O Brasil investe 1,19% do Produto Interno Bruto (PIB) em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), segundo os dados mais recentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sendo metade do setor privado. Este percentual, registrado em 2022 e 2023, coloca o país a larga distância de nações que são referência em inovação, como Israel (investimento de 6,35% do PIB), Coreia do Sul (4,96%), Estados Unidos (3,45%), Alemanha (3,11%) e China (2,58%).
Outro levantamento, o Índice Global de Inovação (IGI), calculado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), posiciona o Brasil, na edição de 2025, em 52º lugar numa relação de 139 países — uma queda de duas colocações em relação à lista de 2024, mas à frente do 62º lugar obtido há cinco anos. Seja qual for a medida, o que esses dados mostram é que, a despeito de ser a nona economia do mundo, há uma longa jornada a percorrer para o Brasil figurar entre as nações mais inovadoras.
E isso resulta em efeitos. “Inovação é fundamental para um país progredir”, diz José Maurício Caldeira, sócio e membro do Conselho de Administração da Colpar Brasil, holding que atua em vários segmentos, como agronegócio, indústria e urbanismo. “E inovar não significa só criar novos produtos, mas repensar processos, estratégias para agregar valor e até modelos de negócios”, complementa Caldeira.
A indústria, reconhecida como um dos setores mais inovadores da economia por ser o que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, tem se mostrado um caminho promissor. A rede de inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) tem se provado relevante para impulsionar as transformações necessárias no setor.
Segundo pesquisa da Universidade de Lund, da Suécia, realizada em parceria com dois institutos Fraunhofer (IPK e ISI), uma das organizações de pesquisa aplicada da Europa, a rede do Senai contribuiu com 0,66% do PIB ao longo de quase uma década desde que começou a funcionar, em 2012. O resultado ilustra o quanto a ciência vem se consolidando como um importante pilar do desenvolvimento do Brasil.
Existem 27 Institutos Senai de Inovação em funcionamento, espalhados por 13 unidades da federação. Entre 2012 e 2024, a rede viabilizou a realização de aproximadamente 3.350 projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com valor total próximo de R$ 3,15 bilhões. Eles resultaram em melhorias industriais significativas, impactando mais de 1.325 empresas ao elevar a produtividade e a competitividade, fatores importantes para o desenvolvimento econômico em um contexto industrial cada vez mais globalizado e digital
Vários projetos importantes estão sendo desenvolvidos nos Institutos Senai de Inovação, como a primeira bateria nacional de íon-lítio para eletrificação de veículos e a implementação do ciclo completo de produção nacional de ímãs de terras raras. Outros já saíram do papel, como um biocombustível de algas de usinas hidrelétricas e um veículo autônomo submarino para inspeções visuais em 3D em águas profundas para a produção de petróleo e gás.
“O Brasil precisa de mais espaços que sejam verdadeiros ecossistemas de inovação, onde academia e mundo real estejam juntos, de forma que as boas ideias com aplicação prática possam florescer”, acredita José Maurício Caldeira.
A implementação de linhas de crédito específicas com juros baixos para projetos inovadores é uma necessidade reconhecida. As agências de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Empresa Financiadora de Projetos (Finep), a Desenvolve SP e a Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii), desempenham um papel fundamental nesse processo, oferecendo suporte financeiro e estímulo ao desenvolvimento de iniciativas inovadoras.
Por fim, o Atlas da Inovação, publicação da Rede de Observatórios do Sistema Indústria e do Observatório Nacional da Indústria, mapeou os estados com mais ativos em ciência e inovação do país e os principais setores. Trata-se de uma amostra de onde e com que fim a inovação acontece.
Ao todo, 140 mil ativos foram listados, como laboratórios, incubadoras, patentes e centros de pesquisa. São Paulo destaca-se na quantidade de ativos (27,6% do total brasileiro), seguido por Rio Grande do Sul (10%), Minas Gerais (9,6%), Paraná (9%) e Rio de Janeiro (8,3%). Juntos, esses estados detêm 64,5% de todos os ativos em ciência e inovação do Brasil. Os principais setores são tecnologia da informação e comunicação, energia e saúde.
Em um cenário global cada vez mais competitivo, a capacidade de desenvolver novas tecnologias, processos e modelos de negócio influencia o ritmo de avanço dos países. “Para o Brasil, investir em inovação significa abrir caminho para o aumento da produtividade, da competitividade e da diversificação da economia, elementos-chave para sustentar o crescimento a longo prazo”, conclui José Maurício Caldeira.