São exatamente 382 degraus que separam o chão da Penha do topo onde se ergue o Santuário de Nossa Senhora da Penha. Mas a distância parece menor quando, todos os dias, ao meio-dia e às 18h, o hino dedicado à padroeira ecoa por toda a região. É nesse cenário que, em outubro, a tradicional Festa da Penha chega aos 390 anos, atraindo cerca de 50 mil pessoas ao longo de todos os domingos do mês. No mesmo período, a Zona da Leopoldina, onde a Penha se encontra, celebra 139 anos de história, reafirmando a fé, a cultura e a identidade de seus moradores.
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Para moradores e devotos, não se trata apenas de uma celebração religiosa: é um encontro com a história e com a própria cidade.
— O mais mágico é que a igreja venha até você — diz o produtor Alex Maciel da Costa, devoto da santa e morador do bairro há mais de 30 anos. — Quanto mais silêncio, mais alto essa melodia divina se torna.
Festa da Penha em imagens
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Devoto sobe de joelhos a escadaria da Penha cumprindo promessa — Foto: Arquivo
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Bonde 97. Linha Madureira–Penha em circulação na década de 1950, levando fiéis e visitantes à tradicional Festa da Penha — Foto: Arquivo Nacional
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Fiéis e visitantes nas escadarias da igreja durante Festa da Penha nos anos 1950 — Foto: Arquivo
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Igreja da Penha e entorno registrados na década de 1960 por Epaminondas e Raul Lima — Foto: Arquivo/Biblioteca Nacional
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Fiel se ajoelha diante de Jesus crucificado, com a Igreja de Nossa Senhora da Penha ao fundo — Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
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Devoto sobe de joelhos a escadaria da Penha cumprindo promessa em 30 de setembro de 1972 — Foto: Monzart/Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
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A Igreja da Penha se destaca como marco religioso, histórico e ambiental — Foto: Divulgação
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O Santuário da Penha recebeu 1,5 milhão de visitantes entre janeiro e agosto — Foto: Marcelo Theobald
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Jefferson Plácido (à esquerda), Vilson Luiz, Alex Costa, Rafael Mattoso, Hugo Costa e Gabriel Capella celebram a história e a cultura da Penha — Foto: Marcelo Theobald
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O produtor Alex Maciel da Costa é devoto da Nossa Senhor da Penha e morador do bairro há mais de 30 anos — Foto: Divulgação
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A devoção de Costa ganhou um novo significado durante a pandemia, quando enfrentou um quadro grave de Covid-19.
— Tive falta de ar intensa e pensei em ir ao hospital, mas antes parei diante da imagem de Nossa Senhora da Penha que tenho em casa e rezei pedindo sua intercessão. Adormeci no sofá e, no dia seguinte, acordei melhor. A partir dali, fui me recuperando — relembra. — Tenho certeza de que Nossa Senhora me salvou. Ela já realizou muitos milagres na minha vida.
Além da fé, o Santuário também se tornou cenário de histórias profissionais para Costa. Ele ajudou a viabilizar gravações de novelas da TV Globo realizadas na igreja, entre elas “Volta por cima”, da autora Cláudia Souto, e a atual trama “Dona de mim”, de Rosane Svartman, em que uma das personagens, interpretada por Camila Pitanga, é devota de Nossa Senhora da Penha.
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Para o padre Thiago Sardinha, responsável pela Igreja da Penha e que completa 42 anos amanhã, início da festa, a celebração é marcada pela tradição e pelo respeito às diversidades sociais, culturais e religiosas:
— A Festa da Penha reflete a fé e a cultura popular que atravessa gerações. A devoção mariana transforma desafios em esperança e inspira a comunidade a viver a fé na simplicidade, fortalecendo laços sociais e culturais no pátio da Igreja — explica. — É a harmonia na diversidade. Do adulto que reza à criança que brinca, do transporte público aos bondinhos gratuitos, do choro de quem pede uma graça à alegria de quem sobe de bondinho, contemplando o Santuário.
Algumas tradições da festa ainda são pouco conhecidas, destaca o padre: a lavagem da escadaria no sábado anterior à abertura (este ano será hoje, às 14h), a apresentação do novo manto da imagem da padroeira doado pelas 12 Damas e Cavalheiros, o Museu e Sala de Milagres, barracas de cocadas, petecas, cordões de bala de coco, atendimentos sociais gratuitos, bazar de roupas e o ato de passar por debaixo do Manto de Nossa Senhora no último domingo (26) da festa, às 22h, dentro da Basílica.
Desde que assumiu o Santuário, em 2015, o padre observa maior participação do público e das novas gerações, especialmente incentivadas pelas mídias sociais. Ao mesmo tempo, o Santuário investe na preservação do patrimônio histórico e espiritual, com tour virtual, museóloga para gerenciar o acervo da Venerável Irmandade, manutenção elétrica, descupinização, testes semanais das bombas de incêndio, plantio de mudas em parceria com a Secretaria municipal de Meio Ambiente, reforma do Cruzeiro e projetos com a PUC-Rio, incluindo a abertura de um novo mirante.
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— O que mais me marcou foi a entrega total dos voluntários e devotos — afirma.
A região do Santuário da Penha faz parte do projeto Aqui tem Memória, que identifica monumentos e pontos históricos da cidade por meio de placas informativas com códigos QR, oferecendo informações em português e inglês e recursos de acessibilidade.
Entre janeiro e agosto deste ano, o Santuário recebeu 29.200 turistas nacionais e 1.700 internacionais, totalizando 1,5 milhão de visitantes quando considerados turistas e moradores locais, segundo o Observatório do Turismo da SMTUR-Rio.
Do milagre à criação da identidade carioca
Os planos incluem reforma total do Santuário, novo acesso para ônibus e carros, dormitórios para turistas e romeiros, acessibilidade no Museu e Sala de Milagres, novo mirante da Cruz da PUC-Rio e trilhas ao redor do penhasco. A Basílica ampliará sua atuação social, educacional, esportiva, ambiental, patrimonial e turística, com projetos que fortalecem a cultura e a economia locais, incluindo bolsas escolares, grupos esportivos, preservação da APA da Penha, ações com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e roteiros turísticos na Zona Norte envolvendo igrejas, escolas de samba e centros culturais.
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Com o tema “Com Maria, somos Peregrinos da Esperança!”, a festa de 2025 contará com programação especial durante todos os domingos de outubro, incluindo missas de hora em hora na Igreja da Penha. Neste domingo, a partir do meio-dia, haverá shows de Sobre a Rocha, padre Antônio Maria e Colo de Deus. No dia 12, às 8h, acontece a tradicional procissão com o Terço dos Homens e das Mulheres, com participação de Dom Hiansen, padre Thiago Sardinha (responsável pela Igreja da Penha) e diácono Melquisedec; à tarde, às 15h, escolas de samba se apresentam em homenagem à padroeira.
No dia 19, o destaque será a apresentação do grupo Cacique de Ramos e também de escolas de samba, ao meio-dia. Já no encerramento, no dia 26, a programação traz show de jazz com Jefferson Plácido, seguido de missa solene com o cardeal Dom Orani, às 17h30, na Concha Acústica. Em seguida, às 19h, haverá apresentações da banda V-Trix e de grupos de folclore brasileiro e a coroação da imagem de Nossa Senhora da Penha. A festa é organizada pela Basílica da Penha e a Arquidiocese do Rio, com apoio da prefeitura do Rio.
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Entre os destaques, Jefferson Plácido, pianista de jazz reconhecido como uma das revelações do subúrbio carioca, tem uma relação especial com Nossa Senhora da Penha:
— Minha devoção à santa cresceu a partir de uma experiência pessoal marcante que mudou minha vida. Tocando jazz nos coretos da Igreja da Penha, com o incentivo do padre Tiago Sardinha, consegui unir fé e música. Hoje, sinto que Nossa Senhora da Penha abençoa minha arte diariamente, fortalecendo meu trabalho como artista independente — explica Plácido.
A devoção a Nossa Senhora da Penha de França chegou ao Brasil no século XVI, vinda de Portugal, e se espalhou inicialmente pelo Espírito Santo, com registros de festas já em 1570. No Rio de Janeiro, começou a se consolidar em 1635, associada a um suposto milagre do capitão Baltazar de Abreu Cardoso: ao subir o penhasco, ele foi surpreendido por uma serpente e, ao clamar pela proteção da santa, um lagarto surgiu e enfrentou o animal, salvando sua vida. Em agradecimento, o capitão teria iniciado a devoção no alto do morro, dando origem a uma tradição que completa 390 anos em 2025.
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— É uma das manifestações religiosas mais antigas do Brasil, contemporânea ao Círio de Nazaré. A devoção se popularizou como lugar de milagres e ganhou ainda mais destaque a partir de 1763, com a transferência da capital para o Rio de Janeiro e a chegada da família real portuguesa — explica o historiador Rafael Mattoso, que ministra curso no Sesc de Ramos sobre a história da igreja e do território da Penha.
Em 1728, foi criada a Irmandade de Nossa Senhora da Penha. Décadas mais tarde, em 1817, os devotos Maria Barbosa e o marido mandaram erguer a escadaria de 382 degraus em agradecimento pela graça de terem um filho. No início do século XX, a igreja passou por grande reforma, incluindo a construção das duas torres e a instalação de um carrilhão com 25 sinos portugueses, adquiridos na Exposição do Centenário da Independência.
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— São sinos que simbolizam aquele centenário e que ecoam do alto da Penha para toda a região do subúrbio da Leopoldina — destaca Mattoso, lembrando que a festa sempre uniu o sagrado e o profano.
Romeiros chegavam de diferentes regiões a cavalo, de barco ou de trem, transformando o bairro em ponto de encontro e peregrinação. Aos pés do penhasco, multiplicavam-se barracas, piqueniques, comidas típicas, rodas de samba e manifestações culturais. Personagens como Tia Ciata, Pixinguinha, Donga, Cartola, Noel Rosa e Ismael Silva frequentavam o evento. Não por acaso, foi na Festa da Penha que Donga apresentou pela primeira vez, em 1916, o samba “Pelo telefone”. Mais tarde, nomes como Luiz Gonzaga, Beth Carvalho e Gilberto Gil também eternizaram a devoção em canções.
No século XIX, a festa chegou a ser comparada em importância ao carnaval e à Festa do Divino Espírito Santo. A Penha também se tornou símbolo de resistência: na virada do século XIX para o XX, o pároco padre Ricardo, abolicionista, ficou marcado pela defesa dos escravizados, o que rendeu à região o apelido de Quilombo da Penha.
Hoje, a Festa da Penha é reconhecida como patrimônio religioso, histórico e cultural do Rio de Janeiro. Mais que uma celebração católica, tornou-se um emblema da identidade suburbana carioca e da mistura de culturas que marca a cidade.
A Penha é um marco estratégico da Zona da Leopoldina, área densamente urbanizada e com ar pouco renovado devido às serras. A Igreja da Penha, no alto da Serra da Misericórdia, se destaca como referência religiosa, histórica e ambiental. O nome Penha remete aos penhascos onde santuários dedicados à santa foram erguidos, tradição trazida de Portugal.
— Não é o carioquismo comercial, mas algo tangível — diz Hugo Costa, geógrafo e morador. — Ouvir a Ave-Maria das casas, ver a iluminação especial à noite, tudo contribui para a identidade carioca raiz.
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Costa gosta de mencionar duas curiosidades sobre a Penha: a tradição conta que a PUC-Rio, primeira universidade católica do país, teria sido planejada para o bairro; na época, porém, a Favela da Gávea havia sido removida, e o prefeito pretendia ocupar o terreno de forma nobre. Outra lembrança curiosa é o lançamento do Fiat 147 no Brasil, em 1976, cuja ação promocional incluiu subir a escadaria da Penha “provando que você não precisa pagar seus pecados” (no caso, em outubro daquele ano).
Costa também compartilha uma memória afetiva com a filha.
— Minha filha muito pequena viu uma pessoa subindo os degraus de joelhos e me perguntou o porquê. Expliquei sobre fé, perseverança e pertencimento. Depois, ela quis subir sozinha, cansou e me pediu para carregá-la nos ombros o restante do caminho. Foi meu dia de pagar uma promessa — diverte-se.
Para ele, a Penha simboliza resistência urbana e cultural, e a preservação do entorno é essencial para conciliar turismo, história e qualidade de vida.
Turismo, história e memória viva no subúrbio carioca
O pesquisador e guia suburbano Gabriel Capella enxerga a Festa da Penha como um espaço em transformação:
— Atualmente, a festa é mais vista como evento do bairro do que da cidade, mas há um movimento para resgatar esse protagonismo, sobretudo a partir da atuação do padre Thiago Sardinha — avalia.
Morador de Ramos, Capella criou roteiros turísticos que destacam a Penha como destino além do religioso, incluindo a Rua dos Romeiros, o Monumento Homens de Fibra e a Fazendinha da Penha. Ele ressalta a importância da memória afrocarioca e a subvalorização da própria Igreja da Penha como cartão-postal.
— Tudo passa por educação e valorização da história local. O turismo pode ser uma ferramenta importante, mas precisa vir acompanhado de políticas públicas — defende.
Ligado à música popular, Capella lembra que a Penha sempre inspirou o cancioneiro brasileiro.
— Fazer festa também é uma forma de promover o contato da cidade consigo mesma — resume.Vilson Luiz, guia de turismo do Complexo da Penha, fala sobre sua infância e o projeto Inpenhado:
— Crescer no Complexo da Penha significou liberdade e conexão com o território. O adro da Igreja da Penha, que chamávamos de “Irmandade”, era nosso ponto de encontro, um dos poucos espaços planos no alto do morro — lembra.
O interesse dele pelo turismo surgiu na infância, observando visitantes no bairro, e se transformou no projeto, criado em 2022, que promove caminhadas e vivências culturais mostrando a história, a religião e a cultura local a partir da perspectiva de quem mora ali.
— O que mais surpreende os turistas é a profundidade histórica, que eles desconhecem. Chegam para ver uma igreja e descobrem a história indígena, quilombola e afrodescendente do Rio de Janeiro, contada por quem ama este lugar — explica.
O projeto também gera renda e engajamento comunitário, como a baiana do acarajé que recebe os grupos, ou crianças que passam a enxergar seu bairro com orgulho. Vilson Luiz recorda:
— Pegávamos tamarindo das árvores ao redor da igreja, fazíamos polpa e vendíamos o suco para os visitantes. Foi assim que aprendemos que a história e a cultura podem ser vividas e compartilhadas de forma concreta.