Logo depois de completar um ano de vida, Absolute Batman, a primeira HQ do extremamente bem sucedido Universo Absolute da DC Comics ganha seu primeiro anual, seguindo o padrão desse tipo de publicação que as duas grandes editoras de quadrinhos dos EUA adoram fazer, ou seja, um compilado de histórias que não necessariamente remetem à continuidade da narrativa principal, trazendo equipes criativas diferentes e um número de páginas consideravelmente maior do que o das edições mensais. Aqui, são três histórias em 50 páginas, ou, talvez melhor dizendo, duas histórias em 48 páginas e um adendo de duas páginas que parece completamente perdido, mas que não faz mal algum estar lá.
E, como tudo em Absolute Batman, a palavra de ordem é exagero ou, talvez, “exagero elevado ao cubo” substituindo todo e qualquer semblante de histórias que sejam mais do que pura pancadaria para o marombadíssimo novo Homem-Morcego cometer toda a sorte de atos de violência contra seus inimigos. Nick Dragotta recriou o super-herói não exatamente como um brutamontes musculoso, mas sim como uma caricatura de um brutamontes musculoso, o que, obviamente, é toda a licença poética necessária para fazer o que ele bem entender a partir dos roteiros de Scott Snyder, também completamente sem freios nessa versão “pobre, mas que não parece nada pobre” de Bruce Wayne. E o que o primeiro anual poderia fazer que não dobrar essa aposta no puro exagero caricatural?
Pois é exatamente isso que acontece na primeira e principal história da HQ, com roteiro e arte de Daniel Warren Johnson, uma escolha absolutamente perfeita para a proposta, pois ele é um dos poucos desenhistas atuais com a habilidade de facilmente fazer o Batman de Dragotta parecer um franguinho. Afinal, DWJ foi capaz de, sozinho, segurar todo o roteiro e a arte da nova mensal dos Transformers, na Skybound/Image Comics, trabalhando com escalas absolutamente impressionantes para os robozões de Cybertron. E, aqui, ele faz o mesmo com o Batman, ao colocar o herói, prestes a fazer uma compra de armamentos ainda bem no começo de sua carreira de vigilante, contra uma gangue de neonazistas que pretende destruir um campo de refugiados. Não é necessário muito roteiro para justificar o espancamento extremo de supremacistas brancos, não é mesmo? Especialmente no cenário geopolítico atual…

Pois DWJ sabe muito bem disso e, depois de uma introdução com Bruce jovem ouvindo do pai que ele tentou ajudar o mundo a ser melhor sendo professor e indagando ao filho o que ele pretende fazer, somente para que a página seguinte seja uma cinematográfica splash page em que vemos Batman, com um lança chamas, fazendo churrasco de nazistas com uma bandeira supremacista no fundo. Em seguida, ele retrocede um pouco no tempo para mostrar como o herói chegou até esse ponto sem tirar o pé do acelerador um minuto sequer, em uma daquelas histórias que, mesmo tendo zero de conteúdo, dá um prazer enorme de ler (folhear seria a palavra correta, pois não há muito para ser lido). Com seus marcantes traços sujos e rabiscados e sem nenhum receio de fazer do Batman uma massa disforme de músculos e de seus golpes verdadeiras marretadas que esmigalham ossos, DWJ cria um deleite visual imperdível.
E é talvez em razão da arte de Daniel Warren Johnson já na primeira história, que a segunda, com roteiro e arte de James Harren, tenha menos efeito. Harren, claro, está mais do que acostumado também a lidar com criaturas gigantes, bastando conferir seu maravilhoso épico Ultramega, mas, aqui, sua pegada é consideravelmente mais contida na comparação com o que veio imediatamente antes. Também não ajuda que a estrutura seja a mesma, ou seja, Batman saindo na pancada com uma gangue de vilões com máscara de caveira que se refugiam em uma igreja, com direito ao líder deles tomar algum soro à la Bane que o faz ficar enorme. Em outras palavras, é a mesma coisa de novo, só que sem nazistas, o que tira metade da graça e sem o mesmo nível de arroubos caricaturais de DWJ. Ainda é um bom passatempo, especialmente porque o Batman de Harren se parece demais com The Maxx, de Sam Kieth, mas não mais do que isso.
Na terceira história, aquela que eu mencionei que parece perdida na HQ, Meredith McClaren faz uma espécie de livro para crianças sobre morcegos que, claro, conta com o Batman aparecendo de relance aqui e ali. Não é nada que mereça destaque ou mais comentários do que os que já fiz, mas é como uma freada brusca depois de tanta violência. No final das contas, o primeiro Anual de Absolute Batman é exatamente como a série mensal, ou seja, todo o destaque possível para o Batman anabolizado destroçando seus inimigos e nenhum destaque para a história. Divertido, mas descartável.
Absolute Batman: Anual 2025 (Absolute Batman 2025: Annual #1 – EUA, 2025)
Roteiro: Daniel Warren Johnson (história 1), James Harren (história 2), Meredith McClaren (história 3)
Arte: Daniel Warren Johnson (história 1), James Harren (história 2), Meredith McClaren (história 3)
Cores: Mike Spicer (história 1), Dave Stewart (história 2)
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Sabrina Futch, Andrew Marino, Katie Kubert
Editora: DC Comics
Data original de publicação: 29 de outubro de 2025
Páginas: 50