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quarta-feira, novembro 26, 2025

Energia renovável é estratégica na geopolítica, diz executivo

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A vulnerabilidade das cadeias de suprimentos e a instabilidade geopolítica global observadas nesta década, primeiramente com a pandemia e depois com a invasão da Ucrânia pela Rússia, tornaram a segurança energética um tema de prioridade máxima para governos em todo o mundo. Nesse contexto, o avanço para o uso de fontes renováveis virou estratégica, segundo o diretor de assuntos internacionais da Octopus Energy, Chris Fitzgerald. No entanto, há uma reação considerável de países e agentes econômicos ligados ao setor de combustíveis fósseis que pôde ser vista tanto na COP30 quanto nas conferências anteriores da ONU sobre mudanças climáticas.

“O debate na COP30 sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis demonstra o quão profundamente os sistemas energéticos mundiais estão enraizados na infraestrutura e nos interesses dos combustíveis fósseis, apesar de as energias renováveis serem mais baratas hoje”, afirma Fitzgerald.

“Nossos sistemas energéticos atuais foram construídos em torno dos combustíveis fósseis, e as empresas que se beneficiam deles têm interesse em manter o status quo. Mas o mundo está mudando rapidamente.”

Antes de se tornar diretor da Octopus, empresa de tecnologia fundada há dez que se tornou a maior intermediadora de energia limpa do Reino Unido e já tem presença em quatro continentes, Fitzgerald foi diplomata do Reino Unido e exerceu a função de secretário particular adjunto do rei Charles, defendendo a agenda da sustentabilidade em diversas conferências globais, incluindo as COP26 e COP28 e cúpulas do G7 e G20. Também assessorou o Conselho de Segurança Nacional do Reino Unido em crises e estratégias nas áreas de defesa e política externa.

“Os altos preços dos combustíveis fósseis e a guerra na Ucrânia mostraram como a energia pode facilmente se transformar em arma política e causar grandes impactos nos preços para os consumidores. Já o sol e o vento não podem ser usados como armas da mesma forma, o que significa mais segurança e contas estáveis para as famílias”, afirma.

Ele defende que a resiliência das energias limpas não é apenas econômica e política, mas também física ao comentar uma iniciativa da Octopus na Ucrânia em colaboração com a DTEK, a maior empresa de energia do país, que está em guerra com a Rússia. Nessa parceria, a Octopus participa fornecendo o sistema operacional da companhia, que, segundo Fitzgerald, fortalece a resiliência energética de uma nação.

A DTEK, que é a provedora de energia de fato, optou por instalar painéis solares ao redor do país como alternativa à infraestrutura energética atingida pelos ataques russos.

“Enquanto um míssil pode destruir uma termelétrica de 300 MW, são necessários 50 mísseis para causar o mesmo impacto em um parque eólico”, diz Fitzgerald, apontando a Ucrânia como exemplo de que o aumento da capacidade de uso de energias renováveis também pode ser importante como estratégia de segurança.

Ele também reforça o aspecto econômico como vantagem. Fitzgerald cita um relatório recente chamado “Eletrotech Revolution” que aponta que a energia solar já oferece a eletricidade mais barata da história, chegando a US$ 20 por megawatt-hora (MWh) em regiões ensolaradas. O relatório foi elaborado por uma empresa chamada Ember, que faz estudos e divulga dados favoráveis ao aumento do uso de energias renováveis.

A Octopus Energy e a Ember estão financeiramente interessadas na aceleração da transição energética para fontes renováveis, objetivos que estão alinhados com o que cientistas climáticos defendem dentro e fora da COP30.

“Nós estamos numa crise climática muito grande. Temos que reduzir muito, a jato, o uso de combustíveis fósseis, pois 75% das emissões dos gases de efeito de estufa proveem dessa fonte”, disse ao Valor durante a COP30 o cientista Carlos Nobre. “Não tem nenhuma justificativa para nenhuma nova exploração de carvão, poços de petróleo ou gás natural em nenhum lugar do mundo, principalmente porque o preço da energia eólica e solar hoje já é um terço mais barato comparada a energia vinda de combustíveis fósseis.”

Em meio às divergências que têm atrasado a demanda dos cientistas pela definição de um roteiro claro para abandonar fontes como petróleo e gás, Fitzgerald destaca o papel de liderança de países emergentes como Brasil e China na transição energética. “É importante ressaltar que a revolução energética não se resume só aos EUA. A China está liderando a produção e a implantação de energias renováveis e até países do Oriente Médio, historicamente conhecidos por seus vastos recursos de combustíveis fósseis, também estão fazendo grandes investimentos”, diz.

Ele afirma ainda, novamente citando o relatório da Ember, que 63% da demanda por eletricidade nos mercados emergentes ultrapassou a dos EUA em energia solar. “Essa mudança ocorre por razões econômicas, não ideológicas e ocorre com ou sem a liderança dos EUA.”

Fitzgerald reconhece que ainda é preciso aumentar a escala da geração de energias renováveis para que seja possível abandonar de vez os combustíveis fósseis. “As energias renováveis, como a solar e a eólica, poderiam suprir 75% da demanda global de energia se investirmos em grande escala. Isso não é bom apenas para o clima. É bom também para o bolso das pessoas”.

Questionado sobre a expectativa de que a transição energética avance efetivamente a partir das COPs, o executivo lamenta que a presença constante de lobistas ligados aos combustíveis fósseis tende a atrasar a agenda. De acordo com levantamento da organização internacional Global Witness, a COP30 bateu o recordo de lobistas do setor credenciados na zona azul, onde as delegações oficiais negociavam, seguindo o que tem acontecido ano a ano na conferência da ONU.

“Com a COP30 reunindo um número recorde de lobistas de combustíveis fósseis, existe uma preocupação real sobre se essa transição priorizará os consumidores ou apenas protegerá as empresas já estabelecidas. Se esses lobistas apresentarem soluções genuínas que ajudem a tornar a energia mais limpa e barata para todos, isso será positivo. Mas o foco precisa estar em mudanças reais e duradouras, não em manter o status quo”, conclui Fitzgerald.

[Fonte Original]

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