A PremieRpet tem acelerado sua estratégia de sustentabilidade, ampliando programas de logística reversa, investindo em energia limpa e reforçando compromissos de descarbonização com a compensação das emissões de gases de efeito estufa que ainda não conseguiu reduzir — via compra de créditos de carbono e reciclagem.
Entre 2018 e 2024, a companhia compensou 8.863 toneladas de resíduos, evitando a emissão de 5.500 toneladas de dióxido de carbono (CO₂). Com isso, em 2025, todos os produtos das linhas PremieR, GoldeN, VittA Natural e Natoo passaram a carregar o selo Carbon Free.
Nas emissões diretas da operação, o gerenciamento de uso e fontes de energia é a estratégia central. Fernando Torres Maluf, vice-presidente de Exportação e Sustentabilidade da PremieRpet, comenta que toda a produção já é abastecida com energia solar, após investimento de R$ 940 milhões na fazenda de fonte renovável do Complexo de Castilho, operada pela Comerc Renew, braço de geração do Grupo Comerc, no interior de São Paulo. O contrato abastece a planta de Dourado (SP) — que conta com três fábricas (rações secas, úmidas e cookies) — e a nova planta de Porto Amazonas (PR), cujas operações tiveram início em maio de 2022.
Além da energia solar, a empresa utiliza biomassa na geração térmica. “Óleo e gás são os mais comuns, mas nas caldeiras secadoras usamos biomassa de eucalipto. Fazemos isso há muitos anos”, diz. A companhia opera com a fonte renovável nos fornos desde o início dos anos 2000, impulsionada por diretrizes internacionais e por oportunidade local. A biomassa vem de plantações de eucalipto certificado. “Temos quase 100% de energia renovável. Só temos um forno da fábrica de produção de cookies que ainda opera a gás natural. Agora vamos começar a entrar no escopo 3, a partir, por exemplo, do mapeamento das emissões de transporte”, conta Maluf.
Para os produtos de exportação — clientes mais “exigentes” —, a empresa já mensura o escopo 3. “Para a nossa linha de exportação, as credenciais de sustentabilidade são importantes”, aponta. Nos Estados Unidos, por exemplo, a loja do grupo na Amazon já conta com o certificado “Friendly Pledge”, programa da varejista que dá destaque a produtos que ajudam a preservar o meio ambiente. Embora a exportação ainda seja pequena, Maluf afirma que ela tem crescido desde 2021.
Outra frente é a construção mais eficiente no uso de recursos naturais. A companhia opera três fábricas em Dourado (SP), todas certificadas com o selo LEED Gold — a de cookies e a de secos já possuem o certificado há mais tempo, e a de úmidos acaba de recebê-lo. O selo atesta eficiência energética e bem-estar dos funcionários. “O selo LEED traz funcionalidade, diminui emissões de gases e uso de energia”, explica Maluf. A expectativa é que a planta de Porto Amazonas, construída com padrões do LEED Gold, receba o certificado no próximo ano, após meses de auditoria para comprovar a aplicação das práticas sustentáveis.
O executivo ressalta que os projetos priorizaram iluminação natural, circulação de ar adequada e soluções estruturais voltadas para segurança e ergonomia. A estrutura, por exemplo, foi pensada para ter espaços de luz ambiente para que as pessoas percebam o dia, mas com teto translúcido para reduzir a necessidade de iluminação artificial. Algumas estruturas, como lagoas técnicas, também são utilizadas tanto para qualidade de vida no entorno quanto para prevenção de incêndios, formando uma barreira natural ao avanço de possíveis focos de fogo.
A logística reversa é feita com a cleantech Pólen desde 2016, garantindo rastreabilidade da reciclagem, apoio a cooperativas e impacto social direto. “Os catadores são apoiados pela organização e há uma grande parte de mulheres. Emitimos nota fiscal e revertemos para os catadores”, conta.
Nas linhas de produtos mais naturais, a empresa atingiu 100% de compensação de embalagens. “Os catadores coletam o mesmo peso de embalagens de produtos que colocamos no mercado”, diz Maluf. A conta é feita pelo peso das embalagens.
A empresa também está estruturando a área de coprodutos para buscar mais uma certificação, a de lixo zero. “Estamos começando a buscar a certificação de lixo zero. Hoje chegamos a 97% de reaproveitamento”, afirma.
Além da compensação, a empresa investe em projetos ambientais. A linha internacional Natoo, por exemplo, teve 100% das embalagens compensadas desde 2023, com impacto no Mato Grosso do Sul, região estratégica para a conservação da onça-pintada. Em 2024, foram 35,6 toneladas de plástico compensadas, evitando 22,43 toneladas de CO₂ equivalente.
A compensação de carbono é feita pela compra de créditos por meio da parceira Carbon Free Brasil. Em 2024, o foco esteve em créditos vindos da reciclagem de plásticos que iriam para os oceanos e, mais recentemente, em projetos de fogões limpos para famílias na África. “O primeiro ano foi reciclagem de plástico. Agora [vamos] ajudar a criar fogão para famílias na África”, afirma. Muitas famílias africanas, sem opção, usam fogões rústicos ou fogueiras abertas com lenha, carvão ou querosene, prejudicando a saúde e contribuindo para o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis.
Questionado sobre como atesta a integridade dos projetos, Maluf diz que a escolha de parceiros segue o mesmo rigor das auditorias internas. “Sustentabilidade tem que ser negócio. Confiar que está sendo um trabalho bem feito”, explica.
Quanto à rastreabilidade dos insumos, o executivo afirma que a empresa adota auditorias constantes em fornecedores e vem aperfeiçoando processos internos. “Nosso time de suprimentos faz auditoria nos fornecedores. Temos checklists próprios e auditorias independentes”, diz. Para ele, esse processo funciona como referência no setor. “Para o fornecedor, passar pelo nosso crivo virou benchmark; é um processo maçante e caro, mas é selo de qualidade no mercado.”
Riscos climáticos e adaptação
Questionado sobre o acompanhamento dos riscos das mudanças climáticas nos negócios, o executivo conta que, em 2024, os incêndios que se alastraram pelo estado de São Paulo chegaram muito próximos de suas fábricas. “Fizemos protocolo de emergência”, comenta. A empresa reforçou sistemas de drenagem, segurança hídrica e monitoramento. “Temos uma canaleta que consegue escoar um grande volume e há um açude perto das fábricas para o fogo não pular [que funciona como barreira natural]”, explica.
Dependente de grãos e proteína animal para sua produção, o risco climático também pode gerar problemas no abastecimento de ingredientes. Com isso, a companhia passou a fazer revisões na cadeia de fornecimento. “Acompanhamos, por exemplo, o mapeamento do número de aves abatidas para, se necessário, buscar proteína alternativa, proteína de alto índice proteico para fechar a fórmula [dos produtos], tomando cuidado para que a qualidade não seja alterada”, diz Maluf.
A governança corporativa também vem sendo aperfeiçoada. Segundo Maluf, o conselho de administração da empresa agora tem membros externos, e o grupo é auditado por uma grande firma internacional. De acordo com ele, são seguidos padrões próximos aos de empresas de capital aberto.
Para Maluf, que tem vivência no exterior e formação em escolas de negócios na Europa e nos Estados Unidos, fica cada vez mais claro que as práticas sustentáveis precisam ser autênticas e coerentes com a estratégia de negócio para se sustentarem ao longo do tempo. “Sustentabilidade tem que ser modelo de negócio positivo na empresa.”
Entre os projetos de responsabilidade social corporativa, a marca lançou edições especiais dos produtos em parceria com a ONG Onçafari, que promove a biodiversidade e o cuidado de onças. “Lançamos uma edição especial de uma das linhas com as embalagens estampadas de onça. Com isso, conseguimos direcionar R$ 250 mil para o Pantanal, e em 2024, um dos anos em que o bioma mais queimou.” O recurso, segundo ele, foi canalizado para combate, para um recinto de animais resgatados e também para ecopousadas, que ajudam na conscientização e a levantar recursos para a organização.