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quinta-feira, novembro 27, 2025

Trabalho formal se mantém pressionado, apesar de ‘desaceleração suave’ em outubro, dizem economistas

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A dois meses do fim do ano, setores como indústria e agropecuária fecharam postos de trabalho, enquanto serviços seguraram o saldo positivo de 85,14 mil vagas com carteira assinada em outubro no Brasil. Esse é o pior resultado para o mês desde 2020. Economistas ouvidos pelo Valor veem uma tendência de desaceleração do emprego no país, principalmente em áreas sensíveis ao crédito. Por outro lado, o mercado segue pressionado e favorável ao trabalhador.

Os dados fazem parte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quinta-feira (27/11) pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O resultado de outubro ficou abaixo da estimativa mediana de instituições financeiras, gestoras de recursos e consultorias, de abertura líquida de 120 mil vagas, segundo o Valor Data. As projeções, todas positivas, iam de 100 mil a 135 mil.

Em entrevista à imprensa, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, afirmou que o desaquecimento do mercado de trabalho em outubro decorre da política de juros do Banco Central, e cobrou o Conselho Monetário Nacional (CMN) para que o órgão “observe as diretrizes dadas à autoridade monetária”, sob risco de haver uma “barbeiragem” na economia a partir de 2026.

O ministro afirmou que a Selic atual, em 15% ao ano, “não é a forma mais inteligente de monitorar a economia”. “Como não sou economista, tenho direito de dar palpites que não sejam exatamente o tiro no alvo”, ponderou, ao dizer que, desde maio, tem “chamado atenção” da autoridade monetária para o fato de que o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a taxa de juros, deve observar o desaquecimento no mercado de trabalho.

Segundo Marinho, “é urgente que o BC tenha a sensibilidade para olhar e entender que é necessário o processo”. “Daqui a pouco deixará de haver crescimento pequeno [na geração de vagas] e terá decréscimo real, e aí demora a acelerar novamente”, comentou o ministro.

Foram registradas 2,27 milhões de admissões contra 2,18 milhões de desligamentos no mês passado, também o pior resultado para o mês desde 2020, quando foi adotada a nova metodologia. O resultado líquido foi pior do que o de outubro do ano passado, quando houve a abertura de 131,6 mil vagas.

“Os dados do Caged de outubro apontam, de forma mais clara, que o mercado de trabalho começou finalmente a convergir para um ritmo de menor dinamismo, compatível com o atual grau de aperto monetário. Esse movimento já era esperado, dada a conhecida defasagem entre a política monetária e o mercado de trabalho — que, apesar da modernização trabalhista recente, ainda permanece mais rígido do que em economias desenvolvidas, respondendo de maneira mais lenta aos estímulos ou restrições monetárias”, complementa o diretor de relações institucionais da Polo Capital, Arnaldo Lima.

No acumulado do ano até outubro, o total de abertura líquida registrada foi de 1,8 milhão de vagas. O economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Fernando de Holanda Barbosa Filho, vê o cenário anualizado como positivo para o trabalhador. Ele descarta qualquer tipo de retração significativa na atividade formal e projeta que 2026 deve manter taxas mínimas de desemprego, mesmo com indicadores como o Caged mostrando desaceleração.

“A desaceleração é suave. Apesar da taxa Selic de 15%, estamos falando de um mercado de trabalho aquecido, com suas sazonalidades, com a indústria contratando mais em agosto e setembro como preparação para o Natal e reduzindo contratações em outubro”, exemplifica.

A composição de salários crescendo mais que a produtividade também é um bom sinal. O salário médio de admissão de novos empregados com carteira assinada ficou em R$ 2.304,31 em outubro, segundo o Caged — um aumento de R$ 17,28 em relação a setembro.

Por outro lado, para o economista da Tendências Consultoria, Matheus Ferreira, o fechamento de vagas na indústria é o pior destaque do Caged de outubro e reflete a dificuldade do setor em acessar crédito, dadas as condições de juros altos e a crise econômica mundial.

“O que mais me chamou a atenção é a perda de tração mais acentuada da indústria. Ela é um segmento bastante sensível às condições de crédito, e esse quadro de aperto monetário é nocivo para o setor. Observamos essa tendência se consolidar”, afirma. Ele destaca que, ao dessazonalizar os dados, a fotografia fica ainda mais clara: “Limpando o efeito sazonal, vemos saldo negativo na indústria total. O que aconteceu em agosto reverteu em setembro e se repetiu em outubro”, pondera.

Ao Valor, Ferreira prevê que a desaceleração do mercado de trabalho continuará até dezembro, como já previam economistas brasileiros desde o início do ano. Isso não significa, porém, que o mercado esteja em patamares ruins, mas em acomodação, com volatilidade mês a mês.

De acordo com os dados do Caged de outubro, três setores tiveram fechamento líquido de postos formais de trabalho. Além da indústria geral, que fechou cerca de 10 mil postos, houve retração na agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (9,9 mil) e na construção (2,8 mil). Por outro lado, houve abertura líquida em serviços (82.436) e comércio (25.592).

Já o saldo líquido positivo de abertura de vagas com carteira no acumulado do ano até outubro foi de 96,1 mil em serviços; 214,7 mil em construção; 305,6 mil na indústria geral; e 101,1 mil na agropecuária. Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas tiveram abertura líquida de 218 mil vagas.

O desempenho dos serviços segue trajetória oposta à da indústria, destaca Ferreira. “Diferentemente da indústria e do comércio, a criação de vagas nos serviços está aquecida, sustentada pelo fluxo de renda das famílias. O mercado de trabalho, em geral, ainda está bastante aquecido, com famílias consumindo e salários em níveis maiores”, diz o economista. Ele cita dinâmicas positivas em transporte, alojamento e alimentação, parte do setor de informação e comunicação e atividades financeiras.

Mesmo com saldo menor de vagas formais criadas, uma explicação para certo otimismo são os desligamentos a pedido, observa Bruno Imaizumi, da 4Intelligence.

A despeito dos setores mais sensíveis ao crédito, houve 9 milhões de pedidos de demissão que sinalizam ofertas de trabalho atrativas e maior movimentação dos trabalhadores.

Em outubro de 2025, foram registrados 785,3 mil desligamentos a pedido do trabalhador, valor 2% maior do que o observado no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, esses desligamentos ultrapassaram 9 milhões, valor recorde para a série histórica iniciada em 2024, destaca o boletim da consultoria.

“É muito possível que há gente sendo admitida em lugares mais vantajosos.” Com isso, há uma dinâmica de evolução que deve continuar em 2026, mas de maneira “mais comedida”, explica.

A consultoria projeta para 2025 a criação de 1,4 milhão de vagas formais e de 1,2 milhão para 2026, em razão de um PIB mais fraco no próximo ano.

“Vale lembrar que o mercado de trabalho formal brasileiro este ano tende a ser parecido com o de 2023, já que a economia desempenhará melhor via agropecuária e os juros elevados inibirão o crescimento de vagas formais de setores mais sensíveis ao crédito”, completa.

Entre os analistas, os resultados de outubro mantêm o consenso de que o Banco Central deve flexibilizar sua postura monetária a partir de janeiro.

Para Arnaldo Lima, é preciso esperar a PNAD Contínua, que será divulgada nesta sexta-feira, e que pode não revelar, de imediato, sinais tão nítidos de perda de dinamismo, que tendem a se materializar mais claramente no trimestre encerrado em dezembro.

Carteira de trabalho — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

[Fonte Original]

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