O dólar à vista exibiu leve queda nesta quinta-feira, num dia em que os agentes financeiros ajustaram suas perspectivas sobre os cortes de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho americano pela empresa Challenger abriu espaço para que os investidores passassem a ver mais chances de um novo corte nas taxas dos Fed funds em dezembro.
Embora isso tenha dado um viés de enfraquecimento para o dólar em boa parte do pregão, houve também fatores que contiveram a melhora do real, como uma aversão leve a ativos de risco, com os índices acionários de Wall Street em queda, além de uma pressão sobre moedas ligadas a preços de commodities, em dia que as cotações dessas matérias-primas caíram.
Encerradas as negociações do mercado à vista nesta quinta, o dólar fechou negociado em queda de 0,24%, cotado a R$ 5,3479, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,3308 e batido na máxima de R$ 5,3628. Já o euro comercial registrou valorização de 0,27%, a R$ 6,1739.
No exterior, perto das 17h05, o índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de seis moedas de mercados desenvolvidos, recuava 0,47%, aos 99,728 pontos.
O pregão de hoje iniciou com o dólar mais fraco frente ao real, o que foi visto como um misto de alívio externo e sustentação local por conta dos juros elevados no Brasil e pelo discurso conservador do Banco Central em sua decisão, ontem. Da parte externa, dados mais fracos do mercado de trabalho levaram a um ajuste nas perspectivas de corte de juros pelo Fed. A notícia de que as empresas americanas cortaram 153 mil vagas no mês passado, segundo dados da Challenger, Gray & Christmas, abriu espaço para a queda dos rendimentos dos Treasuries e do dólar.
Ao longo da manhã, no entanto, o dólar foi reduzindo sua depreciação, também em linha com pares emergentes, no que se assemelhava a um distanciamento dos investidores globais dos ativos de risco e das moedas ligadas a preços de commodities.
O economista-chefe para América Latina da Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, diz em nota que o real provavelmente permanecerá dentro de uma faixa limitada no curto prazo, sustentado pelos altos rendimentos do “carry” (diferencial de juros) e inflação em queda, mas contido pela incerteza fiscal, pelo dólar forte e pelos riscos políticos. “Investidores estrangeiros continuam cautelosos em relação ao trajeto fiscal do Brasil, atentos à possibilidade de novos impostos e à saída de dividendos no fim do ano”, afirma.”
Para ele, a reeleição de Lula pode aumentar os riscos fiscais e interromper os cortes de juros, pressionando o real. Enquanto “um candidato mais favorável ao mercado poderia restaurar o impulso e atrair capital”, diz.
Por conta principalmente do diferencial de juros e do cenário externo mais favorável, a XP Asset Management tem posição comprada real contra o dólar e posição comprada em real e vendida em bolsa.
“Não é que temos uma visão pessimista com a bolsa, estávamos comprados nela [apostando na valorização] até fim do mês passado”, diz Bruno Marques, gestor macro da casa. “Mas a bolsa teve uma performance superior ao câmbio. Enquanto o real ficou parado nos últimos dois meses, a bolsa subiu cerca de 8%. Então, tem carrego duplo nessas posições, e ficamos liquidamente neutros no Brasil”, explica.
Ele diz que o cenário externo deve continuar favorável, com a economia americana ainda exibindo bons números, mas com o Fed preparado para dar algum suporte por meio de corte de juros caso seja necessário. “É uma economia que estava fraca no começo do ano, mas agora está mostrando um crescimento mais sólido. Por outro lado, o mercado de trabalho está desacelerando, e se isso piorar, o Fed deve cortar juros”, afirma. No lado da moeda brasileira, o diferencial de juros deve continuar dando suporte ao real, diz o gestor. “Esse diferencial de juros alto tem feito a diferença. Você pode dividir o ganho do câmbio em duas possibilidades: pode ter o ganho de capital, quando sai de um nível e vai para outro; ou pode ter o ganho do carrego. Achamos que o ganho de capital é limitado nesse nível de R$ 5,35, mas tem um carrego positivo”, afirma. “Por isso estamos carregando essa posição.”