Flávio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler
Acessibilidade
A arte afro-brasileira de Jaime Lauriano nutre-se no profundo conhecimento do artista sobre as marcas que a colonização portuguesa deixou na sociedade brasileira, incorporadas no nosso bem velado racismo institucionalizado. A obra do paulista multimidiático de 40 anos é um constante desafio, um questionamento, um território de busca permanente. Conhecido como artista-cartógrafo, Lauriano literalmente “mapeia” sua busca em pinturas, objetos, esculturas, instalações, murais, trazendo à tona inverdades herdadas da história oficial, no que toca nossas minorias afro-descendentes e indígenas.
Hoje, ele que também é coautor com Lilia Moritz Schwarcz da “Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras”(2021), estará lançando o livro “Jaime Lauriano – Mapeando” (Nara Roesler Books, 2025), às 19 horas na Livraria Megafauna no Copan, com bate papo entre o artista, Sylvia Monasterios e Tadeu Chiarelli. No dia 2 de dezembro, a monografia será no Rio em nossa galeria, onde o artista, até meados de dezembro, expõe sua individual “Jaime Lauriano: Eu estou aqui com toda minha gente”.
Na visão da estudiosa venezuelana Sylvia Monasterios, autora de um dos capítulos: “A obra de Lauriano transcende o contexto nacional ao tecer conexões urgentes com as múltiplas geografias da diáspora africana. Seu trabalho não se limita a denunciar as violências do colonialismo brasileiro; ele as situa num circuito transatlântico de memória”. Em seu capítulo, Tadeu Chiarelli afirma de forma retórica: “O que são os trabalhos de Lauriano, senão a confirmação dessa necessidade de que, no campo das artes visuais, o artista afrodescendente reescreva a história e a história da arte a partir da problematização da retórica visual ocidental?”
Com um currículo com exposições internacionais em países como Estados Unidos e Rússia, Lauriano é um dos destaques da grande coletiva “Debret em questão – olhares contemporâneos”, que integra a Temporada França–Brasil 2025. A mostra inaugura no próximo dia 25 no Museu do Ipiranga, em São Paulo, com curadoria do sociólogo brasilianista, Jacques Leenhardt, e da paulistana Gabriela Longman.
Nas próprias palavras, o artista descreve três obras em sua individual em nossa galeria carioca:
Penca # 3, 2025
“Esta série é inspirada nas pencas de balangandãs, as joias crioulas dos séculos 18 e 19, consideradas um patrimônio da Bahia, da cultura afro-brasileira e da ourivesaria baiana. São das mais antigas manifestações artísticas afrodescendentes no país. Utilizei elementos da ritualística do candomblé e da umbanda para criar uma espécie de ofertório para a cultura afro-brasileira e sua resistência ao longo da História do Brasil”.
Na Bahia é São Jorge, no Rio São Sebastião, série Recanto, 2023
“Homenageio Heitor dos Prazeres (1898-1966), refazendo uma de suas famosas paisagens urbana do Rio. No céu, coloquei as ferramentas de quatorze orixás das religiões afro-brasileiras. Na calçada, fiz uma colagem que remete ao período colonial brasileiro e acrescentei adesivos do tridente de Exu, orixá da comunicação, criador do vazio e das possibilidades”.

Flávio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler
Jaime Lauriano, “Na Bahia é São Jorge, no Rio São Sebastião”, série Recanto, 2023, tinta acrílica, adesivos, miniaturas em chumbo e estampas sobre mdf, 120x140cm
Sem título (Senhor da noite e do dia), 2025
“É uma homenagem ao artista, político e ativista Abdias do Nascimento (1914-2011), inspirada em sua tela de 1980, ‘Quilombismo (Exu e Ogum)’. Nela, o preto e vermelho simboliza Exu, e o tridente em fita adesiva reflexiva prateada, o espelho”.

Flávio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler
Jaime Lauriano, Sem título (Senhor da noite e do dia), 2025, tinta acrílica e fita autoadesiva prateada sobre algodão, 70x50cm
A new and accurate map of the world: democracia racial, êxodo, genocídio e invasão, 2025
“A partir de mapas e cartas náuticas, a série recria uma das cenas mais emblemáticas da história recente da humanidade: as navegações e o ‘descobrimento do novo mundo’. É uma releitura dos esforços iniciais de representação do sistema de colonização, através da exploração do pau-brasil com a mão de obra indígena, o primeiro proletariado da construção do Brasil”.

Flávio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler
Jaime Lauriano, “A new and accurate map of the world, democracia racial, êxodo, genocídio e invasão”, 2025, pemba branca e lápis dermatográfico sobre algodão preto, 2 partes de 150x170cm cada
SERVIÇO
Livro “Jaime Lauriano: Mapeando” (2025, Nara Roesler Books)
-Lançamento em São Paulo: 27 de novembro de 2025, às 19h
Livraria Megafauna, Copan, centro
-Lançamento no Rio de Janeiro: 2 de dezembro de 2025, às 19h
Galeria Nara Roesler / Rio de Janeiro
Exposição “Jaime Lauriano: Eu estou aqui com toda minha gente”
Até 20 de dezembro de 2025
Galeria Nara Roesler / Rio de Janeiro
Jaime Lauriano na coletiva “Debret em questão – olhares contemporâneos”
Curadoria de Jacques Leenhardt e Gabriela Longman
De 25 de novembro de 2025 a 17 de maio de 2026
Museu do Ipiranga, São Paulo
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando filial no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
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