Grupo de trabalhadores escravizados em plantação de café no Vale do Paraíba, c. 1882 (Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles)
Os caminhos das ideias que criamos, ou pensamos que criamos, sempre se apresentaram como um drama local. Analisando o imaginário do início da colonização, em seu clássico estudo Visão do paraíso, o historiador Sérgio Buarque de Holanda falou em “ideias migratórias”: “Sendo as ideias frutos dos modos de produção ocorridos em determinada sociedade, bem podem deslocar-se para outras áreas onde não preexistam condições perfeitamente idênticas, e então lhes sucederá anteciparem nelas, e estimularem, os processos materiais de mudança social. Ora, assim como essas ideias se movem no espaço, há de acontecer que também viajem no tempo, e porventura mais depressa do que os suportes, passando a reagir sobre condições diferentes que venham a encontrar ao longo do caminho”.
Roberto Schwarz também estava interessado nas formas que tomavam essas ideias que viajam, que surgem e ressurgem em diferentes lugares. Contam por aí que um dos títulos que o crítico literário pensou para seu mais famoso ensaio, “As ideias fora do lugar”, foi “Esquisitices brasileiras”. Tivesse sido esta a escolha, boa parte da comédia de erros em torno do ensaio teria sido evitada. Por outro lado, muito da força eletrizante acionada pelo lugar-comum do título, uma expressão quase coloquial, deixaria de exercer seu efeito de estranhamento em um texto que trabalha diferentes dicções: ensaio de historiador, ironias modernistas, análise literária à la Antonio Candido, inversões machadianas, rigor conceitual adorniano.
“Ideias fora do lugar” se to
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »