não existe mágica. É a cartilha de sempre: responsabilidade fiscal e previsibilidade.”
O “ciclo chato da bolsa brasileira”
O comentário foi feito durante o podcast Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo, que voltou a discutir o mercado de ações após um período focado em temas macroeconômicos.
O episódio teve como destaque justamente o debate sobre o “ciclo chato” da Bolsa brasileira e o papel das eleições no humor do investidor.
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Lion, que investe em renda variável há décadas, relembrou períodos de forte retração de liquidez, quando chegou a duvidar se a Bovespa “pararia de pé”.
Para ele, a atual estagnação é semelhante a outros momentos difíceis, mas o cenário externo favorável pode ser o gatilho de uma retomada gradual.
Corte de juros nos EUA e fluxo global aliviam mercados emergentes
Na avaliação do gestor, o movimento recente da Bolsa brasileira, que subiu de 120 mil para 145 mil pontos, tem origem principalmente no exterior. “Na minha opinião, 99% desse movimento é reflexo do cenário internacional”, afirmou.
Ele lembrou que, desde 2008, os Estados Unidos viveram um ciclo prolongado de juros baixos e crescimento acelerado, o que atraiu fluxos maciços de capital. Agora, com o Federal Reserve (FED) iniciando um processo de corte de juros, parte desse dinheiro começa a migrar para outros mercados.
“O DXY caiu quase 10% no primeiro semestre do ano. Isso mostra uma reavaliação global de onde alocar capital, e parte desse fluxo vem para emergentes, inclusive o Brasil.”
Lion citou que o EWZ — índice que representa o mercado brasileiro em dólar — está próximo da mínima histórica em relação ao EMXC, que reúne emergentes fora da China.
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“Não foi o Brasil que andou, foi o mundo todo. A gente foi junto”