O dólar à vista registrou leve queda nesta terça-feira, em um dia em que a moeda americana não teve um direcionamento claro na maioria dos mercados mais líquidos. Ainda que a dinâmica global dos mercados tenha sido por maior aversão a risco, o dólar não foi beneficiado por esse movimento, indicando que a divisa americana pode estar perdendo um pouco do status de “porto seguro” e que os agentes financeiros podem não querem montar posições direcionais em dólar às vésperas da divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos. O elevado custo da posição comprada em dólar contra o real também pode ter limitado uma piora mais forte da moeda brasileira, conforme leitura de traders.
Encerradas as negociações desta terça-feira, o dólar à vista fechou negociado em queda de 0,26%, cotado a R$ 5,3177, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,3151 e encostado na máxima de R$ 5,3457. O euro comercial recuou 0,23%, a R$ 6,1610. Perto das 17h15, no exterior, o índice DXY rondava a estabilidade, em queda de 0,05%, aos 99,540 pontos.
O dólar à vista abriu as negociações de hoje em alta, mas recuou na parte da tarde. O sentimento de aversão a risco se manteve presente nas negociações, ainda que a dinâmica não tenha sido bem replicada nos mercados de câmbio. Com metade das moedas mais líquidas fortalecidas frente ao dólar e a outra metade enfraquecida, gestores disseram, em condição de anonimato, que o movimento pode ter sido um indicativo de afastamento dos investidores globais de exposições direcionais ao dólar, às vésperas da divulgação de dados de emprego nos EUA, na quinta-feira.
O diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, diz, em nota, que o mercado global manteve cautela nas negociações de hoje por conta da incerteza acerca da política monetária do Federal Reserve (Fed) e com relação aos resultados das empresas de tecnologia. Oliveira lembra que hoje foram apresentados os pedidos de seguro-desemprego nos EUA até o dia 18 de outubro, que reforçaram a percepção da desaceleração do mercado de trabalho americano. Segundo dados do governo americano, 232 mil pessoas pediram auxílio-desemprego no período. “Neste contexto, nos últimos dias, o dólar global (DXY) tem ganhado valor com relação às moedas de mercados desenvolvidos, enquanto as moedas de mercados emergentes têm comportamento misto.”
Oliveira também aponta que a posição comprada em dólar contra o real no mercado de derivativos da B3 aumentou cerca de US$ 13 bilhões em outubro, mas que esse movimento não necessariamente significa uma piora na perspectiva sobre o real e sobre o Brasil. “Na maior parte do tempo, a variação reflete ajustes de hedge em ambiente de maior volatilidade global, realocações táticas de portfólio ou rebalanceamentos automáticos de estratégias sistemáticas — e não visão direcional de depreciação do real”, diz.
Na avaliação do economista, fatores como a melhora dos termos de troca e o elevado diferencial entre a taxa de juros doméstica e as taxas internacionais seguem ancorando o comportamento relativamente benigno do real ao longo do ano. “Mantemos a projeção de apreciação adicional da moeda brasileira nos próximos trimestres.”
Outro banco que mantém uma visão construtiva sobre o real é o HSBC, cuja projeção de câmbio para o fim deste ano saiu de R$ 5,40 para R$ 5,30 por dólar. “O real está atualmente se beneficiando do forte ‘carry-to-vol’, e nós esperamos que o dólar oscile entre os níveis de R$ 5,25 e R$ 5,45 no fim deste ano. No entanto, o início de 2026 pode trazer desafios [ao câmbio] devido ao posicionamento mais pesado e aos riscos fiscais e de pesquisas eleitorais”, diz a equipe de estratégia de câmbio para América Latina do HSBC, comandada por Joseph Incalcaterra. “De todo modo, vemos o ‘copo mais cheio’, com o dólar caindo para os níveis de R$ 5,00 no fim do próximo ano.”